A Greve Geral também é pelo futuro do Brasil e dos pós-graduandos

Desde 2015, o Brasil vive imerso no que muitos especialistas apontam como a mais grave crise econômica de sua história. A esperada recuperação, após a brutal recessão que fez o PIB retroceder 7,3% em dois anos, até agora não passou de expectativa. Para piorar a situação, a inépcia política do atual governo tem frustrado setores econômicos que apostaram no caminho ultraliberal e, como resultado, as projeções otimistas para 2019 já dão lugar a estimativas de que o crescimento não supere o 1%.

Resultado de um conjunto de fatores internos e externos, a depressão econômica brasileira levou de roldão grande parte dos avanços sociais que o país vinha acumulando no período anterior. O que chama mais atenção é o desemprego: se em 2014, os índices beiravam o pleno emprego – 4,8% na média do IBGE -, chegaram aos 12,7%, atingindo mais de 13 milhões de pessoas em idade ativa. Aos desempregados fazem companhia cerca de 28 milhões subocupados, que trabalham menos horas do que poderiam e, em geral, de maneira precária.

Mas, ao contrário do que se poderia pensar, desemprego e subocupação não são realidades que afligem apenas pessoas de menor escolaridade ou que estavam em funções que, pouco a pouco, vão sendo extintas pelos avanços tecnológicos. É o que mostram os números de desemprego entre mestres e doutores, que chegam até ao dobro da média nacional, atingindo 25% desses profissionais, segundo recente reportagem do jornal Correio Braziliense.

A contínua redução dos orçamentos empregados na educação e na ciência e tecnologia contribuem para esse quadro, uma vez que as universidades públicas são responsáveis por mais de 90% da pesquisa por aqui produzida. Portanto, a situação tende a se agravar na atual conjuntura, já que, além da crise, agora o governo federal age deliberadamente contra os investimentos nas universidades e para reduzir o número de mestres e doutores.

A tempestade perfeita, que fecha as portas do mercado de trabalho aos pós-graduandos, se completa com o processo de desindustrialização do país, uma vez que esses profissionais altamente qualificados acabam não sendo absorvidos pela produção. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) dá a exata dimensão do problema: a indústria de transformação atingiu, no ano passado, seu menor índice de participação no PIB nacional desde 1947, apenas 11,3%.

Ora, se, por um lado, os centros de excelência que produzem conhecimento e realizam o grosso da pesquisa científica passam por um estrangulamento financeiro sem paralelo na história recente e, por outro, a produção com valor agregado está condenada a definhar, qual caminho sobrará para o pós-graduando no mercado de trabalho?

Em outras palavras, o jovem que decide estudar não poderá mais ser professor porque as universidades não voltarão a abrir concursos tão cedo; não poderá pesquisar, já que não terá mais o respaldo do Estado através de políticas de bolsas de estudo porque o ministro da Educação acha que “o Brasil tem mestres e doutores demais”; e não poderá usar seu conhecimento para agregar valor aos produtos da indústria nacional porque logo ela sucumbirá à ausência de uma política industrial.

Nesse cenário, tem crescido o fenômeno conhecido como “fuga de cérebros”. Pelo quarto ano consecutivo, em 2018, cresceu o número de brasileiro que foram morar legalmente nos EUA, sendo que aumentaram em 27% os vistos emitidos para aquele país. Isso significa que a realidade acima descrita faz com que a Inteligência construída em nossas universidades, após anos de investimento e pesquisa, será utilizada para o incremento tecnológico norte-americano. Ou seja: financiamos indiretamente o desenvolvimento deles.

Evidentemente, estamos diante de um projeto político que aspira condenar o Brasil ao eterno subdesenvolvimento, atraso tecnológico e dependência externa. De certo, não é algo planejado aqui, mas que conta com aliados em nossas classes dominantes, a começar das que sustentam um governo de viés autoritário, antipopular e antinacional.

Interromper esse ciclo que ameaça desestruturar os pilares da nação é o desafio da atual geração de estudantes, pesquisadores e cientistas. As gigantescas manifestações realizadas pelo movimento estudantil em 15 e 30 de maio demonstraram que há espaço na sociedade para a defesa de certas trincheiras, que, caso ultrapassadas, representariam verdadeiros retrocessos civilizatórios. Elas também trouxeram vitórias concretas, obrigando o governo a recompor parte dos recursos cortados da educação e das bolsas de estudos, o que deve impulsionar e não arrefecer o movimento.

O próximo capítulo será a greve geral de 14 de junho, dia de entrelaçar as bandeiras que motivaram estudantes e professores a tomarem às ruas com a justa reivindicação dos trabalhadores pelo sagrado direito à dignidade na velhice. Será uma tarefa a ser realizada por milhões de mãos e corações que amam verdadeiramente o Brasil, numa grande frente em defesa da democracia, do emprego, dos direitos sociais – principalmente à aposentadoria -, da soberania e do Estado Democrático de Direito.