ANPG participa de audiência pública sobre o combate à intolerância na UFRGS

carteira de estudante

Giovanny - UFRGS
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Participações apontam onda de preconceito e discriminação e indicam o espaço acadêmico como essencial na promoção de direitos. O diretor da ANPG, Giovanny Kley, esteve presente no evento

Audiência pública realizada nesta segunda-feira (02), na Sala Qorpo Santo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apontou o ambiente universitário como um espaço primordial para a liberdade e a promoção dos direitos humanos. Realizada por meio da Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, a Audiência foi presidida pela Deputada Manuela D’Ávila (PCdoB), vice-presidente da procuradoria e titular da Comissão Cidadania e Direitos Humanos da mesma casa. O vice-reitor da UFRGS, diversos representantes de Unidades Acadêmicas e de Departamentos, além de representantes discentes e de entidades também participaram.

A motivação da promoção da Audiência foi explicada no início do evento: a onda de casos de intolerância no ambiente da Universidade, em situações como violência contra um estudante indígena, cartazes contra o feminismo e de cunho machista e misógino, além de pichação de apologia à violência, entre outros. O vice-reitor Rui Oppermann apontou duas linhas de ação contra a intolerância que já são realizadas na Universidade: uma disciplinadora, firmada nos códigos e comissões de ética e realizada a partir de denúncias; e a linha institucional, de posicionamento e de direitos, citando como exemplo a garantia do nome social de travestis e transexuais no ambiente da Universidade. Oppermann se disse disposto a ouvir sugestões para ir além do que já tem sido feito.

Atenção aos desafios

Manuela D’Ávila elogiou o fato de que a provocação pela atividade ter sido iniciada na própria UFRGS, por meio do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH): “A Universidade se mostra atenta a seus desafios e problemas”, ressaltou. A parlamentar destacou ainda que o espaço da universidade deve ser libertador e comprometido com a democracia: “A democracia não tolera a tortura como prática, a opressão e o preconceito”, complementou.

“A Universidade deve pensar a sociedade e tem o papel de estar à altura dos desafios dessa sociedade”, reforçou a vice-diretora do IFCH, Maria Izabel Noll, localizando o papel essencial da UFRGS na conjuntura crítica. Ela ainda destacou os desafios internos de realizar mais profundamente a inclusão social e racial promovida nos últimos anos: “Não vamos recuar nessa inclusão”, ponderou. A diretora do Instituto de Artes (IA) Lucia Carpena destacou o ambiente de diversidade com o qual o IA está acostumado e que, diante da situação pela qual passam a sociedade e a UFRGS, o Instituto pode compartilhar a tradição de tolerância.

Representação Estudantil

O representante da União Nacional do Estudantes (UNE), Lucas Maróstica, caracterizou o espaço universitário como historicamente de acolhida da população LGBTT e de empoderamento feminino, o que, para ele, “incomoda setores conservadores da sociedade”. Para Maróstica, é preciso lutar para garantir democracia e diversidade na sociedade e na UFRGS: “Não é possível aceitar com naturalidade o ataque aos direitos”, finalizou. Giovany Trindade representou a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), lembrou dos desafios no espaço acadêmico e reforçou que é preciso aprofundar, ainda mais, a diversidade no ambiente universitário. Carolina Scherer também usou a palavra na Audiência e pediu identificação e punição aos autores dos atos de preconceito para que se demonstre que “tais comportamentos não serão tolerados na Universidade”.

Contra o fascismo

“Cada época tem o seu fascismo”, foi o que endossou Arthur Ávia, chefe substituto do Departamento de História da UFRGS, um dos departamentos nos quais foram afixados os cartazes de cunho sexista. Para ele, a situação é muito séria pelo ódio que simboliza: “Foi uma atitude covarde e vil e realizada na calada da noite”, disse, explicando que a principal preocupação é com a integridade física dos estudantes. Para Ávila, a situação deve ser chamada de fascismo pelo que representa de ataque a um espaço de reflexão. O diretor do Departamento de Arte Dramática Mesac Silveira Júnior e a representante do Coletivo de Mulheres da UFRGS Maria Fernanda Geruntho também utilizaram a palavra na ocasião.

Ivana Battaglin representou a promotoria de Direitos Humanos do Ministério Público do RS e reforçou o ambiente de neofascismo crescente não só no Brasil, mas em outros países. Para ela, os acontecimentos recentes em um “lugar de resistência”, que é a Universidade, são muito preocupantes. Ela conclamou a cooperação de forças para barrar a “onda perceptível de intolerância”. Pela Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, Mariana Cappelari chamou a atenção para confusão entre os limites da liberdade de expressão e do discurso de ódio: “Há limites da liberdade de expressão. Não se pode admitir a utilização de discursos para propagar preconceito e discriminação”.

Da redação com informações da UFRGS