Ciência muito aquém das fronteiras

*Por Dalton Vassalo

Cortes no orçamento do MCTI poderão fazer com que a ciência brasileira não tenha forças para conhecer sequer as possibilidades que o País oferece. Será que a atual crise econômica do país levará a perda da principal riqueza de uma nação?

A Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE) manifesta sua grande preocupação com relação aos graves problemas nacionais que afetam a comunidade científica brasileira. A situação atual mostra sinais preocupantes para o futuro das atividades científicas nacionais, não só no que tange ao financiamento de pesquisas, como no problema ligado à fuga de cérebros para outros países. A falta de financiamento para atividades de pesquisa e a redução de oferta de posições no mercado de trabalho faz com que esses profissionais financiados, ao longo de sua formação, pelo governo brasileiro procurem soluções adequadas e atraentes fora do Brasil. Com relação a esse fato, manifestamos nossa preocupação com o Programa do CNPq, Ciência sem Fronteiras, que permitiu que muitos dos nossos pós-graduandos e pesquisadores, nossos melhores cérebros em estágio de formação, fizessem estágios em renomadas instituições no exterior, mas sem perspectivas de retorno às atividades em nosso país, ou seja, o futuro para a nossa comunidade científica está em risco.

Também estamos profundamente preocupados quanto ao desvio de recursos para outras atividades, com características paliativas e sem retorno, enquanto sacrificamos a nossa “galinha de ovos de ouro”, que é a geração de conhecimento e a formação de recursos humanos. Chamamos atenção ao fato de não ter sido lançado, neste ano de 2015, o tradicional Edital Universal do CNPq, edital esse fundamental para o desenvolvimento de pesquisa em muitas das Universidades e Centros de Pesquisa de nosso país, principalmente os que estão alocados em regiões que não possuem Fundações de Amparo à Pesquisa fortes e que podem auxiliar no desenvolvimento de ciência em nosso país.

Também salientamos a não avaliação em 2014 do edital para a criação de novos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT). Assim, esses fatos já apontam na direção desse sacrifício, que gera prejuízos futuros inimagináveis. O incentivo à Ciência e Tecnologia nos países desenvolvidos têm sido preservado e até mesmo fomentado em momentos de crise econômica, como forma de transformação e desenvolvimento da indústria nacional, sendo ali um dos principais motores de retomada da economia desses países.

Em 15 de março de 1985, foi criado o Ministério de Ciência e Tecnologia, hoje chamado Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, que veio ao encontro de atender a um antigo anseio da comunidade científica e tecnológica nacional e expressar a importância política desse segmento. No atual momento, é importante considerar a possibilidade de que o nosso Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação seja desmantelado, caso o Ministério sofra grande prejuízo em seu orçamento, ou, numa perspectiva mais nefasta ainda, seja extinto. Ou seja, em um momento em que a pesquisa no Brasil passou a ser considerada dentro do cenário mundial, em que brigamos pela qualidade cientifica de nossa pesquisa, de nossos alunos e a aplicação dessa pesquisa na comunidade, estamos prestes a perder 30 anos de evolução de multidisciplinaridade, formação de recursos humanos e ciência de qualidade. Dessa forma, manifestamos, enfaticamente, as nossas preocupações e conclamamos a comunidade científica e política do país para que atentem para os graves prejuízos que venham a ocorrer para com o futuro da nossa nação.

*Dalton Vassalo é o novo presidente da FeSBE

Fonte: Jornal da Ciência

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