A Educação que Queremos

 

Helena Augusta Lisboa de Oliveira

Diretora de Juventude da ANPG

 

Observa-se crescente número de casos de ideação suicida, depressão e automutilação, além de suicídios entre jovens nas instituições de ensino. É uma triste constatação do fracasso social em fornecer uma educação que nossa Constituição Federal propõe, de desenvolvimento pleno da pessoa como primeiro objetivo. O suicídio, apesar de não ter uma causa única, mas ter um conjunto complexo de fatores, tem entre esses fatores o isolamento social psíquico, o senso de pertencimento em falta, e o não reconhecimento da identidade e dos valores da pessoa, além dos outros fatores como os resultantes das desigualdades sociais. Todos esses fatores estiveram presentes em falas de pós-graduandos que participaram das dinâmicas promovidas pelo Evento Saúde Mental para Agir. A educação em instituição própria, deveria então, voltar seus esforços para atender a essa demanda urgentemente, pois estamos perdendo nossos jovens. 

Além de falar do que não queremos, é de suma importância falar também do que queremos. Abaixo, é apresentado o texto de abertura do Evento Saúde Mental para Agir, que trata exatamente da educação que queremos, contrastante com o quadro vivido. A abertura do evento contou a presença da Presidente da ANPG Flávia Calé. Estavam também presentes a Diretora de Juventude da ANPG Helena Augusta Lisboa de Oliveira e Bruno Goulart de Oliveira, do CNV em Rede, organizadores do evento. O evento contou com o suporte artístico, técnico e de comunicação do Diretor de Comunicação da ANPG Vinícius Soares e de Patrícia Pereira dos Santos.

 

Texto de abertura do evento Saúde Mental para Agir – A Educação que Queremos

“Queremos formar cidadãos onde a motivação dele para agir seja a da segurança de estar fazendo o melhor que ele poderia para benefício dele e dos outros. 

Que a sua vida, o seu existir e o seu trabalho tenham sentido para ele. 

Que ele desabroche todo o potencial que ele tem, que ele possa se realizar na profissão que escolher. Que dinheiro não seja a motivação de viver. Que ele faça suas escolhas pensando no bem de todos, em colaborar para a vida como um todo, com o planeta, e não em se proteger, vivendo o medo. 

Que ele possa se realizar plenamente como pessoa, e cumprir o objetivo da educação previsto na Constituição Federal de 1988: o desenvolvimento pleno da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e para o trabalho. Isso não se dará se não garantirmos o subsídio material, para que ele não ocupe a sua mente com o medo sobre o que irá comer amanhã, o medo da dúvida se terá saneamento, se terá respeito, se terá abrigo. Mas possa se ocupar com o pensamento de escolher qual é a coisa mais maravilhosa que ele pode fazer por ele e pela sua comunidade hoje, como tornar a vida mais maravilhosa agora. 

Para isso, deve ser garantido também o suporte afetivo e acolhedor de uma rede social, um grupo que ele tenha com quem contar, que forneça carinho, atenção, na própria comunidade ou aonde der, a começar por cada um de nós. 

Finalmente, outro suporte imprescindível é o de uma educação científica crítica, ética e humanizada, com espaço para o autoconhecimento, a reflexão crítica e o protagonismo humanizado do estudante desde cedo, para que ele seja imbatível contra fake News ou qualquer mentira ou tentativa de manipulação que usarem contra ele. 

Que seja promovida a ética no ensino-aprendizagem. Que seja promovido o estudo das violências, sejam diretas, culturais ou estruturais, das desigualdades, e estudos de cultura de paz, da construção de relações mais saudáveis, de valorização da saúde mental e do bem-estar do povo. Não adianta apenas “dar” esse conteúdo. Mas propiciar que ele nasça, cresça e se desenvolva como valor social, com participação popular e integração da comunidade com as instituições de ensino. 

Assim, propiciaremos a autonomia e a criticidade, para um povo unido que busque o bem-estar de todos, de forma solidária, acolhedora e empoderada, resultando naturalmente numa verdadeira democracia com justiça social intrínseca.”