Acesso Livre: decisão entre simplesmente ter acesso ou inovar e promover a pesquisa

carteira de estudante

<p>At&eacute; bem recentemente e, mesmo hoje, o acesso &agrave; informa&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica tem se realizado por interm&eacute;dio das bibliotecas de universidades ou de institutos de pesquisa, ou por interm&eacute;dio de portais de peri&oacute;dicos, os quais mant&ecirc;m assinaturas de algumas revistas cient&iacute;ficas. No entanto, com a crise dos peri&oacute;dicos as bibliotecas passaram a ter dificuldade para manter as assinaturas de suas cole&ccedil;&otilde;es de peri&oacute;dicos cient&iacute;ficos devido aos altos custos.<br />
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A informa&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica &eacute; crucial para o desenvolvimento das pesquisas cient&iacute;ficas. N&atilde;o se pode esquecer que o desenvolvimento de pesquisas cient&iacute;ficas &eacute;, tamb&eacute;m, respons&aacute;vel pela gera&ccedil;&atilde;o de novas informa&ccedil;&otilde;es. Uma das vertentes da informa&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica s&atilde;o os artigos cient&iacute;ficos que s&atilde;o publicados em revistas com revis&atilde;o por pares, denominadas popularmente de revistas cient&iacute;ficas. Os artigos cient&iacute;ficos s&atilde;o portadores de resultados de pesquisas. Trata-se do principal mecanismo utilizado por pesquisadores para divulgar e certificar os resultados de suas pesquisas.<br />
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No in&iacute;cio deste mil&ecirc;nio, pesquisadores de diversas partes do globo terrestre, preocupados com essas dificuldades, promoveram f&oacute;runs de discuss&atilde;o que resultaram nas declara&ccedil;&otilde;es de Budapest (BOAI), Declara&ccedil;&atilde;o de Bethesda e Declara&ccedil;&atilde;o de Berlim e deram partida ao movimento Open Access (OA).<br />
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Em seguida, diversas iniciativas aderentes &agrave;s estrat&eacute;gias preconizadas pelo OA (via doutrada e via verde) foram desenvolvidas, tais como: projeto DRIVER, PubMed Central, BASE, HAL,Scirus, RCAAP etc.<br />
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Assim, em resposta &agrave; crise dos peri&oacute;dicos, verificou-se duas solu&ccedil;&otilde;es: 1) a constru&ccedil;&atilde;o dos portais de peri&oacute;dicos cient&iacute;ficos; 2) as iniciativas propostas pelo movimento OA (maiores informa&ccedil;&otilde;es sobre essas iniciativas podem ser vistas em meu blog http://www.kuramoto.blog.br/). A primeira solu&ccedil;&atilde;o &eacute; cara e mant&eacute;m o status quo,&nbsp; contribuindo para dar lucros extraordin&aacute;rios &agrave;s editoras cient&iacute;ficas, enquanto a segunda solu&ccedil;&atilde;o apresenta inova&ccedil;&otilde;es de baixo custo e introduz importante mudan&ccedil;a no sistema de comunica&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica. Vejam-na em meu blog.<br />
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O governo brasileiro criou e mant&eacute;m o Portal de Peri&oacute;dicos da Capes, que fornece o acesso &agrave;s principais revistas utilizadas pelas universidades e institutos de pesquisa. Alguns pa&iacute;ses adotaram solu&ccedil;&atilde;o parecida, os quais s&atilde;o mantidos por seus governos ou por funda&ccedil;&otilde;es especializadas nesse tipo de neg&oacute;cio. Em muitos pa&iacute;ses, s&atilde;o as pr&oacute;prias universidades que arcam com os custos desses portais. E, obviamente, elas n&atilde;o conseguem fornecer acesso a todos os peri&oacute;dicos cient&iacute;ficos existentes.<br />
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No entanto, independentemente de adotar ou n&atilde;o a solu&ccedil;&atilde;o de portais de peri&oacute;dicos, a maioria dos pa&iacute;ses desenvolvidos vem apostando nas iniciativas do OA. Isto pode ser visto no s&iacute;tio ROARMAP e em um artigo de minha autoria, publicado no Jornal da Ci&ecirc;ncia em sua vers&atilde;o impressa do dia 15 de abril deste ano, no qual mostro que 81% dos mandatos OA s&atilde;o registrados por institui&ccedil;&otilde;es provenientes da Am&eacute;rica do Norte e da Europa. A Am&eacute;rica do Sul participa com 2% dos mandatos e a &Aacute;frica do Sul com 1%. Entre os pa&iacute;ses da Am&eacute;rica Latina: a Col&ocirc;mbia registrou 4 mandatos, a Bol&iacute;via 1, o Peru 1, a Venezuela 1 e o Brasil, 1. Este &uacute;nico mandato registrado pelo Brasil acabou de ser arquivado pela C&acirc;mara dos Deputados. Entre os pa&iacute;ses que comp&otilde;em o BRIC, h&aacute; um total de 19 mandatos, assim distribu&iacute;dos: Brasil 1 (aquele mesmo que foi arquivado pela C&acirc;mara dos Deputados), a R&uacute;ssia 3, a &Iacute;ndia 8 e a China 7.<br />
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O objetivo das iniciativas OA &eacute; tornar livremente acess&iacute;vel os cerca de 2,5 milh&otilde;es de artigos que s&atilde;o publicados, anualmente, em aproximadamente 28 mil t&iacute;tulos de revistas cient&iacute;ficas.<br />
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A solu&ccedil;&atilde;o proposta pela via verde constitui uma estrat&eacute;gia muito inteligente, pois, muito mais que simplesmente promover o acesso livre de custos &agrave; informa&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica, ela promove maior visibilidade da produ&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica de quem a adotou. Outro aspecto importante a se observar &eacute; que, as universidades, que aderiram a essa estrat&eacute;gia, estabeleceram pol&iacute;ticas de acesso livre e contam com a participa&ccedil;&atilde;o ativa dos pesquisadores no dep&oacute;sito da sua produ&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica. Verifica-se, principalmente, um m&uacute;tuo esfor&ccedil;o entre universidade e seus pesquisadores. Os pesquisadores sabem que ter&atilde;o maior visibilidade, uso e impacto nas suas pesquisas. Enquanto isto, as universidades percebem um certo ganho de competitividade em consequ&ecirc;ncia do seu posicionamento em rankings internacionais como o Ranking Web of World Universities.<br />
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Por outro lado, quem n&atilde;o adotou tais iniciativas, certamente, n&atilde;o deixar&aacute; de se beneficiar do acesso livre de custos &agrave; produ&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica das institui&ccedil;&otilde;es que aderiram &agrave;s citadas iniciativas, por&eacute;m, n&atilde;o ter&aacute; como promover ou maximizar a visibilidade de sua produ&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica. &Eacute; evidente, se uma institui&ccedil;&atilde;o n&atilde;o implantou o seu reposit&oacute;rio institucional e n&atilde;o estabeleceu nenhuma pol&iacute;tica de acesso livre, certamente, esta institui&ccedil;&atilde;o n&atilde;o promoveu o registro e a dissemina&ccedil;&atilde;o da sua produ&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica.<br />
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A conclus&atilde;o que se chega &eacute; que a ado&ccedil;&atilde;o das iniciativas Open Access &eacute; uma quest&atilde;o de escolha entre: 1) ter acesso apenas &agrave;s revistas cient&iacute;ficas assinadas pelas universidades ou por seus governos sem valorizar os resultados de suas pesquisas; ou 2) ter acesso livre &agrave; informa&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica e promover a maximiza&ccedil;&atilde;o da visibilidade, uso e impacto de suas pesquisas. Trata-se de um excelente tema para reflex&atilde;o e debate da nossa comunidade cient&iacute;fica e decidir: aderir ou n&atilde;o &agrave;s iniciativas preconizadas pelo OA? Eis a quest&atilde;o.<br />
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Afinal, n&atilde;o basta apenas investir em pesquisas cient&iacute;ficas, mas principalmente, valoriz&aacute;-las por interm&eacute;dio de mecanismos que possam ampliar a divulga&ccedil;&atilde;o dos seus resultados.<br />
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No s&eacute;culo passado, esse mecanismo era basicamente a publica&ccedil;&atilde;o dos resultados em revistas cient&iacute;ficas. A partir da publica&ccedil;&atilde;o em revistas cient&iacute;ficas, essas eram distribu&iacute;das aos assinantes e indexadas por servi&ccedil;os internacionais de indexa&ccedil;&atilde;o e determina&ccedil;&atilde;o dos fatores de impacto. Este &eacute; o status quo no Brasil e na maioria dos pa&iacute;ses em desenvolvimento.<br />
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Gra&ccedil;as ao movimento OA, o sistema de comunica&ccedil;&atilde;o cient&iacute;fica foi alterado pela inser&ccedil;&atilde;o de mecanismos de amplia&ccedil;&atilde;o da divulga&ccedil;&atilde;o desses artigos: os reposit&oacute;rios institucionais. Revendo, o que foi mencionado, poder-se-ia reformular a quest&atilde;o – o OA: uma quest&atilde;o de escolha entre fazer ci&ecirc;ncia utilizando apenas mecanismos do s&eacute;culo passado; ou fazer ci&ecirc;ncia utilizando mecanismos inovadores, proporcionados pelas tecnologias da informa&ccedil;&atilde;o e iniciativas preconizadas pelo OA.<br />
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Concluindo, aqueles objetivos formulados para o OA, mais do que promover o acesso &agrave; informa&ccedil;&atilde;o cientifica, eles promovem os resultados das pesquisas, dando-lhes maior visibilidade, uso e impacto. Assim, cabe aos pa&iacute;ses em desenvolvimento optar entre pagar para ver e ler ou participar dessa grande infraestrutura de acesso livre que est&aacute; em constru&ccedil;&atilde;o e se beneficiar dos seus resultados.<br />
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*H&eacute;lio Kuramoto &eacute; pesquisador do MCT/Ibict</p>
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<p>(Via Jornal da Ci&ecirc;ncia)</p>