Querem acabar com a universidade popular do país

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Manuelle Matias é diretora de Relações Institucionais da ANPG e integra a Associação de Pós-Graduandos da UERJ. Foto: Fábio Almeida

Nos últimos dias, temos acompanhado com pesar e preocupação as ameaças ao funcionamento da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ – eleita de acordo com o ranking “Best Global Universities 2016” a quinta melhor Universidade do Brasil e a 11ª da América Latina.
Mas o que explica uma situação tão dramática em uma das melhores universidades do país e da América Latina, protagonista na formação acadêmica e de reconhecimento e projeção nacional e internacional?
De um lado poderíamos apontar a falta de visão estratégica dos governos liderados pelo PMDB no Estado do Rio de Janeiro. Mas não é isso. O sucateamento da UERJ bem como as outras medidas de fragilização de equipamentos e instituições de saúde e educação principalmente, representam um projeto deste governo que trabalha em sintonia com os interesses mais escusos do mercado e da burguesia. A crise instalada na universidade, portanto, visa dar conta de  um processo de desestabilização e privatização dos bens públicos.
O mesmo governo que decretou recentemente o corte de 30% do orçamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) vem submetendo a UERJ a um severo desfinanciamento responsável por causar o aprofundamento das péssimas condições de trabalho e estudo a que são submetidos estudantes, professores, técnicos e toda a comunidade atendida pela Universidade. Aliás, é importante enfatizar o alinhamento dessas ações à PEC 55 que estabelece o congelamento em 20 anos dos recursos para saúde e educação, defendidas por Michel Temer.
No auge da crise falta verba para a manutenção e custeio da Universidade, para o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) e a Policlínica Américo Piquet Carneiro, além do pagamento dos salários de servidores docentes e técnico-administrativos e auxílio-permanência para alunos cotistas. Longe de ser reconhecida por seu papel imprescindível para toda a sociedade fluminense, a UERJ é considerada um estorvo financeiro para o governo estadual.
Por outro lado, é preciso que se compreenda antes de tudo que há um projeto de desmonte em curso contra a UERJ.
Não bastasse o fato de ser a mais importante universidade estadual e figurar entre as melhores do país e da América Latina, a UERJ é a universidade mais popular do país e berço do pensamento emancipatório e progressista.
Basta lembrar que a UERJ foi a primeira a implantar uma política de cotas no Brasil, ainda em 2003. Seu papel na democratização do ensino se traduz hoje no acesso de estudantes dos mais diversos municípios do Rio de Janeiro: Duque de Caxias, São Gonçalo, Resende, Nova Friburgo, Teresópolis, Angra dos Reis e outros.
Contudo esse alcance não é apenas local. Por sua excelência em várias áreas de atuação seja no ensino, na pesquisa e na extensão, a UERJ atrai estudantes das mais diversas regiões do Brasil – notadamente nos cursos de pós-graduação, interessados, sobretudo na construção do conhecimento e produção de saber para a transformação da sociedade.
Logo, os ataques desferidos contra a UERJ significam um ataque aos direitos duramente conquistados pelas camadas mais populares de nosso povo nos últimos anos, um ataque à concepção de educação pública e ao ensino superior gratuito, universal e de qualidade como direito de todas e todos. Um ataque a todas e todos nós.
Querem acabar com a Universidade mais popular do país.
Já despontam nas discussões as propostas de viés privatizante, sob a roupagem de uma suposta modernização nas formas de financiamento das universidades.
Não é difícil supor que o que se fará na UERJ servirá de modelo para as universidades do Brasil. Nossa capacidade de luta e resistência é que determinarão os próximos passos dessa batalha.
De minha parte estou certa de que a UERJ resiste e resistirá!