25º CNPG: Negros e negras por mais espaço na pós-graduação

carteira de estudante

A cada dez brasileiros, cinco são negros. A cada dez pós-graduandos, apenas dois são negros. A falta de acesso da população negra à universidade, que já acontece na graduação, também é um dos grandes entraves nos cursos de mestrado e doutorado pelo país. O tema tem sido debatido intensamente no último período, tanto no movimento negro como na Associação Nacional dos Pós Graduandos, e norteia uma das mesas do 25o Congresso da entidade nesta sexta-feira na Universidade Federal de Minas Gerais.

DSC_1694
Foto: Guilherme Bergamini

Uma das reivindicações da ANPG é a devida implantação da portaria do Ministério da Educação que define políticas afirmativas de inclusão racial nos programas de pós-graduação das instituições federais de educação superior. O documento foi assinado no mês de maio. A luta por essa medida vem sendo travada há cinco anos, de acordo com um dos seus principais defensores, o fundador da ONG Educafro: “Ameaçamos ocupar a Capes, depois ocupar o Ministério da Educação para que nossa voz fosse ouvida nessa questão. Conseguimos avançar, mas ainda não estamos satisfeitos”, declara.
Também participam do debate o presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN) Paulino Cardoso, Wescrey Portes, diretor da ONG Enegrescer, Luciene de Oliveira Dias, professora da UFG e Gabriel Nascimento, diretor da ANPG. Os pós-graduandos também discutiram o tema da democracia racial no Brasil e os desafios para a superação do racismo no país.
“O espaço de poder no mundo eurocêntrico é o espaço do poder de fala. Por isso, quanto mais negros e negras estiverem empoderados do conhecimento, mais poderemos fazer avançar as nossas causas. Precisamos combater o domínio do eurocentrismo na academia e buscar a efetivação de programas de mestrado e doutorados que tenham como foco as questões do povo negro, do povo indígena”, explica Frei David.
Ele cita outros exemplos de universidades que exploram o conhecimento de forma plural, mesmo estando em um eixo cultural menos diversificado que o Brasil: “A própria universidade de Harvard leva a sério essa composição diversa do conhecimento abrindo espaço em meio ao predomínio dos saberes europeus. No Brasil não avançamos nisso. Há um saber mal explorado que vem a partir do mundo africano. Esse conteúdo precisa se mostrar em toda sua inteireza e integridade”, defende.
A luta das entidades do movimento negro, agora, é para a definição de uma porcentagem mínima para as cotas raciais na pós-graduação e para a ampliação da assistência estudantil para os estudantes negros.
Artênius Daniel