Cortes de recursos para ciência e educação podem impactar pesquisas em longo prazo, adverte presidente da SBPC

carteira de estudante

Cortes nas áreas de ciência e educação são medidas que vão impactar consideravelmente o futuro da pesquisa desenvolvida no país, afirmou a professora Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em palestra na manhã desta sexta-feira, 23, no auditório da Reitoria, campus Pampulha. Com o tema Ciência, tecnologia e financiamento à pesquisa, a atividade integra programação da Semana do Conhecimento, que será encerrada nesta tarde.

A presidente da SBPC destacou que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) completou, neste ano, três décadas de existência e ressaltou sua importância para pesquisa e pós-graduação desenvolvidas no Brasil. Segundo Nader, o país ocupava, em 2013, a 13ª posição no mundo em número de trabalhos indexados publicados.

“Publicamos em revistas importantes, e nossos artigos alcançam número relevante de citações. Hoje ocupamos o 18º lugar em número de citações no mundo”, afirmou Nader, que refutou críticas que tentam relativizar a relevância do trabalho feito por pesquisadores brasileiros. “Temos hoje, nas pesquisas brasileiras, apenas um terço de autocitações. Os Estados Unidos, por exemplo, são o país que mais utiliza esse recurso”, explicou.

Dados apresentados por Helena Nader mostram que, de 1985 a 1989, o país teve 10 mil artigos publicados. Entre 2010 e 2014, 150 mil artigos de pesquisadores brasileiros foram veiculados em publicações internacionais. “É importante ressaltar também o número de artigos de revisão [escritos por meio de convite] publicados por pesquisadores do país, que aumentou consideravelmente a partir do ano 2000”, destacou. Em relação ao número percentual de artigos publicados no mundo, o Brasil saltou de 0,5%, no período de 1985 a 1989, para 3% nos últimos cinco anos.

“Naquele período, Brasil, México, Argentina, Chile e Colômbia se encontravam praticamente juntos em número de publicações no cenário internacional. Hoje, o Brasil se destaca”, comparou Nader.

Em relação à distribuição dos programas de pós-graduação no país, Helena Nader destacou o avanço ocorrido a partir de 2005. Em 1998, seis estados ainda não contavam com nenhum programa: Acre, Piauí, Rondônia, Roraima, Tocantins e Amapá. Em 2005, apenas o Amapá ainda não possuía cursos de pós-graduação, situação que se alterou há dois anos, em 2013.

“Isso mostra que temos argumentos sólidos para brigar por mais recursos para ciência, tecnologia e pesquisa. Essa mudança no cenário nacional é algo que vai impactar gerações”, afirmou.

Desafios do país
A inovação, segundo Helena Nader, ainda é um desafio para o Brasil, que ocupa, em uma lista de 142 países, a 64ª posição, atrás de outros países latino-americanos, como Uruguai, Argentina, Colômbia e México. “O ambiente brasileiro não é favorável à inovação. Não fosse a qualidade das nossas universidades, estaríamos em situação pior”, explicou.

Em relação a patentes, em 1999, o Brasil registrou cerca de 200 pedidos na USPTO (United States Patent and Trademark Office), obtendo aproximadamente 100 concessões. Em 2013, o número de pedidos de registro mais que triplicou, chegando a 700, mas a quantidade de concessões apenas dobrou, de 100 para 200.

“Precisamos de políticas sólidas e investimentos para ampliar a ciência, a tecnologia e, principalmente, a inovação no país. Além disso, é preciso corrigir as distorções na distribuição dos programas de mestrado e doutorado entre as regiões brasileiras, dando continuidade à política de expansão do sistema de ensino de pós-graduação nacional”, defendeu Nader.

SBPC na UFMG
Em 2017, ano em que completa 90 anos, a Universidade sediará, pela quinta vez, a reunião anual da SBPC. A candidatura da UFMG, que já abrigou quatro edições da reunião – em 1965, 1975, 1985 e 1997 –, foi apresentada aos dirigentes da sociedade no dia 11 julho deste ano pelo reitor Jaime Ramírez.

Cinco dias depois, a escolha foi anunciada pela presidente Helena Nader, em assembleia da entidade.Na época, uma edição especial do Boletim UFMG foi produzida para subsidiar a apresentação da candidatura da Universidade.

Fonte: UFMG