Minas Gerais, Ouro Preto e o futuro do Brasil

carteira de estudante

 

Minas Gerais, Ouro Preto e o futuro do Brasil

Artigo do professor Ernani Carlos de Araújo*, enviado ao JC Email.

*As opiniões aqui reproduzidas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, a opinião do entidade.

 

Não poderia relegar as minhas posições e convicções e quero aqui deixar o meu legado quanto ao futuro de Minas Gerais, Ouro Preto e o Brasil. Acho que no período colonial do Brasil uma de nossas maiores riquezas era o ouro que abasteceu Portugal e a Inglaterra.

 

Além deste importante minério cujo valor monetário estava agregado nele mesmo e às condições de mercado e ao custo de muitas vidas de escravos e indígenas se foram em função desta exploração. Este período passou e para Ouro Preto, Minas e o Brasil ficou apenas alguma herança cultural, a Arquitetura e atualmente o crescimento natural da cidade e o inchaço irresponsável (sem planejamento) da Universidade (UFOP) ameaçam a Arquitetura, nossa história e o Turismo da cidade.

 

Como estudante vivi em Ouro Preto o período áureo da riqueza do alumínio cujo produto é extraído do minério bauxita. Naquele período, a partir de 1976 viveu-se em Ouro Preto toda uma cadeia produtiva com as mais altas mordomias fruto do produto, da educação e do trabalho. Lembro que colegas formados em Engenharia Metalúrgica pela Escola de Minas tinham altos salários e ainda vários privilégios pela antiga Alcan. Na década de 90 escrevi uma carta para o presidente desta empresa no Canadá denunciando os sérios problemas ambientais (geração de lama cáustica, produtos de rejeitos com elementos químicos pesados ou radioativos), provocados em Ouro Preto e região, para os quais tive resposta à altura dos meus questionamentos, mas não a solução para os problemas. Passados então 30 anos, quando a matéria prima se exauriu, a realidade hoje é de total decadência. A empresa está prestes a se fechar, a bauxita acabou, os empregos acabaram.

 

Esta introdução mostra o que tende a acontecer com Ouro Preto, Minas Gerais e o Brasil se não lutarmos para agregar valores às nossas riquezas e não só entregá-las a custos irrisórios como temos feito com nosso minério de ferro (de alto teor) que está indo embora para China e que depois importamos como produtos acabados e maiores valores agregados (eletros-domésticos, máquinas, equipamentos, carros, etc.). Os geólogos e engenheiros de Minas sabem que no quadrilátero ferrífero só temos minério de ferro por aproximadamente mais 50 anos. Isto tudo está acontecendo aqui próximo de nós e a nossa riqueza está indo embora aos nossos olhos. Uma mineradora como a Vale nunca poderia dar prejuízo no Brasil como mostrado pela história administrativa da companhia. Não é necessário profissional especializado (geólogo ou engenheiro) de Minas para administrar bem esta empresa; Uma mineradora como a Vale nunca poderia dar prejuízo no Brasil. Nem na mão do governo, nem na de particulares.

 

A maioria das minas brasileiras são minas a céu aberto e com alto teor dos minérios a serem lavrados. Portanto, não exige nenhuma tecnologia sofisticada para tal e nem muita mão- de obra especializada. Não tem como dar prejuízo. Por isto as multinacionais estão presentes aqui para nos explorar. Aliás, lembro que a Vale foi privatizada mas quem manda na sua gestão é o governo federal através dos fundos de pensão do Banco do Brasil e Caixa econômica Federal. E assim como esta história, outras semelhantes mostram a ascensão o apogeu e o declínio de um povo, vejam por exemplo o caso de Saddam Husseim, que tinha no Iraque um verdadeiro Oásis, bonito e promissor. O povo de lá vivia dignamente e com sustentabilidade, pois tinha água e terra fértil. Esta comunidade localizada daquele país foi politicamente contra Saddam Husseim em determinado período de seu governo. Para retaliação, Saddam Husseim mandou bombardear e destruir os mananciais de água daquela região e consequentemente levou-se à pobreza da região. Este fato mostra a tendência de ocorrência futura das regiões produtoras de minério em nosso estado e país. Num futuro não tão longo, o Vale do Aço estará fadado ao declínio e consequentemente à regressão da pobreza destas comunidades.

 

Vejam por exemplo também o quê está acontecendo com as reservas de Nióbio brasileiras. Saiu na Folha de São Paulo (quarta-feira 08/12/10). " Para os EUA, Nióbio do Brasil é estratégico para a defesa Nacional". Esta preocupação foi revelada pelo WikiLeaks. O Brasil detém 98% das reservas de Nióbio do mundo, só existe um pouquinho na Sibéria. Grande parte das reservas brasileiras se encontra na cidade mineira de Araxá e no Morro dos Seis Lagos, no Amazonas. Todavia esta última jazida não se encontra em exploração devido à alta complexidade requerida nos meios extrativos. É um mineral que está sendo usado para tudo no mundo. Nenhum país vive sem ele atualmente. Todos os países desenvolvidos são tão dependentes do Nióbio como são do petróleo.

 

O Nióbio é usado como uma liga resistente em lâminas, instrumentos cirúrgicos, aviões e peças que se submetem a altas e baixas temperaturas, em foguetes, carros, armas, etc. Conclusão sejam estatais ou privadas detentoras do direito de lavra mineral, o governo brasileiro deve tratar a questão com muito cuidado e tentando agregar valores a estas matérias primas se quisermos um futuro digno para as futuras gerações, para Minas Gerais, Ouro Preto e o Brasil.

 

(*) Professor Associado II da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), D. Sc., Mestre e Doutor pela USP na área de Estruturas Metálicas.

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