ANPG entrevista : Arquimedes Ciloni

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Arquimedes Ciloni é natural de Araraquara-SP. Foi reitor da UFU por dois mandatos e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Desde março deste ano é Subsecretário de Coordenação das Unidades de Pesquisa da Secretaria Executiva do MCT. Foto: Jornal Correio de Uberlândia

Na oportunidade, o ex-reitor da Universidade Federal de Uberlândia e ex-presidente da Andifes, falou sobre os desafios à frente da nova tarefa no MCT e da relação universidade-empresa.

ANPG – Professor Arquimedes, o senhor é formado em Engenharia Civil e possui mestrado e doutorado em Engenharia de Estruturas. Foi reitor da Universidade Federal de Uberlândia (na qual é professor associado) por dois mandatos e presidente da Andifes. Como um homem das Exatas se interessou pela área administrativa da Academia?  

Arquimedes Ciloni – Fomos convidados pelo Prof. Nestor Barbosa de Andrade, em fevereiro de 1994, a assumir a Diretoria de Pós-Graduação da Universidade Federal de Uberlândia. O então Reitor pediu-nos que contribuíssemos com sua gestão por pelo menos um ano, já que nos preparávamos para tentar o pós-doutorado em 1995. Somos muito gratos a ele e a toda a equipe com quem então dividimos atribuições, mostrando-nos que poderíamos cooperar com as tarefas administrativas da instituição. Embora relutando a princípio, iniciamos ali a trajetória que nos levou a Reitor daquela instituição por 8 anos (de 2000 a 2008). Tivemos a oportunidade de servir às causas nacionais da educação e da saúde de forma muito enfática, principalmente durante nosso mandato à frente da ANDIFES.

 

ANPG – Este ano o senhor recebeu o convite do Ministério da Ciência e Tecnologia para assumir o cargo de Subsecretário de Coordenação das Unidades de Pesquisa (SCUP) do MCT. Como se deu o convite?

Arquimedes Ciloni – Fomos indicados por membros do Setorial de Ciência e Tecnologia do Partido dos Trabalhadores, setorial este do qual fazemos parte já há praticamente uma década, e o Ministro Mercadante honrou-nos com o convite no dia 02 de fevereiro passado. Ao aceitarmos, iniciou-se um processo de nomeação que culminou com a investidura no cargo em 16 de março deste ano; respondemos desde então pela nossa Subsecretaria de Coordenação das Unidades de Pesquisa do Ministério de Ciência e Tecnologia. Saibam que é uma honra estar trabalhando sob a liderança do Ministro Mercadante, permitindo-nos fazer parte do governo da Presidente Dilma. 

 

ANPG – Quais as atribuições dessa tarefa e quais são seus planos à frente do cargo?

Arquimedes Ciloni – São 13 Institutos e 5 Organizações Sociais (no momento, estamos trabalhando para a criação de mais 4 Unidades de Pesquisa do MCT, em Projeto que está tramitando no Congresso) sob a coordenação desta Subsecretaria. A SCUP propõe, coordena e acompanha a execução de programas e projetos a cargo dessas unidades de pesquisa, bem como promove, supervisiona e avalia os Contratos de Gestão firmados entre a União e as OSs para a execução de programas e projetos de pesquisa científica e tecnológica, prestação de serviços tecnológicos e assessoria técnica ao ministério. O Ministro Mercadante incumbiu-nos também da tarefa de aproximar as Unidades de Pesquisa do Ministério ao sistema de Universidades Públicas Federais, para o que visitaremos a ANDIFES em breve. Talvez isso nos permita incrementar nosso Programa de Entidades Associadas. Salientaria ainda que, com um número muito grande de aposentadorias previstas para os próximos anos, uma de nossas principais tarefas será trabalhar para, a exemplo do que já existe para as IFES, criar um banco de pesquisadores e tecnologistas que permita às nossas Unidades enfrentar o problema da reposição de recursos humanos. Enfim, são muitas as tarefas a cumprir.

 

ANPG – Qual o principal desafio dos centros de pesquisa brasileiros? Expandir ou qualificar a produção científica nacional?

Arquimedes Ciloni – Não vemos expansão e qualificação como excludentes, é possível fazer ambos, diríamos! É preciso também que a nossas Unidades de Pesquisas façam a sua parte na tarefa de ampliação e fortalecimento da base de pesquisa nacional, seja pela via da formação, capacitação, fixação e valorização de recursos humanos, seja pela ampliação e modernização da infraestrutura de pesquisa disponível. Pensamos que devamos fazer a nossa parte pela expansão e fortalecimento do ensino superior, especialmente da pós-graduação. Temos que encontrar também um caminho para auxiliar na ampliação da oferta de ensino técnico e profissionalizante; por exemplo, achamos que podemos abrir os nossos laboratórios principalmente para as escolas públicas de ensino médio, para auxiliar na qualificação dos professores das áreas de ciências.

ANPG – Acredita que sua experiência na área da Educação lhe trará benefícios nesse momento?

Arquimedes Ciloni – Sim! Citamos o exemplo de que estamos tentando neste momento construir um banco de pesquisadores e tecnologistas semelhante ao que ajudamos a criar no Ministério da Educação. Também pretendemos cooperar na diretriz de difusão e popularização do conhecimento Cientifico e Tecnológico, bem como pela expansão da internacionalização das nossas unidades de pesquisas com o fortalecimento da Cooperação Internacional.

 

ANPG – O MCT perdeu recursos em relação ao ano passado. Como será trabalhar com orçamento reduzido tendo tantas demandas e projetos a realizar?

Arquimedes Ciloni – Não é fácil trabalhar com o orçamento reduzido, mas temos que nos adequar à realidade do país neste momento. Por outro lado, estamos trabalhando para apresentar as metas do nosso Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI II), ora em discussão interna neste Ministério e que em breve será apresentado ao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia pela Presidência da República. Cremos que seja possível alinhar as metas com os recursos disponíveis. Temos a esperança que, no transcurso do ano e com o possível crescimento da arrecadação, o Ministro Mercadante possa conseguir reverter ao menos parcialmente esse corte orçamentário. O Ministro trabalha intensamente pela criação de novos Fundos Setoriais, o que poderá ajudar também a minorar os efeitos do corte.

 

ANPG – Em sua opinião, a relação universidade-empresa deve se estabelecer sob quais parâmetros?

Arquimedes Ciloni – Temos que trabalhar para que as nossas instituições sejam ainda mais ágeis no relacionamento com as empresas. Recentemente, o MCT divulgou as recomendações da SNCTI de 2010, e temos ali várias sugestões valiosas para aprimorar essa relação. Temos que incentivar a criação de mais laboratórios abertos nas instituições de pesquisa com a finalidade de prestar serviços à academia e às empresas, bem como oferecer às empresas serviços técnicos especializados em forma de prestação de serviços, além de estimular projetos conjuntos entre os Institutos e empresas em áreas de competências das nossas Unidades de Pesquisa. É preciso estimular que nossos Institutos tenham mais contatos com incubadoras de parte tecnológicos, de forma a ampliar a cooperação e melhorar essa relação. Não podemos perder de vista, ainda mais quando temos a oportunidade de nos dirigir aos jovens pós-graduandos, que nossa geração lutou por mais de 20 anos para dotar este país de um Plano Nacional de Ciência e Tecnologia. Enfim conseguimos juntar esforços do Governo com as Instituições e as Empresas, e temos agora a obrigação saudável de seguirmos o planejamento que juntos construímos. Poderemos chegar à próxima década a sermos a quinta nação mais desenvolvida do planeta. O Plano ajudará muito para que atinjamos esse objetivo e vocês, com certeza, farão parte dessa história e precisam olhar com maior compreensão para a necessidade dessa relação com o meio empresarial. É benéfica para o país! Os países mais desenvolvidos só lograram atingir essa condição por meio de profícua relação entre suas instituições e empresas!

 

ANPG – Por fim, em suas experiências anteriores o contato com o Movimento Estudantil era constante, através da relação com os DCEs e com a UNE. O movimento de pós-graduandos tem uma dinâmica diferente, mas não menos combativa. Como o senhor vê e espera que se dê a relação com os pós-graduandos através da ANPG?

Arquimedes Ciloni – Quando presidente do FROPOP (Fórum Nacional de Pró-reitores de Pesquisa e Pós-graduação) estabelecemos uma saudável convivência e uma ótima relação com os Pós-Graduandos por meio da ANPG. Obviamente estamos à disposição da ANPG para receber sugestões que permitam aprimorar o trabalho de articulação entre nossas Unidades e as demais instituições representativas da Pesquisa Brasileira. Teremos, com certeza, um regime de parceria que permitirá buscarmos junto soluções para problemas da pesquisa e da pós-graduação. Temos a certeza de poder contar com a ANPG, e vocês podem contar conosco. Abraços, gente, e obrigado pela oportunidade!

 

Eleonora Rigotti.