O que está em jogo nos atos do dia 18 de março?

Artigo por Cristiano Flecha*

“De que lado você samba? Você samba de que lado?”
Chico Science

A Frente Brasil Popular convoca atos por todo o Brasil para o dia 18/3, sexta-feira. A ANPG apoia e participa dos atos. Nesse artigo quero explicar melhor a importância desses atos dentro do momento decisivo por que passa o pais.

Os atos do dia 18 de março foram convocados em uma reunião de emergência da Frente Brasil Popular após a condução coercitiva de Lula no último dia 4 de março. Uma ação de força, repudiada inclusive por ministros do Superior Tribunal Federal, já que a ação desrespeita a própria lei.

A condução coercitiva de Lula foi um ataque aos direitos elementares do ex-Presidente – observem – como cidadão. Por isso é uma agressão à própria democracia, foi um gesto no sentido de um estado de exceção, onde qualquer um pode ser preso sem que exista motivação ou justificativa legal, sendo gravíssimo.

De certa maneira, isso escancarou a manipulação política a que se presta o processo da Lavo-Jato. A ideia, entorno da qual ela se organiza é um processo de criminalização da política e vai de mãos dadas com o “fora partidos” agitado nos atos do último dia 13 que, como bem lembra Marilena Chaui, sendo o prelúdio de uma política fascista que se esgueira por trás do slogan “meu pais é meu partido”.

A campanha de ódio ao Partido dos Trabalhadores e a Lula tem um objetivo político bastante específico, o que se quer é destruir não só o PT, mas todas as organizações populares dos sindicatos às entidades estudantes, dos movimentos por moradia às associações de bairro. Por isso, não é um acaso que os atos do dia 13 foram “preparados” com ataques à sede da UNE, ao sindicato dos metalúrgicos do ABC, ao sindicato dos bancários e a sedes do PT e do PCdoB.

Os arquitetos desse movimento reacionário sabem que para impor a retirada de direitos dos trabalhadores e estudantes é preciso destruir suas organizações de luta. Eles sabem que é preciso derrotar as organizações populares para abrir caminho para a espoliação das riquezas nacionais, a começar pela entrega do Pré-Sal às petroleiras americanas.

Diante disso tudo, ainda é preciso dizer que é uma contradição que o governo de Dilma tenha se envolvido com a negociação no Senado para a aprovação a lei que quebra o regime de partilha, talvez a mais importante medida de soberania nacional adotada pelos governos do PT. É uma contradição que seja o governo Dilma que esteja aplicando uma política de ajuste fiscal às custas dos gastos em Educação e Saúde.

Tudo isso na prática ajudou os golpistas, tornando o governo a cada dia mais impopular. Daí que não haja como dissociar as coisas, a luta para que Dilma faça um governo que proteja os trabalhadores, a juventude e a economia nacional da crise (acabando com essa política econômica orienta dar para o superávit fiscal) e a luta contra o próprio golpe de Estado “constitucional” que se articula contra o seu governo.

A situação é complexa, mas, para aqueles que estão firmes do lado dos interesses dos trabalhadores e da juventude, podem ver claramente o que está em jogo. Eles sabem de que lado eles devem sambar. Para todos esses, independente de que partido político façam parte ou mesmo se não fazem parte de partido político algum, unificar na luta contra o golpe e o ajuste indo e ajudando a convocar os atos de 18 e 31 de março é um imperativo urgente.

A situação é grave, é preciso fugir do ceticismo e do fatalismo que certas posições políticas levam. Nesse sentido, é preciso compreender o caráter espúrio (verdadeiramente criminoso perante os interesses dos trabalhadores) da política de certas organizações que se auto-proclamam “revolucionárias” e “socialistas”. A posição política dessas organizações faz é dividir, em vez de unificar a luta. Diante da ameaça real – e imediata – da instauração de um estado de exceção no pais o que essas organizações fazem é, nos fatos, ajudar os golpistas.

Não é possível saber qual será o desenlace dessa situação. Nada está resolvido. É a luta que vai decidir, a mobilização popular, a força e extensão da organização dos trabalhadores e estudantes pode impor derrotar aos golpistas. As batalhas decisivas estão à frente!

*Cristiano Flecha é vice-presidente da ANPG e doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Os artigos publicados não expressam necessariamente a opinião da ANPG e são de total responsabilidade dos autores.