Nota da APG USP/Capital sobre as recentes declarações de Rodas sobre a greve dos funcionários

carteira de estudante

Em 21 de maio de 2010 a Associação de Pós-Graduandos da Universidade de São Paulo emitiu uma pública sobre as recentes declarações do reitor da Universidade, prof. João Grandino Rodas, acerca da greve dos funcionários.

O intuito do lançamento da nota, segundo a APG, é denunciar o clima de medo que o reitor tenta instaurar na Universidade, com comentários que vão no sentido de criminalizar os movimentos sociais e acirramento das tensões entre o movimento grevista e a administração superior.

A greve

Os funcionários da Universidade de São Paulo (USP) estão em greve por tempo indeterminado desde o dia 5 de abril.

Estão prejudicados os serviços nas bibliotecas, nos quatro refeitórios e nos laboratórios onde ocorrem as aulas práticas. As duas linhas de ônibus internas também foram atingidas, além do atendimento nos museus.

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de São Paulo (Sintusp), a categoria reivindica reposição de 16% e incorporação de R$ 200,00 ao salário-base. Os grevistas também querem a extensão, para todos os servidores das universidades estaduais paulistas, do reajuste de 6% retroativo a fevereiro concedido aos professores no início de março.

Entrevista do reitor à rádio Bandeirantes no dia 08 de maio

No dia 8 de maio, o reitor João Grandino Rodas concedeu entrevista à Rádio Bandeirantes, em que falou sobre a greve na Universidade, o uso e a segurança do campus, entre outros assuntos.

Clique aqui para ouvir a entrevista.

 

 

 

 

 








Leia a nota da APG na íntegra:

 

Nota da Coordenadoria da Associação dos Pós-Graduandos da USP/Capital (21 de maio de 2010)

(Favor divulgar amplamente)

Preocupada com a preservação do respeito mútuo entre a Reitoria da USP e as entidades representativas de professores, funcionários e estudantes, a APG-Capital vem a público enfatizar a necessidade de um efetivo e respeitoso diálogo no seio da comunidade universitária, tendo em vista que as últimas declarações do reitor da USP à imprensa só têm contribuído para agravar as tensões, tão prejudiciais às atividades de pesquisa dos pós-graduandos.

Em entrevista à Rádio Bandeirantes, em 8 de maio, o Reitor João G. Rodas afirmou haver “mercenários dentro da USP, de alta estatura e envergadura, amedrontando fisicamente as pessoas”. Depois, acrescentou: “o pessoal do sindicato, isso é comprovável, não são só eles, existem pessoas contratadas por eles às dezenas, que fazem, por assim dizer, grande parte do serviço sujo”. Dada a gravidade dessas e outras acusações, faz-se necessária a devida apresentação de provas, até então desconhecidas.

Durante a entrevista, os dois radialistas e o Reitor da USP passaram a nomear os funcionários em greve como “invasores” e “pessoas inescrupulosas”, responsáveis por “jogar o nome da USP no lixo”. Consideramos lamentável que o Reitor da USP tenha investido todo o seu poder e responsabilidade em uma estratégia de desqualificação de seus opositores políticos, como já havia feito em artigo publicado na Folha de S. Paulo e em entrevista ao programa Provocações.

Na Rádio, o Reitor, mais uma vez, resolveu criminalizar os opositores e se reportar, genericamente, à “sociedade”: “peço que a sociedade verifique, mande ver, porque realmente nós estamos fazendo da Universidade de São Paulo os morros do Rio de Janeiro, guetos, e com o tempo, ficarão absolutamente impraticáveis, se é que já não estão”. A preconceituosa associação entre o crime e os morros do Rio de Janeiro, analisada e posta em questão há anos por diversas pesquisas de Ciências Humanas, torna-se ainda mais grave quando utilizada pelo Reitor da maior universidade do país com o intuito de questionar o legítimo direito de greve dos funcionários.

Chamamos a atenção para os graves efeitos de uma declaração de tal teor, emanada do mais alto cargo da Universidade. Além do já exposto, o Reitor da USP investiu, ainda, na instauração de um clima de medo, absolutamente estranho ao cotidiano da comunidade universitária, ao afirmar que a USP é “uma terra de ninguém” ou sugerindo até mesmo a instalação de uma placa na entrada da Universidade com os dizeres: “entre por sua conta e risco”.

Manifestamos o nosso repúdio à criação de um clima artificial de medo e insegurança, criado justamente pelo autor do parecer que autorizou a entrada da PM no campus. Desde que a Força Tática da Polícia Militar deixou a Universidade em 2009, após lançar bombas de gás sobre chefes de departamento, professores e alunos (grevistas e não grevistas), cessou-se, entre nós, qualquer motivo para insegurança.

Espera-se do Reitor da USP o cumprimento de suas responsabilidades como gestor público. Isto implica em uma posição ativa nas reuniões de negociação entre o Cruesp e o Fórum das Seis, contribuindo para a sinalização de um meio termo capaz de dar fim à greve e permitir a reabertura das bibliotecas, dos restaurantes e dos demais serviços essenciais à pesquisa e ao ensino. O silêncio absoluto do Reitor da USP na última reunião de negociação, no dia 18 de maio, contrasta com a disposição manifestada em suas recentes declarações à imprensa.

Receosos de que a curta “era do diálogo” seja substituída por uma “era do medo”, a APG-Capital reafirma sua convicção de que a única saída existente para os conflitos no seio da comunidade universitária é a efetiva negociação e o efetivo respeito às diversas entidades representativas de funcionários, professores e estudantes.

 

Da redação com informações da APG USP-Capital, Sintusp e Sala de Imprensa da USP.