Especial ex-presidentes no 4o Salão: Elisangela Lizardo

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O 4º Salão Nacional de Divulgação Científica da ANPG, realizado entre os dias 12 e 17 de julho, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), contou com vasta programação, que incluíram debates acerca do Financiamento da Ciência Brasileira, duas conferências, uma mostra científica e atos políticos contra os cortes orçamentários na Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, além de programação cultural diversificada e a comemoração dos 29 anos da entidade.

Com tão vasta programação, não poderia ser diferente que os ex-presidentes da Associação Nacional de Pós-Graduandos estivessem presentes nos debates, prestigiando o evento.

Elisangela Lizardo, doutora em Educação: História, Política, Sociedade pela PUC-SP, foi nossa presidenta durante a gestão 2010-2012, e esteve presente durante todos os dias do 4º Salão Nacional de Divulgação Científica. Em entrevista à nossa equipe, ele comenta as lutas de sua gestão, a situação do Brasil e a luta dos pós-graduandos. Confira:

Quais foram as principais lutas empreendidas durante a sua gestão? 

Nossa gestão enfrentou desafios importantes, dando continuidade a lutas e bandeiras históricas e ao mesmo tempo buscando um diálogo com pautas recentes do movimento nacional de pós-graduandos.

O Congresso em que fui eleita, já marcou um novo tempo da pós-graduação no Brasil. Com o tema” A ciência não está de braços cruzados,e você?” o congresso da ANPG saiu de um patamar de 100 delegados para 600 participantes com 322 delegados eleitos de todas as regiões do país e uma mostra científica com mais de 100 trabalhos pelos corredores da UFRJ. Foi um congresso estatutário que buscou conectar a ANPG e o Movimento Nacional de Pós-Graduandos (MNPG) a nova realidade da universidade e da pesquisa no país.

Logo nos primeiros meses aprovamos a licença maternidade para as pós-graduandas. Bandeira história do MNPG e de significativa relevância para a pós-graduação brasileira que conta com mais de 50% do seu público feminino.

Durante nossa gestão também enfrentamos batalhas importantes na garantia dos direitos dos pós-graduandos e pós-graduandas, além da aprovação da licença maternidade a ação da diretoria da ANPG frente aos cortes de bolas resultantes da portaria CAPES que previa o acumulo de vinculo empregatício foi fundamental. Nesse momento,muitos pós-graduandos de todo pais acordaram com a notícia do corte de suas bolsas, enfrentamos esse problema de frente,dialogando com a CAPES, com os programas, mas também tomando medidas legais e políticas para reverter qualquer abuso e danos aos andamento do trabalho destes jovens pesquisadores.

Integramos mais uma vez a comissão de elaboração e acompanhamento do Plano Nacional de Pós-Graduação.

Histórica também foi a conquista do assento da ANPG no Conselho Deliberativo do CNPq. Muitas outras gerações de dirigentes da ANPG reividicaram esse espaço como uma forma de aproximação entre os gestores da Politica nacional de pós-graduação e aqueles que estão na ponta de sua execução. Essa conquista é resultante do traabalho de todas essas gerações que nos antecederam.

Mas sem dúvida a maior vitória da nossa gestão foi a conquista do reajuste de bolsas  de mestrado e doutorado congeladas ha 4 anos. Digo que foi a maior vitória porque ela foi coletiva. A ANPG, as APGs e pós-graduandos de todos os países fizeram greve, paralisaram suas atividades em protesto aos baixos valores das bolsas de pós-graduação. Uma bonita campanha que com o vídeo ” A minha bolsa não aumentou” ( https://www.youtube.com/watch?v=KECaIJO9EPg  ) questionava a desvalorização do trabalho do pós-graduando e pós-graduanda e exigia #ReajusteJá!

Encerramos nossa gestão, apresentando nossa indignação aos presidentes da CAPES e CNPq no Congresso da ANPG em SP e ouvindo deles o compromisso de reajuste de 20% das bolsas, 10% imediatamente e os outros 10% no segundo semestre.

Comente a situação do país durante sua gestão? 

O País passava por um momento de consolidação da sua democracia participativa. Espaços de diálogo entre sociedade civil e governo se consolidando como por exemplo as conferências temáticas. Participamos das Conferências Nacionais de Ciência e Tecnologia, Educação e Juventude, nesta última contribuímos diretamente na organização. A comunidade acadêmica científica travou batalhas importantes como a discussão da destinação dos recursos do fundo social do pré–sal pra educação, ciência e tecnologia e inovação. A ANPG apresentou uma carta de propostas aos candidatos à presidência da república, defendendo maiores investimentos para a educação e c&T, destinação de 2% do PIB para C&T e recomposição do FNDC, assim com tantas outras pautas em defesa da educação, ciência e tecnologia para o desenvolvimento econômico e social do país.

Como você vê a ANPG antes e como enxerga agora?

O professor e Ex-Ministro Marco Antônio Raupp, costumava nos dizer que a ANPG é a SBPC do futuro. Isso muito nos lisonjeia, uma vez que a SBPC é a principal sociedade científica da América Latina, que agrega os “amigos da ciência”. Penso que a ANPG se consolida no cenário nacional, já se avizinhando dos seus 30 anos, de uma maneira singular.Comprometida com o desenvolvimento científico e tecnológico que promova o progresso e a inovação,a ANPG reivindica que esses avanços sejam destinados especialmente para um desenvolvimento mais justo de todas as classes sociais. Uma ciência inovadora carece de  pensamento questionador, revolucionário e os jovens da ANPG, mesmo com toda a responsabilidade para com suas pesquisas, mantem essa alegria e desejo de transformação. Costumamos dizer que a ANPG é uma entidade híbrida, científica e política, uma vez que avança significativamente em seus instrumentos científicos como as mostras e revista científica, mas na minha opinião a ANPG é sobretudo uma entidade política, representativa, que luta pelos direitos dos pós-graduandos do Brasil.Essa é sua principal missão e a atual gestão tem cumprido essa missão com maestria.

Na sua opinião , quais os principais avanços na luta dos pós-graduandos ao longo dos 29 anos da ANPG?

A concretização de uma política permanente  de valorização da pesquisa e dos pesquisadores brasileiros. Essa é a pauta que permeia toda a vida da entidade. Antes mesmo da fundação da ANPG, quando o Movimento de pós-graduandos se encontrava nas Reuniões Anuais da SBPC , esta pauta estava presente. É preciso enfrentar com ousadia  essa demanda. Toda a comunidade científica deveria se envolver na aprovação de um estatuto da pós-graduação brasileira que contemplasse a valorização dos pesquisadores, desde a iniciação científica até os pesquisadores seniores.

Comente a atual situação em que passa o Brasil e quais são os desafios que a ANPG precisará enfrentar nos próximos tempos na luta por mais direitos para os pós-graduandos?

Brecht compôs um poema, que gosto muito, “Aos que vieram depois de nós”, ele começa assim:

“Realmente, vivemos tempos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri

ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar (…)”

Esse poema era parte da crítica contumaz de Brecht ao nazismo. Realidade distante da sociedade democrática em que vive o Brasil neste começo de século. Apesar disso, me chama a atenção uma forte presença de posicionamentos nebulosos, um tanto quanto obscurantistas que questionam a consolidação da democracia, da liberdade de expressão, que difundem intolerância, preconceito e que distancia os cidadãos de uma consciência libertadora. Pensamento esse,que não coaduna com tempos de esclarecimento e progressos para os quais a ciência tanto tem contribuído. Me junto àqueles que consideram que a ciência, tal como a política não é neutra e que devemos sempre avançar, rumo ao pensamento livre, a uma formação emancipadora, a uma sociedade capaz de inovar na ciência, na tecnologia  e especialmente na sua própria organização social.

Como desafios para o próximo período, desejo à ANPG vida longa e muita ousadia para combater o bom combate!

“Não chores, meu filho; Não chores, que a vida É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos Só pode exaltar”

(Canção do Tamoio – Gonçalves Dias)

Confira as entrevistas com outros ex-presidentes da ANPG:

Especial ex-presidentes no 4o Salão – Hugo Valadares

Especial ex-presidentes no 4o Salão – Luana Bonone

Da redação