Teoria do Bode: um artigo sobre a Emenda Ibsen

carteira de estudante

Por Theófilo Rodrigues*

Conta a sabedoria popular que em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, um pobre agricultor, pai de uma dúzia de filhos, já não sabia mais como mantê-los em sua pequena casa. Sem saber mais o que fazer com aquela situação insustentável, o pequeno agricultor foi procurar o padre da cidade, grande conselheiro que a todos ajudava. Após ouvir a história do pobre coitado, o padre pensou, pensou e sugeriu que o homem levasse um bode para sua casa.
O pai, que àquela altura já estava desesperado, resolveu seguir o conselho do velho padre. Levou o bode e o amarrou bem no meio da sala de sua casa. Passaram-se alguns dias e o fedor do bode na sala cada vez aumentava mais. Até que a família, que já não agüentava mais o fedor e a sujeira do bode, resolveu levá-lo de volta ao padre. Ao vê-los o padre perguntou se as coisas tinham melhorado. A resposta da família foi negativa. O padre então pediu que eles devolvessem o bode para a Igreja. Alguns dias depois, ao encontrar a família feliz na missa das 7, o padre perguntou: E agora, melhorou?
A resposta foi imediata: Sim, padre, melhorou bastante!
A Teoria do Bode pode ser um importante instrumento de análise da ciência política para a compreensão de determinados conflito políticos. Ora, vejamos o caso da polêmica redistribuição dos royalties entre os estados.
Assim que foram descobertos os poços de petróleo na camada Pré-sal, políticos de todos os estados e matrizes ideológicas cresceram seus olhos para a fortuna dali decorrente. O debate virou capa de todos os jornais e era protagonizado de um lado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, defensor ferrenho de que os recursos deveriam ser distribuídos por todos os estados e do outro lado pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, defensor de que os recursos ficassem nos estados produtores.
Naquele momento, portanto, o debate centrava em recursos futuros provenientes do petróleo a ser explorado na camada Pré-sal. O impasse era muito grande e o próprio presidente Lula não queria se meter nessa grande briga de governadores.
Qual a solução? O padre diria: Coloquem o bode no meio da sala!
Pois bem, foi o que o Congresso fez ao aprovar na última quinta-feira a “Emenda Ibsen”. Para quem não sabe, a “Emenda Ibsen” divide entre todos os estados os recursos provenientes do Pré-sal. Mais do que isso, a emenda garante que também sejam distribuídos entre todos os estados os recursos provenientes da exploração dos atuais poços de petróleo da camada Pós-sal. Ou seja, corta do atual orçamento do Rio de Janeiro para distribuir aos outros estados.
Agora, tudo que o governador do Rio de Janeiro quer é tirar o “bode da sala”. Nos bastidores, já se diz: deixem o orçamento do Rio como está e topamos dividir o Pré-sal entre todos os estados. Ao que parece, o bode salvou mais uma vez a política nacional! Sábio conselho do velho padre mineiro…

*Theófilo Rodrigues é mestrando em Ciência Política na Universidade Federal Fluminense (UFF)