Reajuste de bolsas na pós-graduação, por Bruno Queliconi

carteira de estudante

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* Por Bruno Queliconi, doutorando do Instituto de Química da USP

As bolsas de pós-graduação nunca pagaram muita coisa aos estudantes, mas o valor era suficiente para viver nas proximidades da universidade de maneira modesta e justa. Entretanto, nos últimos quatro anos, a inflação comeu uma parte considerável do poder de compra dessas bolsas (a inflação soma mais ou menos 25% no período), enquanto a bolsa não aumentou nada.

Com isso, praticamente todos os estudantes que se formam em carreiras com uma mínima vocação industrial (Farmácia, Química, Matemática, Física, Engenharia, entre outras) segue para indústria. Nas empresas privadas um estagiário recebe por volta de R$ 1,5 mil até R$ 2,1 mil, e um recém-formado começa ganhando no mínimo R$ 1,8 mil.

Esses valores afastam os estudantes da opção da pós-graduação. Ainda na faculdade, um aluno que faz iniciação científica (uma espécie de estágio em pesquisa) recebe míseros R$ 350. No mestrado a bolsa é de R$ 1,2 mil. Somado a isso o último reajuste ocorreu em 2008 e depois foi prometido um novo aumento, que nunca ocorreu.

Esse descaso com o valor pago aos pós-graduandos contrasta com a política do CNPq de valorizar o pesquisador brasileiro, incentivar a pesquisa e fornecer melhores condições para o trabalho. Infelizmente muitos conhecidos meus, antes encantados com a ciência, agora trabalham no que conseguem porque precisam de dinheiro para sobreviver e o valor que recebemos para fazer pesquisa não consegue suprir necessidades básicas.

Aqui no IQ temos diversas ideias sobre como isso poderia ser melhorado de vez, mas gostaria de finalizar esse texto citando uma que acho a mais interessante. Uma das melhores coisas que aconteceu no País foi a fixação do aumento do salário mínimo à soma da inflação com o PIB, e todos sabemos o quanto isso vem melhorando a qualidade de vida da população das classes baixas. Por que não fixar o valor da bolsa em número de salários mínimos?

Por exemplo: 3 salários mínimos (mais ou menos R$ 1,8 mil) para mestrando, crescendo progressivamente até 6 salários mínimos para doutorando (R$ 3.732,00) e depois 8 salários mínimos para pós-doutorando (R$ 4.976,00). Assim, teríamos uma remuneração justa e que aumentaria automaticamente, mantendo o pesquisador sempre valorizado, o que é essencial para o crescimento sustentável de qualquer economia.

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo.