A revista VEJA e a antropologia

carteira de estudante







Em recente matéria intitulada “A farra da antropologia oportunista” (Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010), a Revista Veja, ao tratar da demarcação das terras aos povos quilombolas e indígenas, além de dizer que a demarcação de terras fere os direitos de propriedade “dos que querem produzir”, também profere ataques a pesquisadores brasileiros.

A matéria afirma que os antropólogos brasileiros elaboram laudos “sem nenhum rigor científico e com claro teor ideológico de uma esquerda que ainda insiste em extinguir o capitalismo, imobilizando terras para a produção”. Justifica a falsa assertiva com uma suposta declaração do renomado antropólogo da UFRJ, Eduardo Viveiros de Castro

Em carta aberta à Revista Veja, Viveiros de Castro deixou claro que jamais concedeu entrevista à Revista Veja e que a considera repugnante e mentirosa. Leia a íntegra da carta aqui.

A comunidade científica recebeu com indignação o conteúdo da reportagem, cientistas e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento inclusive registram precedentes de jornalismo irresponsável por parte da referida revista. Diversas organizações já se manifestaram e a ANPG se soma a elas e divulga uma Nota de Repúdio escrita pelo  mestrando Theófilo Rodrigues. Em defesa dos povos quilombolas e indígenas, e principalmente em defesa dos pesquisadores brasileiros que fazem do resgate e da preservação da memória dos povos oprimidos sua principal atividade científica.

Leia as notas da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) aqui.

 

Nota de repúdio à Revista Veja e solidariedade aos antropólogos, quilombolas e indígenas.

Uma democracia plena deve ser alicerçada por um amplo espaço de liberdade de imprensa. Mas a Revista Veja, ao publicar a matéria intitulada “A farra da antropologia oportunista” (Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010), confunde liberdade de imprensa com liberdade de fraude, mentira e apologia ao preconceito e à discriminação.

Afirmações como “demarcação da Raposa Serra do Sol, que feriu o estado de Roraima” e “as próximas gerações terão de se contentar em ocupar uma porção do tamanho de São Paulo e Minas Gerais”  não só possuem um tom irônico e jocoso, mas também revelam uma clara postura elitista deste veículo de comunicação. Além de em outros trechos a publicação colocar em xeque a postura de pesquisadores brasileiros.Os pós-graduandos defendem uma sociedade em que a diversidade cultural seja respeitada, na qual as opiniões sejam construídas com base em dados corretos. Para que assim, justiça social e a democracia andem de mãos dadas.

Nesse sentido, assim como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e o restante da comunidade científica nacional, nos solidarizamos com os povos quilombolas e indígenas e nos colocamos ao lado da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) no repúdio à Revista Veja.

Theófilo Rodrigues, mestrando em Ciência Política na UFF, delegado ao XXII Congresso Nacional de Pós-Graduandos