Diretoria da ANPG toma posse com o desafio de “É pintar o Brasil que queremos: pós-graduandos e pós-graduandas na reconstrução do Brasil.”

A simbólica Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP) abrigou, na noite desta sexta-feira (04/11), o ato de posse da nova diretoria eleita da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), entidade representativa de mestrandos e doutorandos brasileiros. Participaram do evento, de forma presencial ou remota, dezenas de lideranças da academia, das ciências e do movimento estudantil.

Pelas circunstâncias históricas, a solenidade ganhou ares de comemoração, afinal, após quatro anos de descaso e sabotagem do governo à ciência e aos pesquisadores, a vitória da frente democrática liderada por Lula nas eleições presidenciais promete descortinar um novo tempo de esperança para a Nação.

O novo presidente da ANPG, Vinicius Soares, deu a tônica do que seria o ato, demonstrando a satisfação dos jovens cientistas ao ver derrotado o projeto autoritário, após 6 anos do golpe de 2016 e o trágico período de Bolsonaro. “Muitos que estamos aqui pensamos que seria impossível chegar. Estamos resistindo desde 2016. Em 2019, no começo do governo Bolsonaro, já tivemos que colocar milhares de pós-graduandos nas ruas contra os cortes. Defendemos uma frente ampla, unindo os divergentes para combater os antagônicos, e vencemos. Precisamos manter a luta para que essa conquista prevaleça”, afirmou.

Para a entidade, as principais pautas da pós-graduação no próximo período serão o reajuste imediato das bolsas, a recomposição orçamentária das agências Capes e CNPq para, no mínimo, os níveis de 2014; e a finalização do novo PNPG. “Bolsonaro tirou o Brasil do mapa da ciência e colocou no mapa da fome. O povo brasileiro pode contar com ANPG, vamos resgatar nossos símbolos nacionais e reconstruir o Brasil”, assegurou Vinicius.

Ana Priscila, vice-presidenta, apontou que, mesmo com a vitória de Lula, será necessário garantir o governo eleito, diante do golpismo dos bolsonaristas. “Vamos precisar de esperança, mas também de “pé na porta””, disse, em alusão à resistência, “porque já estamos chamados a garantir a posse do presidente eleito”.

A secretária-geral Raquel Luxemburgo considera que o primeiro passo foi dado ao derrotar Bolsonaro nas urnas, mas será necessário um processo maior de lutas para derrotar a corrente política que ele implantou. Para tal, avalia, será necessário aproximar a ciência da realidade do povo. “A ciência que a gente produz, majoritariamente, não é para a nossa população; o que queremos é construir uma ciência popular, uma pós-graduação popular”.

Convidada à mesa, Flávia Calé, ex-presidenta da ANPG, falou sobre a importância de criar pontes para a retomada do debate público no Brasil e sobre a perspectiva de avanços de pautas que seriam inimagináveis em um novo governo reacionário, como investimentos em C&T através de estatais. “Passamos por um período de trevas, fazendo a resistência que nos trouxe até aqui, mas vocês podem ter um caminho aberto para grandes avanços e conquistas”, disse.

Anfitrião do ato, Marcio Alves, pró-reitor PUC-SP, destacou a importância de zelar por cada vitória obtida, visto que os últimos 4 anos mostraram como conquistas podem ser frágeis. “A destruição [feita pelo governo Bolsonaro] foi de tal monta que a reconstrução não será tarefa de curto prazo”, avaliou.

Para Robério Rodrigues, professor da Uesb e diretor da Foprop, o governo atual acelerou e agravou um processo de desvalorização da ciência iniciado antes desde 2015, quando foi imposto um ciclo de decréscimo de investimentos na ciência brasileira, sucateamento do parque científico e desvalorização do pós-graduando. “O que esperamos é a valorização de quem faz ciência, com a contagem de tempo de trabalho para quem pesquisa e a recomposição das bolsas, que estão há 9 anos sem aumento e com 70% de perda de valor”, afirmou em apoio às pautas da ANPG.

Opinião semelhante foi manifestada por Odir Dellagostin, presidente do Confap (Conselho Nacional de Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa, para quem é prioridade valorizar a ciência produzida por pesquisadores que estão nos laboratórios coletando e sistematizando informações, os estudantes. Conhecedor da defasagem das bolsas, Dellagostin foi categórico quanto à urgência da pauta.

“O valor das bolsas é o pior da série histórica dos últimos 25 anos. Portanto, é urgente fazer a recomposição das bolsas. De março de 2013 até agora, a desvalorização chegou a 75%. Na década de 90, as bolsas chegaram a valer 10 salários-mínimos. Claro, o mínimo cresceu e talvez não seja o caso de [a bolsa] ser 10 hoje. Mas, sem dúvida, não pode valer 1,8”, garantiu.

Helena Nader, presidenta da Academia Brasileira de Ciências (ABC), ressaltou o papel histórico da ANPG nas lutas pelo avanço e desenvolvimento nacional. “Vocês são parceiros de longa data. Juntos vamos na luta pela educação e pela ciência do nosso país, pela valorização da pós-graduação e dos valores das bolsas”, disse.

O ex-ministro da Educação e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) enalteceu a importância da vitória do campo democrático no pleito eleitoral. “É importante saudar a realização de eleições democráticas, apesar de tamanho uso da máquina, algo nunca visto desde 1930. É preciso garantir que essa vontade popular se expresse, até porque vem ao encontro dos anseios da ciência, da educação, da saúde e do meio ambiente”.

Reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e presidente Andifes, Marcelo Fonseca, considerou que, passado ciclo tão conturbado de um governo de desmonte institucional, será necessário reerguer as estruturas da Educação e da Ciência. Para ele, “nesse novo ciclo que o Brasil passará, teremos uma nova tarefa, a de reconstrução. É preciso reestruturar essa fase da formação acadêmica”.

Também participaram do ato diversas lideranças de entidades da sociedade civil, como Ênio Pontes, representando o ProIfes; Jade Beatriz, presidenta da UBES; Deltan Felipe, da Abrapen; Camila Infanger, do Parent in Science; Mariana Moura, dos Cientistas Engajados; Mayra Goulart, do Observatório do Conhecimento e Luiz Carlos, da APG da PUC-SP.

O encerramento do ato de posse foi marcado pela leitura da Carta “Para pintar o Brasil que queremos” na pós-graduação, documento que apresenta um conjunto de reivindicações e lutas que devem nortear as ações da ANPG neste biênio.

 

Leia a CARTA ANPG FINAL