A quem interessa o silêncio das entidades representativas?

Por Marcelo Arias*

Em épocas de segundo turno, pululam declarações de apoio de entidades representativas à um ou outro candidato. E pululam, em menor medida, críticas ao posicionamento das maiorias representadas nessas direções.

Até aí, nenhuma novidade. Entidades representativas democráticas se caracterizam por eleições periódicas em que grupos de afinidade política e programática se candidatam, por chapas, para ocupar os espaços de direção e interferir nos rumos da entidade e da organização da categoria que a mesma representa. E também, em entidades democráticas, está livre o direito de associar-se ou desassociar-se. Da mesma forma, insatisfeitos com a prática política de uma entidade representativa e associativa podem se aglutinar em grupos de afinidade e disputar as eleições.

Mas, para além desse debate formal, trata-se de avaliar o que está por trás das reclamações. Sob a aura da evocação de um certo apartidarismo, se misturam argumentos com pouca razão.
Em primeiro lugar, uma posição política pontual não pode ser travestida de partidarismo. Quando uma entidade representativa expressa uma opinião política, a faz em nome da maioria que a elegeu. É vã a tentativa de colar o rótulo de partidarismo em declarações que aparecem apenas no episódio do segundo turno.

Em segundo lugar, a opinião eleitoral de uma entidade representativa leva em consideração a formação do ambiente político no qual as reivindicações da categoria representada serão apresentadas. E é lícito que pretendam influir nesse ambiente, por fazerem parte dele. É saudável que existam opiniões divergentes, sem que isso represente qualquer ataque à opinião individual de um ou outro representado.

Em terceiro lugar, as opiniões coletivas possuem primazia sobre as individuais, sem que isso signifique a sua obscurecência. As organizações coletivas possuem essa natureza de vocalizar opiniões de maiorias ocasionais, que podem ser substituídas em procedimentos eleitorais vindouros através da formação de novas maiorias.

Por fim, o silêncio das entidades representativas interessa àqueles que coadunam com as opiniões da mídia oligopolizada. A mídia impressa e televisionada opina todos os dias para milhões de brasileiro e não se fazem críticas a esse procedimento. Apenas à pouca pluralidade dessa primazia. Calar as entidades representativas interessa apenas àqueles que tem pouco apreço pela pluralidade de opiniões ou àqueles que se sentem ameaçados pela elevação da consciência das categorias de trabalhadores e estudantes, bem como dos setores historicamente apartados do direito de comunicação.

Democracia é, também, o direito a que todas as organizações se expressem politicamente, sem censuras internas ou externas, e que também publiquem, através de seus meios, o contraditório (Salve Xico Sá!).

*Marcelo Arias é diretor de juventude da ANPG e Mestrando da USP

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