Ato-festa marca a refundação da APG-USP Capital

carteira de estudante
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A quinta-feira (6), marca o início de um novo ciclo no movimento de pós-graduandos da Universidade de São Paulo (USP). Um grande ato com festa e homenagem a ex-alunos combatentes da ditadura, comemora a refundação da Associação de Pós-Graduandos da Universidade de São Paulo, que, a partir de agora, passa a se chamar APG-USP Helenira ‘Preta’ Rezende.

Helenira “Preta” Rezende, ex-aluna da USP, foi perseguida e morta durante a ditadura militar. Segundo o texto divulgado pela entidade, Helenira ‘simboliza de modo muito concreto o atual momento das lutas sociais e políticas que se travam no interior da USP: a luta por liberdade de expressão, por imposição de limites à atuação das forças policiais, por democratização interna, por ampliação do acesso, sobretudo aos pobres e afrodescendentes, e pelo reconhecimento do direito fundamental de memória, verdade e justiça.’
 
A APG-USP convida os pós-graduandos, estudantes, técnicos e professores para a festa de refundação na sede da entidade, ao lado do bandejão central. A atividade começa às 17 horas com uma homenagem para Helerina Rezende. Logo após o ato, às 18 horas, será formada uma roda de samba. 
 
 
Leia abaixo a íntegra do texto da APG-USP Helenira ‘Preta’ Rezende
 
 
A Universidade de São Paulo vive, hoje, um momento peculiar da sua história. As demandas por democratização interna, tão antigas quanto a própria USP, atingiram um limiar incontornável.  Não é mais possível ignorar a luta pela ampliação do acesso, sobretudo através da implementação cotas sociais e raciais. Igualmente incontornável será a reforma dos processos de eleição interna, pautados por uma ampliação da representatividade dos órgãos colegiados. Fica cada dia mais difícil não ouvir as vozes que reivindicam o direito à memória e à justiça, particularmente dos processos antigos e atuais de perseguição política no interior da USP.
 
Nesse contexto de crise e mudança iminente, as entidades representativas das diferentes categorias da universidade podem desempenhar um papel central ao disputar o sentido e a direção das reformas que deverão ser construídas. Para tanto, essas entidades precisam se organizar e se institucionalizar para cumprir o papel que lhes cabe. Foi partindo desse diagnóstico que a atual gestão da Associação dos Pós-graduandos da USP-capital vem buscando, nos últimos meses, reconstruir a entidade, através do resgate e reabilitação da sua sede, da regularização jurídica do seu estatuto, do reconhecimento institucional e político da sua importância e da viabilização de formas de auto-financiamento.
 
Uma parte importante desse processo foi a ‘refundação’ da entidade através da aprovação de um novo estatuto, ocorrida em outubro deste ano. Como parte da refundação’, a APG foi renomeada e hoje se chama Associação d@s Pós-graduand@s da USP capital – Helenira “Preta” Rezende.
 
Helenira “Preta” Rezende, ex-aluna da USP perseguida e morta durante a ditadura militar, simboliza de modo muito concreto o atual momento das lutas sociais e políticas que se travam no interior da USP: a luta por liberdade de expressão, por imposição de limites à atuação das forças policiais, por democratização interna, por ampliação do acesso, sobretudo aos pobres e afrodescendentes, e pelo reconhecimento do direito fundamental de memória, verdade e justiça. Por tudo isso e pelo que a APG espera contribuir para esse processo, gritamos bem alto: Helenira “Preta” Rezende, PRESENTE!
 
 
Sobre Helenira Rezende de Souza Nazareth
 
 
Helenira Rezende de Souza Nazareth, conhecida como “Preta” por seus colegas da USP, nasceu em 19 de janeiro de 1944 na cidade de Cerqueira Cesar, interior do Estado de SP. Aos 4 anos, mudou-se para Assis, onde concluiu seus estudos básicos e se destacou como esportista em diversas categorias. Desde cedo, engajou-se na militância política, fazendo parte da fundação do Grêmio da escola em que estudou e sua primeira presidenta eleita.
 
Estudante aplicada, logo ingressou na Faculdade de Filosofia da Rua Maria Antônia, no curso de Letras. Muito ativa no movimento estudantil, chegou a ocupar o cargo de vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1968, ano em que foi presa por duas vezes. Sua segunda prisão ocorreu em Ibíúna, no famoso 30o Congresso da UNE que contou com 800 estudantes.
 
Esteve detida no Presídio Tiradentes, no DEOPS e no Presídio de Mulheres do Carandiru, de onde saiu em virtude de um habeas corpus impetrado em seu favor e deferido em 12 de dezembro de 1968, na véspera da edição do AI-5.
 
Desde então, passou a viver na cladestinidade, vivendo em diferentes cidades até seguir para o Araguaia, na preparação da Guerrilha organizada pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), no qual militava. Foi morta a golpes de baioneta em 29 de setembro de 1972. Declarações da ex-presa política Elza de Lima Monnerat, em Auditoria Militar, à época, afirmam que “… Helenira, ao ser atacada por dois soldados, matou um deles e feriu outro. Metralharam-na nas pernas e torturaram-na barbaramente até a morte…”.
 
A Associação de Pós-Graduandos da USP tem a honra de adotar o nome dessa mulher, negra, ex-estudante da USP e corajosa lutadora do povo brasileiro, que tombou com dignidade, defendendo a liberdade e a justiça social. Como disse sua irmã, Helenalda Rezende, “Helenira foi, acima de tudo, uma cidadã brasileira consciente de seus atos, que empunhou a bandeira da justiça e da liberdade, lutando obstinadamente até a morte”.
 
Que sua memória nos sirva de inspiração e exemplo da luta por democracia, dentro e fora da USP.
 
 
Acompanhe as atividades da APG-USP pelo site http://apguspcapital.wordpress.com/
 
 
Da redação, com informações da APG-USP