Entrevista com a Reitora da Unifesp, Soraya Soubhi Smaili

carteira de estudante

 "É preciso um tratamento equânime nas posições de comando. De fato, nós ainda temos muita dificuldade de aceitação da mulheres nesses postos. A Unifesp ao optar duas mulheres[vice-reitora também é uma mulher] com uma proposta de mudança, nos dá maior responsabilidade e, por isso, acreditamos que teremos maior apoio para fazermos essas mudanças necessárias", declara a reitora recém eleita, também pesquisadora farmacológica. 



Para ela, sua gestão tem o compromisso de enfrentar essa questão: "Muitas vezes a violência contra a mulher no meio universitário vem num olhar, numa expressão, o assédio moral. A nossa universidade nunca enfrentou esses desafios de discutir essas questões e na nossa gestão entendemos que esse será dado um grande passo nessa discussão, no que diz respeito ao papel da universidade para tratarmos da questão da violência e do assédio."



Além da discriminação de gênero, Soraya lembrou da discriminação social. “É também uma questão social. As funcionárias, técnicas administrativas em posição de maior vulnerabilidade, têm relatos de assédio. Mas no nível entre professores e pesquisadores isso vai ficando mais sutil, por meio de brincadeira, de um olhar. Quando mencionei a um colega que a maioria da equipe seria de mulheres , por exemplo, ele disse: nossa acho que você vai ter problemas, e deu uma risada”, comentou a reitora da Unifesp.



Das seis pró-reitorias, cinco serão dirigidas por mulheres o que a professora faz questão de dizer que foi mera coincidência pelo fato delas serem competentes para assumir. Também uma mulher foi eleita, juntamente com a professora Soraya, como vice-reitora: Valeria Petri, formada em Medicina pela Escola Paulista de Medicina (EPM), em 1973, e docente da EPM-Unifesp desde 1975. 



Soraya participou da fundação da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) e foi presidenta da entidade na década de 1990. Ela revelou à rádio que a ANPG é uma espécie de “menina dos olhos” para ela e que, até hoje, acompanha as bandeiras de luta dos pós-graduandos, se colocando desde já à disposição para uma atuação conjunta na defesa da educação.



“A pós-graduação dentro da educação é extremamente importante, cresceu muito nas últimas décadas, tendo destaque maior por é onde estamos formando mestres, doutores e pesquisadores para a produção do conhecimento. A produção de conhecimento é fundamental para o desenvolvimento da própria sociedade”, enfatiza, lembrando de algumas metas da ANPG, como o Plano Nacional de Pós-graduação (PNPG) que precisa ser implementado até 2020. 



“Já manifestei minha disposição para a presidenta Luana [Bonone] de trabalharmos em conjunto na campanha pelos 10% do PIB[Produto Interno Bruto] para a educação. Também acompanho a luta pelo reajuste[das bolsas de pesquisa], que é mais do que justa”, destacou Soraya Smaili.

Com relação à sua gestão, a nova reitora da Unifesp comentou que já foram tomadas providências para sanar as questões de infraestrutura, que geraram uma crise na universidade, principalmente no campi Guarulhos. 



“É importante ter uma política de estruturação e das demandas emergenciais. Serão feitos planos diretores para cada um dos campus. E já estamos estruturando toda a pró-reitoria de Planejamento”, disse.



“Estamos iniciando uma nova história em Guarulhos. Fizemos uma eleição para diretor, disputadíssima. O primeiro passo para Guarulhos é uma nova gestão na diretoria do campus. Também adotar estratégias diferentes das anteriores partindo do pressuposto de que existem necessidades que precisam ser rapidamente atendidas. Vamos construir o novo prédio, e estamos estudando para onde serão realocadas as pessoas nesse período da construção. Fizemos uma reunião com a prefeitura de Guarulhos em que estabelecemos estratégias para ter uma maior interação entre universidade e município para valorizar mais os técnicos e estudantes com um bom restaurante, uma boa biblioteca”, contou. 



Por fim, a professora reforçou a importância da expansão universitária, por meio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), mas frisou a importância de que é preciso um maior planejamento. O Reuni tem como principal objetivo ampliar o acesso e a permanência na educação superior.



“É necessário sabermos onde vamos crescer, como vamos crescer e otimizar os recursos para não haver desperdício”, concluiu.



Trajetória



Soraya Soubhi Smaili é formada em Farmácia e Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP), em 1985, fez mestrado e doutorado em Farmacologia pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), pós-doutorados na Thomas Jefferson University (1997) e no National Institutes of Health (NIH) (1998-1999), Estados Unidos, e livre-docência na Unifesp (2005).



É docente da Unifesp desde 1992 em regime de dedicação exclusiva. Foi coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da Unifesp (2006 a 2012). É coordenadora do Laboratório de Sinalização de Cálcio e Morte Celular e do Laboratório Multiusuários de Microscopia Confocal da EPM/Unifesp.



Também faz parte do Conselho Diretor do Laboratório de Experimentação Animal do Instituto Nacional de Farmacologia, diretora da Sociedade Internacional de Morte Celular e membro convidado da Sociedade Europeia de Morte Celular, entre outras atividades.



Deborah Moreira

Da redação do Vermelho


Ouça a entrevista completa da reitora da UniFesp, Soraya Smaili:

http://www.vermelho.org.br/radio/noticia.php?id_noticia=209177&id_secao=328