2022, da resistência à vitória democrática

O ano que termina foi um dos mais difíceis da história recente de nosso país. Se o governo já acumulava desmandos e horrores, teria como marca de sua reta final o recrudescimento do jogo sujo, do golpismo e do vale-tudo eleitoral. Mas Bolsonaro não contava com a capacidade de resistência do povo e das instituições, que inscreveram 2022 como um dos mais belos capítulos da luta democrática brasileira.

A luta permanente pelo reajuste das bolsas
A ANPG não deixou de lutar pelo reajuste das bolsas de estudos em nenhum momento. O abaixo-assinado lançado pela entidade no bojo da Campanha Nacional Reajuste Já! Conta com mais de 100 mil assinaturas em defesa da recomposição do benefício.

Em tempos de governo Bolsonaro, resistir a cortes e retrocessos, infelizmente, foi a ordem do dia durante os últimos 4 anos. Ainda assim, a luta surtiu resultados importantes, tendo conquistado reajustes em diversas Fundações de Amparo à Pesquisa dos estados.

Escândalo de corrupção derruba Milton Ribeiro do MEC
Em março de 2022, o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, saiu do MEC pela porta dos fundos, na esteira de um rumoroso caso de corrupção que envolveu liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em troca de propinas em barras de ouro, compra de bíblias e reformas em igrejas indicadas por pastores lobistas.

O escândalo, conhecido como #BolsolãodoMEC, levou a grande indignação de estudantes e professores, exigindo a queda do ministro e apuração das responsabilidades. Ribeiro, que foi gravado dizendo ter recebido ordens do presidente da República para atender os pastores, seria preso 3 meses depois pela Polícia Federal.

Greve dos Residentes pelo pagamento de bolsas
A sabotagem ao SUS foi tônica do Ministério da Saúde durante o governo Bolsonaro. Mesmo em meio à pandemia de Covid-19, que ceifou as vidas de quase 700 mil pessoas, o governo deu calote nas bolsas-salário dos médicos residentes, profissionais fundamentais ao atendimento de milhões de brasileiros.

Diante da situação, o Fórum Nacional de Residentes em Saúde (FNRS) realizou uma greve nacional em abril de 2022. A ANPG apoiou e participou do movimento grevista, que pressionou o Ministério e conquistou a normalização dos pagamentos.

#PEC206NÃO – Contra a privatização das universidades federais
A luta para impedir a cobrança de mensalidades nas universidades públicas federais mobilizou estudantes e pós-graduandos em maior deste ano, após tal proposta ter sido pautada na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara, através da PEC 206.

Imediatamente, a reação unificada do movimento estudantil se fez sentir com a aprovação de calendário de manifestações e a tomada das redes sociais. Os atos em defesa da universidade pública e gratuidade ganharam grande apoio da sociedade, inclusive com a participação de artistas, como Juliette e Ludmilla, na campanha #PEC206Não.

A pressão deu resultado e, após acordo de parlamentares, no dia 31 de maio, a proposta foi retirada definitivamente da pauta da Comissão. “Foi uma enorme vitória de nossa mobilização. Universidade é pública!”, celebrou a ANPG, em sua página no Twitter. Os protestos convocados seguiram nos dias posteriores e culminaram com o 9 de Junho, dia nacional de luta contra os cortes na Educação e em defesa das universidades federais.

28º Congresso da ANPG
Sob o lema “O papel da ciência nacional e da pós-graduação para a reconstrução de um Brasil independente”, a ANPG realizou seu 28º Congresso Nacional, em meio às atividades da 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), no mês de julho de 2022.

Com a participação de delegados representantes de 44 universidades, de 15 diferentes estados do país, a entidade elegeu sua diretoria para o biênio 2022-2024, tendo como novo presidente Vinícius Soares, mestre em Biologia pela Universidade Federal de Pernambuco.

Em virtude do intenso calendário de lutas e do início do processo eleitoral, a nova diretoria foi empossada em cerimônia realizada no dia 04 de novembro, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Vitória histórica da democracia contra o fascismo!
O 30 de Outubro de 2022 passou para a história como o dia em que a luta do povo brasileiro por democracia falou mais alto e venceu o autoritarismo. As eleições mais acirradas desde a redemocratização consagraram Lula como presidente da República, após conquistar mais de 60 milhões de votos, derrotando Bolsonaro e seu projeto de destruição nacional.

A ANPG, entidades científicas e inúmeras personalidades da academia declararam formalmente apoio à chapa Lula-Alckmin no 2º turno da eleição, compreendendo que o momento era de composição de uma frente ampla democrática capaz de vencer a ameaça fascista e reconstruir o país.

Dias antes do 2º turno, os estudantes ocuparam as ruas de diversas cidades do país no #18Outubro para reivindicar mais recursos para a Ciência e Educação e gritar em alto e bom som Fora, Bolsonaro! Era a despedida estudantil ao pior presidente da História!

ANPG defende reajuste de bolsas na transição
Tão logo foi constituído o governo de transição, coordenado pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, a ANPG foi convidada a participar de reuniões dos grupos de trabalho de Educação e de Ciência e Tecnologia para debater a situação da pós-graduação e dos pós-graduandos no país.

A entidade apresentou aos GTs e a Geraldo Alckmin as principais demandas dos pesquisadores – o reajuste das bolsas de estudos, os direitos trabalhistas e previdenciários aos pós-graduandos, bem como o combate à fuga de cérebros – e a necessidade de investimentos massivos em Educação e Ciência para a edificação de um novo projeto de desenvolvimento nacional.

“Nós mostramos que seria necessário 1,5 bilhão no orçamento para realizar uma recomposição de 68% para todos os bolsistas Capes e CNPq, o equivalente à inflação acumulada desde 2013. Alckmin se colocou à disposição para ajudar a pautar o reajuste nas prioridades do orçamento”, argumentou Vinicius Soares, presidente da ANPG.

#PagueMinhaBolsa: revolta estudantil faz governo recuar do calote
No apagar das luzes do desgoverno Bolsonaro, mais um duro golpe contra a ciência: por cortes realizados no MEC, foi anunciado o calote no pagamento de todas as bolsas de estudos da Capes e dos médicos-residentes.

Uma verdadeira revolta estudantil tomou conta das redes e das ruas. A ANPG e as entidades irmãs UNE e UBES adotaram o enfrentamento em todas as formas de luta. Convocaram uma paralisação nacional realizada em 8 de dezembro e um tuitaço mobilizou as redes e transformou a tag #PagueMinhaBolsa em um dos assuntos mais comentados do Brasil. Por fim, as entidades ingressaram com um mandado de segurança coletivo no STF, encurralando o governo por todos os lados.

Isolado e sem rumo, o MEC se viu obrigado a liberar os recursos necessários para o pagamento integral dos bolsistas. Mais uma grande derrota imposta pelos estudantes ao desgoverno Bolsonaro!