Abertura do II EME debate o trabalho e a realidade das mulheres pesquisadoras e cientistas no isolamento social

Com recorde de inscrições, mais de 500, o II Encontro de Mulheres Pós-graduandas, que tem como tema “A realidade das mulheres pesquisadoras e a perseguição aos Estudos de Gênero”, abriu os trabalhos com um importante debate sobre “O trabalho e a realidade das mulheres pesquisadoras e cientistas no isolamento social”. A mesa contou com a presença de Flávia Calé, presidenta da ANPG, Stella Gontijo, diretora de Mulheres da ANPG e a cientista social e antropóloga Rosana Pinheiro Machado.

A presidenta da ANPG, Flávia Calé, fez a abertura oficial na qual, em nome da entidade, se solidarizou com as famílias dos mais de 120 mil mortos pela covid-19. “As vítimas da covid no Brasil são frutos da postura genocida inconsequente do governo Bolsonaro. O Brasil vive um processo de profunda instabilidade política, com a sua democracia sob ataque permanente, e esse governo tem aprofundado o estado de exceção no país”. Calé reforçou que, atualmente, 58% das mulheres na América Latina estão desempregadas e que esse contexto de pandemia e de crise econômica tem impacto direto também nas pesquisadoras brasileiras.

A diretora de mulheres da ANPG, Stella Gontijo, reforçou que as mulheres são a maioria na pós-graduação. “Nesta pandemia, estamos sobrecarregadas com múltiplas tarefas, o que causa uma queda na produtividade. Mas as agências de fomento fecham os olhos a essas questões”, explicou. Gontijo se refere ao adiamento da Capes por seis meses os prazos, mas a ANPG tem recebido denúncias que os programas estão resistindo para efetuar o que a agência propôs. E esse debate também está no Plano Anísio Teixeira, que a ANPG lançou no mês de agosto e propõe um adiamento de até um ano nos prazos (LEIA O PLANO AQUI E ASSINE O PLANO). A diretora também apresentou a convidada da mesa, Rosana Pinheiro-Machado, antropóloga brasileira, atualmente lecionando no Departamento de Ciência Política e Sociais da Universidade de Bath, no Reino Unido. 

“Estamos vivendo um dos piores momentos em nossa história recente. Temos este atual governo conservador fundamentalista teocrático e com todos os adjetivos negativos que se pode colocar e, se não bastasse isso, uma pandemia que agravou as condições das mulheres. Mas é preciso reforçar que os problemas estruturais na condição das mulheres é antigo”, explicou a pesquisadora.

Rosana afirmou que vivemos em uma estrutura patriarcal e que a produção do conhecimento nas Universidades sempre seguiram as elites brancas e masculinas. “Toda minha luta é repensar e debater as condições estruturais das mulheres e que a pandemia apenas deixaram exacerbadas. O coronavírus escancarou essa violência e a desigualdade. Sabemos da condição das mulheres na pós-graduação e que quando se precisa produzir ciência é necessário tempo e um retorno afetivo, que não temos”.

A antropóloga ainda debateu que a carga acumulada pelas mulheres na pós-graduação é percebida de diferentes maneiras. Entre as mulheres acadêmicas, se constata o dobro dos casos de depressão, em comparação aos homens. “Também percebemos essa carga pela ‘tesoura’ que vai tirando as mulheres da academia. Elas estão em maior número no começo da pós-graduação, mas são apenas 20% das professoras titulares”.

“Essa condição estrutural do patriarcado na academia impossibilita que muitas concluam o curso. Por isso, volto para a questão de que, na pandemia, essa condição é exacerbada em um processo de violência, desigualdade e exclusão, que sempre nos acompanhou.”

 

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