25º CNPG: ANPG discute como combater e denunciar o assédio nas universidades

carteira de estudante

“Eu, mulher preta, sofro racismo. Sofro machismo. Recaem sobre mim todas essas opressões. E eu preciso que a gente pense políticas públicas que respondam a todas essas especificidades”, reivindicou Biamichelle Munduruku, mestranda da Universidade de São Paulo, durante um debate sobre assédio, discriminação e desigualdade no 25º Congresso Nacional de Pós-graduandos. Realizada neste sábado (11), na Universidade Federal de Minas Gerais, a mesa de discussão contou com a presença de Mariana Venturini, diretora da União Brasileira das Mulheres (UBM) e de Gislaine Caresia, advogada especialista em direito da mulher.

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Enquanto Mariana destacou como historicamente as universidades reproduzem e alimentam ambientes machistas e segregadores, Gislaine deu dicas de como denunciar e fortalecer movimentos de combate a situações opressoras nas instituições.

“Nas universidades, as mulheres estão nas humanidades, na pedagogia. Ela é a enfermeira, não a médica. É sempre a função auxiliar. E têm o teto de vidro. Os estudantes negros, assim como as mulheres, fazem cursos considerados de menor prestígio social, como letras ou história”, explicou a diretora da UBM. Ela disse ainda que o assédio nesses espaços não se dá apenas na forma de violência sexual. Pode ser desde aquele professor que não dá voz à aluna, pretere o orientando negro ou, ainda, desqualifica intelectualmente uma estudante apenas pelo seu gênero.

“A universidade não é uma bolha. Tem gente que acha que a universidade é um lugar idílico, um templo, onde só emana o conhecimento. Não é. É uma reprodução do que é a sociedade, que historicamente foi construída por homens, para homens”, afirmou Mariana. Segundo ela, as instituições são locais de perpetuação de preconceitos que, muitas vezes, não são enxergados como o assédio.

Alessandra Aniceto, doutoranda da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), reforçou que determinados grupos são mais opressores, como os homens brancos cisgênero. “Me parece que a gente está sempre à sombra das figuras masculinas. Que a gente tem que gritar para ser ouvida ou citar 50 autores para dizer que eu tenho a mesma capacidade que o colega que está do lado para que meu professor; homem, branco, cis e médico; me escute”, desabafa.

Segundo Marcos Moraes, mestrando da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), as escolas abrem vagas destinadas aos indígenas e estudantes estrangeiros de países africanos, mas não têm dado condição para que eles façam sua pesquisa e sejam respeitados dentro da instituição. “Tem que tratar o diferente de forma diferente”, refletiu.

Tamara Naiz, presidenta da Associação Nacional de Pós-graduandos, destacou uma pesquisa feita, em 2015, pelo Instituto Data Popular acerca da realidade cruel das universidades brasileiras. De 1,8 mil acadêmicos ouvidos no Brasil todo, quase 70% das mulheres envolvidas disseram que já sofreram violência dentro das universidades (sexual, física e moral) “E 42% das mulheres disseram sentir medo dentro das instituições. É uma situação alarmante”, lembrou.

A advogada Gislaine Caresia observa que é preciso, primeiramente, questionar ações que fazem parte da rotina dos pós-graduandos. “Por que você tem que ir à casa do professor para ser orientado?”, disse. Segundo ela, relações de assédio são caracterizadas por uma estrutura vertical de subjugação. É preciso identificar e denunciar esses atos.
“As queixas mais comuns são ameaças do corte da bolsa, agressões verbais, comentários depreciativos, desinteresse até os assédios sexuais”, explicou.

As denúncias podem ser feitas de maneira coletiva, para resguardar a integridade do aluno, que pode se sentir perseguido pela universidade por “manchar o nome da instituição”. O Ministério do Trabalho é um dos órgãos que pode e deve ser acionado. Segundo a advogada, o ideal seria a regulamentação dos bolsistas para que eles não dependam da vontade do outro. Sigam regras estabelecidas por lei, numa situação mais democrática. “E, no dia a dia, é preciso de fato se fortalecer. Trazer o debate para dentro das universidades. Formar coletivos, como o Grupo de Trabalho dentro da Universidade de São Paulo. E nunca subestimar as redes sociais. Elas têm força importante”, sintetizou.

Shirley Pacelli, de Belo Horizonte.