Garantir direitos e conquistar um novo PNPG para reconstruir o Brasil

O segundo dia de debates do III Encontro de Mulheres Estudantes da ANPG teve início pautando os desafios da construção de um novo PNPG, na mesa “Mulheres transformam a ciência: luta por direitos e o novo Plano Nacional de Pós-Graduação”, com a participação das professoras Fernanda Sobral, vice-presidenta da SBPC, Sandra Goulart, reitora da UFMG e presidenta do Grupo Montevideo, Luane Bento, doutoranda da PUC-Rio e representante da Associação Brasileira de Pesquisadoras Negras, e Geovana Lunardi, presidenta da ANPED.

Fernanda Sobral iniciou as explanações abordando que há uma inegável desproporção histórica entre os gêneros na produção científica, mas que aconteceram avanços nos últimos. Exemplo disso é que o número de titulações de doutoras cresceu 61% entre 2013 e 2019. Contudo, as barreiras à igualdade ficam nítidas quando são analisados os postos de direção e mesmo a divisão por dos titulados pelas áreas do saber, que em que as mulheres são maioria em ciências de saúde e linguística, mas ficam em defasagem nas engenharias e nas exatas.

Seguindo linha semelhante, a reitora da UFMG, Sandra Goulart, alertou para o chamado “efeito tesoura” que marca a carreira acadêmica para as mulheres. Maioria entre matriculados na pós-graduação com cerca de 54%, esse percentual vai se reduzindo drasticamente no avançar do tempo. Emblemático dessa desproporção é que, segundo a professora, “apenas 23% das bolsistas 1.A do CNPq são mulheres”.

Ela também alertou para um ciclo de invisibilidade da produção acadêmica feminina que se materializa na baixa quantidade de citações de mulheres como referências em trabalhos científicos. Para romper tal estado de coisas, clamou que “mulheres citem mulheres” em suas dissertações e artigos acadêmicos.

Doutoranda e representante da Associação Brasileiras de Pesquisadoras Negras/os, Luane Bento demonstrou que, embora avanços tenham ocorrido em governos anteriores, a pós-graduação permanece majoritariamente branca e pediu respeito às políticas afirmativas e mais políticas que garantam a permanência de pós-graduandas/os.

Também ressaltou que as referências intelectuais na academia continuam a ignorar saberes historicamente relegados a segundo plano para privilegiar pensadores brancos de origem europeia. Em sua concepção, “é preciso descolonizar os currículos” como forma de favorecer a permanência intelectual de negras e negros na pós-graduação.

Geovana Lunardi, presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), mostrou dado irrefutável que retrata a desigualdade de gêneros nos postos de direção da academia e seus reflexos na política: entre os 58 ministros da Educação que o Brasil já teve, apenas uma vez o posto foi ocupado por uma mulher.

Sistematizando o debate e elencando propostas concretas para o novo Plano Nacional de Pós-Graduação, a presidenta da ANPG, Flávia Calé, afirmou que o desafio do próximo período é voltar a desenvolver o país, reconciliar a sociedade, resolver dramas urgentes, como a fome e a miséria, além de enfrentar problemas específicos que afetam a pós-graduação, em particular no caso das mulheres.

Em sua opinião, é preciso que a conquista da licença-maternidade para pesquisadoras-mães seja efetivada automaticamente e até mesmo antecipada, em caso de necessidade; propôs que as bolsas de estudos devem observar critérios econômicos, beneficiando aqueles que têm dedicação exclusiva e precisam do apoio, independentemente da nota de seu programa, além de defender que as cotas raciais na pós-graduação devem ser garantidas em lei e que os pós-graduandos devem ser incluídos nas políticas de permanência do PNAES, como alguns dos desafios a serem debatidos no próximo PNPG.