8 de março e a Reforma Política

Por Tamara Naiz*

O Dia Internacional da Mulher é uma data a ser comemorada e refletida, pois carrega o simbolismo de todas as lutas e vitórias que as mulheres obtiveram ao longo da história. Desde a luta por melhores condições de trabalho e vida, à luta por direitos políticos e civis, direitos sexuais e reprodutivos, as pautas permanecem atuais. Comemorar o dia 8 de março significa compreender a importância dessa trajetória.

Na atualidade as mulheres se esforçam cada vez mais para desempenharem seus múltiplos papeis sociais, encarando muitas vezes jornadas duplas. Entretanto, esse esforço é ainda pouco refletido na ocupação de espaços de empoderamento na sociedade.

Estamos habituadas a ouvir, por exemplo, que alguns espaços não são para as mulheres.O meio cientifico é um exemplo:a ciência foi vista e registrada ao longo do tempo como uma atividade essencialmente masculina, todavia a contribuição das mulheres se deu desde seus primórdios. Hoje muitos historiadores e outros pesquisadores se dedicam a trazer à tona as trajetórias dessas mulheres, de modo que suas contribuições sejam reconhecidas em diversos campos.

Em que pese o fato de que, no Brasil, na ultima década, tivemos significativas mudanças que ampliam as possibilidades de emancipação das mulheres, nosso país ainda ostenta péssimos índices: a cada 12 segundos uma mulher é vitima de violência no país e mais de 50 mil pessoas são estupradas por ano, a maioria absoluta meninas e mulheres.

Ainda hoje, em pleno século XXI, nós mulheres brasileiras lutamos por igualdade de oportunidade profissional e salário, pois mesmo tendo uma média de escolarização superior à masculina, temos menores salários; trabalhamos em média três horas a mais que os homens (segundo a ONU) semanalmente e temos menos chances de promoção (Segundo uma pesquisa da revista Forbes, 96%, das 500 executivas entrevistadas, disse ter sido prejudicada em promoções por serem mulheres). Na pós-graduação essa realidade não é diferente, para se ter uma  ideia, segundo dados da Capes (Mestres2012), uma mulher com a titulação de mestre ganha me media 42% a menos que um homem com a mesma titulação, uma desigualdade maior que no mercado de trabalho em geral (uma diferença media de 19%, segundo o Banco Mundial);.

A representatividade e a igualdade de oportunidades são das questões mais centrais da luta feminista na atualidade. Nós mulheres lutamos há séculos para ter oportunidades de estar em espaços públicos, em espaços de decisão. Não se trata de querer ocupar os espaços masculinos, mas de promover igualdade de oportunidades para o empoderamento.

A participação das mulheres nos espaços de decisão é ainda muito insuficiente.Um exemplo dessa disparidade é a legislatura iniciada pela Câmara Federal em 2015, onde,dos 513 parlamentares empossados apenas 51 são mulheres.Isso representa menos de 10% do número de parlamentares, quando as mulheres são mais de 50% da população brasileira, ou seja, há uma sub-representação, e ela está refletida em diversos setores da sociedade.  Essa é uma questão que devemos encarar com cada vez mais responsabilidade, ter mulheres em espaços de decisórios é representativo e faz muita diferença, mostra que as mulheres são tão capazes quanto os homens. Portanto a defesa de uma REFORMA POLÍTICA COM PARIDADE DE GÊNERO é fundamental para que se aprofunde a democracia em nosso país.As mulheres comprometidas com a justiça social e com a transformação de nosso país devem ter voz e presença em todos os espaços, começando pelos partidos, parlamentos e governos, até os demais setores da sociedade, como universidades, associações, ONGs, empresas públicas e privadas, judiciário, etc.

Como se vê, há muito no que avançar para a conquista de melhores condições de vida das mulheres e do povo, essa é uma luta de todos nós.Há mais de oito décadas, as mulheres brasileiras saíram às ruas pelo direito ao voto, agora retornaremos em milhares, por mais mulheres na politica, pelo fim do poder econômico nas eleições e por mais mecanismos de democracia direta. Essa reforma política deve ser para que homens e mulheres, de diferentes classes possam disputar com as mesmas condições de serem eleitos, assim teremos mais vozes femininas e poderemos transformar mais profundamente a vida das mulheres e do povo brasileiro.

Um registro necessário

                Quero aproveitar para registrar aqui, nesse texto, que é mais uma reflexão particular do que qualquer outra coisa, a minha satisfação de participar desta entidade, a Associação Nacional de Pós-Graduandos.

Estar à frente da ANPG não é uma tarefa simples, ou fácil, é complexa e exige grande dedicação, que deve ser encarada com determinação de quem deve honrar a confiança que lhe é dada. A ANPG, ao longo de sua trajetória, teve postura de defesa incondicional da Educação, da Ciência e da Tecnologia em nosso país.Parto dessa defesa e da compreensão de que essas são áreas fundamentais para um país que quer e que precisa se desenvolver em novos patamares.

Mas registro que não partimos do zero, mas de um caminho trilhado, com determinação, por gestões anteriores.Por isso mesmo, mantenho a convicção de que estamos no rumo, e que não podemos nos cansar ainda, pois há muito a se fazer para pavimentar o caminho da construção do Brasil dos nossos sonhos. Tenho orgulho em saber, que ao longo da trajetória dessa entidade, por diversas ocasiões houve mulheres como dirigentes principais.AANPG teve nove presidentas ao longo de seus 29 anos de história:Thereza Galvão da Silva (1986-1987), Soraya Smaili (1989-1990), Elvira Maria Ferreira Soares (1996-1997), Tatiana Lobato de Lima (2001-2002), Elisa Campos Borges (2005-2006), Maria Luiza Nogueira Rangel (2006-2007), Elisangela Lizardo Oliveira (2010-2012) e Luana Meneguelli Bonone (2012-2014).Isso demonstra não apenas o quão arejada é a entidade, mas também reflete, sem dúvida,um avanço da luta das mulheres, pois a luta feminista é por igualdade, e as mulheres tem se dedicado muito à sua formação e qualificação profissional.Infelizmente isso nem sempre se reflete em igualdade de oportunidade ou de direitos, mas há uma mudança em curso, a luta feminista avança, e ter mais mulheres em espaços de empoderamento reflete esse avanço.

Sabemos que ainda há muito em que se avançar e cada mulher em espaços de poder significa passos andados na direção de uma sociedade mais igualitária. Considero, a mim e a esta gestão, herdeiras da trajetória de luta destas mulheres e dos pós-graduandos.Vamos continuar firmes, reforçando nosso compromisso com a construção de uma nova sociedade, pois acreditamos que todos, mulheres e homens, devem ter direito a igualdade de oportunidades e a viver uma vida sem violência e opressão.

*Tamara Naiz é doutoranda em História pela UFG e presidenta da ANPG

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