Nota de Repúdio a Tentativa de Tumulto na Mesa de Abertura de evento da UFPA

A Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) vem a público repudiar a tentativa de um grupo de produtores rurais de tumultuar a mesa de abertura do evento denominado “Amazônia Centro do Mundo”, realizado no campus de Altamira da Universidade Federal do Pará (UFPA) na manhã da última segunda-feira, dia 18 de Novembro.

 

Nesta segunda feira (18), ao invadirem e tumultuarem o evento, os produtores rurais da região não só desrespeitam as lideranças indígenas, comunitárias e entidades acadêmicas ali presentes, mas ferem a liberdade de expressão de pessoas que em geral são consideradas minoria no debate político, por possuírem poucos representantes em posições de tomada de decisão,como parlamentares ou gestores públicos. Diferentemente destes, os produtores rurais contam com poder econômico e financeiro que tem lhes garantido lugar de fala e influência sobre as políticas de governo há muitos anos. Exemplo maior disto é representado pela existência de uma bancada ruralista forte e articulada atuando a várias legislaturas.

 

Este tipo de ação agressiva, e mesmo violenta, não é novidade na região que possui um histórico de conflitos por terra incluindo assassinatos de líderes comunitários, religiosos e pistolagem. A disputa pela terra entre latifundiários e pequenos produtores rurais é a tônica destes conflitos nesta parte da região amazônica. A violência gerada a partir desta dualidade de ideias é uma das principais características que evidenciam esta situação, onde há dificuldade dos latifundiários em consentir com a sustentabilidade do cultivo setor do agronegócio.

 

A exemplo disto, esta não é a primeira vez que atividades realizadas na Universidade Federal do Pará são alvos de ações de pessoas que tentam cercear o debate acerca dos conflitos de terra na região popularmente conhecida como “terra do meio”. No ano de 2017, o prefeito da cidade de Senador José Porfírio (PA), Dirceu Biancardi (PSDB), invadiu com uma comitiva de aproximadamente 40 pessoas uma atividade acadêmica organizada pela UFPA que tinha como intuito debater as questões de terra na região.

 

Cabe salientar que os conflitos por terra na Amazônia passaram por um processo de agudização desde meados da segunda metade do século XX. Onde o governo federal adotou diversas medidas de povoamento e exploração da região, que proporcionaram o aumento das tensões e conflitos neste território. Vale ressaltar a dimensão territorial do estado do Pará que consiste em ser o segundo maior estado do país. Em termos comparativos, este Estado possui a extensão territorial comparada a duas vezes a área da França.

 

Nós, da ANPG, incluindo as diferentes APGs que a integram,especialmente aquelas localizadas na Região Amazônica, somos defensores de um debate plural sobre o desenvolvimento e o futuro da Amazônia. Debate este que deve ser pautado no respeito às diferentes visões de mundo e aos modos de vida tradicionais, cujo uso da biodiversidade se faz de modo não predatório na grande maioria das vezes. Porém, no último período, esse setor tem sido mais fortalecido pela política de desmonte do sistema ambiental brasileiro por parte do governo federal, o qual vem incentivando a derrubada da floresta e empoderando esse setor a agir com violência.

 

Na qualidade de pesquisadores e cientistas, nós, pós-graduandos e pós-graduandas somos favoráveis a proteção dos ecossistemas da região e da sua rica biodiversidade, ao desenvolvimento econômico e principalmente social, feito por meios não destrutivos, que permitam a manutenção de modos de vida tradicionais e favoreçam o uso sustentável da biodiversidade e dos seus serviços ambientais. Como prova disto, temos que nossos estudos nos mostram rotineiramente que a Floresta e ecossistemas associados, quando mantidos em pé, têm o potencial de gerar e distribuir muito mais riquezas que os modelos de produção atuais baseados em commodities com baixa tecnologia e produtividade. 

 

A Amazônia é do Brasil e do seu povo, devendo ser preservada pelo seu papel estratégico no desenvolvimento soberano de nosso país. 

 

Assinaturas:

 

APG-INPA (Associação de Pós-Graduandos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia)

 

ABPG-INPE (Associação de Bolsistas, Pós-Graduandos e Pós-Graduados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)

 

APG-UFPA (Associação de Pós-Graduandos da Universidade Federal do Pará)

 

APG-UFPA/Bragança (Associação dos Pós-Graduandos e Pós-Graduandas da Universidade Federal do Pará, Campus Bragança)

 

APG-UEA (Associação de Pós-Graduandos da Universidade do Estado do Amazonas)

 

APG-UEM ( Associação de Pós-Graduandos da Universidade Estadual de Maringá)

 

APG-UFGD (Associação de Pós-Graduandos da Grande Dourados)

 

APG-UFPI (Associação dos Pós-Graduandos da Universidade Federal do Piauí)

 

APG-UFV (Associação dos Pós-Graduandos da Universidade Federal de Viçosa)

 

APG-USP Ribeirão Preto ((Associação dos Pós-Graduandos da Universidade de São Paulo, Campus Ribeirão Preto)