As Assimetrias na Pós-Graduação no Brasil

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Não se pode avaliar situações desiguais da mesma maneira, foi um dos pontos abordados em debate no Salão da ANPG

As desigualdades regionais e socioeconômicas do Brasil se refletem também na pós-graduação. Isso foi assunto da mesa “O papel da avaliação na redução das assimetrias no SNPG e na Ciência brasileira”, realizado na manhã desta quarta-feira (19), no 5º Salão Nacional de Divulgação Científica, na Universidade Federal de Minas Gerais.

“Há uma grande diferença na distribuição do número de programas de pós-graduação pelo Brasil”, diz Isac Medeiros, da Universidade Federal da Paraíba, durante o debate. “A maior concentração de cursos de pós-graduação estão no sudeste, enquanto as regiões centro-oeste e norte são as menos contempladas”, acrescentou o professor, que apresentou um verdadeiro diagnóstico das assimetrias na pós-graduação.

Além do número de cursos, as desigualdades também se refletem quando observamos as notas recebidas pelos programas avaliados pela CAPES. “De cada 100 programas de pós-graduação com nota 7 [a maior nota], 80% estão na região sudeste”, afirmou Isac.

A distribuição de recursos (bolsas e fomento) para pós-graduação por região, explicou o professor, também se mostra extremamente desigual: enquanto a região sudeste tem a maior fatia, quase 50% dos recursos, as regiões norte, nordeste e centro-oeste juntas recebem apenas 29% dos recursos. E lembrou que o Brasil investe hoje apenas 0,05% de seu PIB em Ciência e Tecnologia, enquanto, por exemplo, a Coreia do Sul investe 5%. “Não podemos resolver assimetrias sem recurso”, disse.

Leia também: “É preciso repensar a avaliação da pós-graduação brasileira”, sobre a mesa realizada ontem (18) no Salão

Situações desiguais X avaliação igual

“Não podemos tratar situações desiguais de uma mesma maneira. Isso em nada contribuiu para a correção das assimetrias”, disse a pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da Universidade Federal de Goiânia e representante da ANDIFES, Maria Clorinda Soares Fioravanti, criticando o atual modelo de avaliação da CAPES.

“Ao longo dos anos, a única mudança na avaliação feita pela CAPES foi o aumento dos anos para a avaliação, pois houve um aumento no número de programas: em 1976, quando foi criado o sistema de avaliação, era anual, em 1984 passou a ser bianual, a partir de 1998, trienal e se incluiu o qualis, e, recentemente, em 2014, passou a ser quadrienal”, acrescentou a professora.

No atual modelo de avaliação, diz Maria Clorinda, são gerados efeitos colaterais, como o não encorajamento de projetos de pesquisa, dissertações e teses que foquem na solução de problemas práticos e de relevância local. Além disso, “a avaliação atual não induz os programas a preparar seus estudantes para a cultura da inovação, pois estamos fazendo ciência para atender aos critérios da CAPES”.

A Ciência a serviço do povo

Os palestrantes lembraram que a Ciência produzida deve estar a serviço do povo. “Nós devemos fazer Ciência para gerar melhorias sociais e melhores condições de vida para o povo”, afirmou o professor Isac. Segundo Nágyla Maria Galdino Drumond, da SECITE-CE, a  Ciência e Tecnologia é a melhor estratégia como política pública para combater a pobreza.

Um dos fatores para que isso aconteça, uma vez que os pós-graduandos estão presentes em 90% das pesquisas realizadas no país (dados da CAPES), é a mudança de alguns critérios de avaliação, que reflete e reforça as assimetrias regionais.

“A gente consegue mudar, se você insistir e brigar para mudar a regra. Vamos aliar o discurso de qualidade e mérito, que todo mundo quer, mas vamos mudar o que é preciso, como a lógica produtivista”, afirmou a professora Clorinda.

“Nós estamos muito comportados, a Ciência não se faz com bom comportamento. A Ciência é para deflagrar que não estamos aqui para ser seguidores do senso comum”, concluiu a representante da SECITE-CE.

Por Natasha Ramos