25º CNPG: Mulheres discutem representatividade na academia

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Foto: Guilherme Bergamini

“Para ocupar o mesmo posto (de um homem) e ganhar o mesmo salário, a mulher tem que estudar oito anos a mais”, alertou Lúcia Rincon, presidenta da União Brasileira das Mulheres (UBM), durante um debate sobre a representatividade feminina na academia no 25º Congresso Nacional de Pós-Graduandos. A discussão, realizada neste sábado (11), escancarou a desigualdade da sociedade patriarcal brasileira para os estudantes.
Lúcia Rincon avalia como “ruim, mas melhorando” a presença das mulheres na academia. A existência delas está marcada pelo conservadorismo. Embora sejam a maioria, continuam concentradas em profissões menos prestigiadas. A presidenta brinca que para se ter um parâmetro bom a fim de se estimar esse pequeno avanço, só mesmo comparando os números de hoje com o do século passado. “Para ter uma melhora substancial a gente tem que buscar para trás, senão não mostra nem muita diferença”, disse.
A presidente da UBM pondera que a presença feminina na faculdade vem aumentando significativamente nos últimos 40 anos, mas que é estigmatizada pelos padrões e cultura patriarcais. “Fica condicionada pelos mesmos elementos: homem, branco, hétero. Eles sempre têm postos melhores. E mulheres são cuidadoras, prestadoras de serviço. A academia vai reproduzir isso também”, explica.
Não se pode ainda estabelecer o raciocínio lógico de que se há mais mulheres com títulos, logo há mais mulheres recebendo mais. Entre os profissionais com nível maior de instrução (13 anos ou mais de estudo), a disparidade salarial entre gêneros chega a 25,6%, segundo a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
Esse perverso sistema machista acaba se retroalimentando. Durante a formação, as referências de autores masculinos são predominantes. Lúcia destaca que é importante dar visibilidade à produção e ação das mulheres. “Mas quase tão importante quanto isso, é combater todo tipo de violência, porque elas excluem”, pondera. Para ela, devido à violência simbólica, as próprias estudantes acabam reproduzindo o sistema.
Diariamente, as pós-graduandas lidam com diferentes tipos de assédio: moral, sexual e físico, nas instituições. “Nas áreas das ciências duras, isso se manifesta de forma mais violenta, inclusive”, relembrou a presidente da UBM. Isso torna ainda maior o desafio de se arriscar por esse ambiente nada acolhedor.
Lúcia observa que do ponto de vista da estrutura acadêmica, várias medidas paliativas podem ser tomadas para combater o machismo nas universidades. Mas que, sob a perspectiva do conteúdo, é preciso que essas instituições absorvam a transversalidade de gêneros nas matrizes curriculares e nas práticas docentes. “Se não, vamos continuar formando gente sob a égide apenas do patriarcado”, finalizou.
A mesa de debate contou também com a presença de Maira Soares Ferreira, pesquisadora da Universidade Federal de Goiás. Ela atentou para a importância de se ter ciência de que existem muitas mulheres produzindo para a academia. “É que somos inviabilizadas. Esses espaços, essas falas e essas produções são desvalorizadas. São subalternizadas”, explica.
Segundo ela, a sociedade perde ao não considerar um conhecimento que existe e que a produção predominante não se interessa por temas importantes como o corpo e a saúde da mulher. “Se a gente chegar a um ginecologista hoje, 2016, e perguntar para ele por que nós temos tanta cólica ou o que é a TPM, ele não sabe responder. Porque não tem produção sobre isso”, exemplifica. Assim, a população acaba não tendo acesso a um conjunto de saberes que já está aí, como a rica cultura da obstetrícia indígena, rural e quilombola, que é desmerecida.
Shirley Pacelli, de Belo Horizonte.