Desafios do movimento nacional de pós-graduandos

carteira de estudante

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 Por Theófilo Rodrigues** 

Entre os dias 3 e 6 de maio deste ano centenas de pós-graduandos de todo o país estarão reunidos na cidade de São Paulo para debater os rumos da pós-graduação no Brasil. Será o 23º. Congresso Nacional de Pós Graduandos, organizado pela ANPG, desta vez na UNIFESP. Temas como o Programa Ciência sem Fronteiras, a valorização e universalização das bolsas de pesquisa e as desigualdades regionais na distribuição de recursos para a ciência, tecnologia e inovação deverão consumir a agenda dos 4 dias de debate, além das mostras científicas com apresentação de trabalhos dos mestrandos e doutorandos.

Não é sempre que este público qualificado consegue estar reunido para debates tão relevantes. Consumidos pelo dia a dia de suas pesquisas, com prazos cada vez mais rigorosos para defesas e entregas de artigos, os pós-graduandos encontram no Congresso da ANPG um espaço único para o debate político sobres os rumos da ciência e da academia no Brasil.

Não há dúvidas de que o principal debate presente neste 23º. Congresso será sobre o tema das bolsas de pesquisa. Não bastasse o fato de estar há mais de 4 anos sem reajuste em seu valor, a quantidade de bolsas ainda é muito insuficiente frente ao crescimento da pós-graduação brasileira nos últimos anos. A universalização destas bolsas deve ser tratada com a mesma prioridade com a qual a campanha pela valorização vem sendo feita. Em outras palavras, de nada adiantará aumentar o valor das bolsas se apenas uma minoria as estiver recebendo.   

Outro aspecto relevante a ser debatido neste Congresso diz respeito à incorporação das pesquisas desenvolvidas no processo industrial e social do país. O Brasil já ocupa hoje a elogiosa 13ª posição no ranking internacional de artigos científicos indexados. Entretanto, no que diz respeito à incorporação de toda esta produção de conhecimento no processo de desenvolvimento nacional, nosso registro de patentes ainda é muito amador. Ao contrário do que afirma certa corrente de pensamento, o problema não está na cultura passiva dos empresários brasileiros. O problema é acima de tudo econômico: enquanto for mais seguro e lucrativo para as indústrias investirem no capital financeiro, no rentismo, não haverá perspectivas para o investimento em inovação tecnológica. Manter a maior taxa de juros do mundo não ajuda em nada neste processo.

Não há país soberano no mundo que não tenha incorporado ao seu processo produtivo a produção de novas tecnologias, ou seja, a inovação. Debate polêmico, mas que precisa ser travado de frente: enquanto as empresas não participarem do processo de desenvolvimento tecnológico, nossa ciência continuará colonizada.

Estes são alguns dos temas sobre os quais o 23º. Congresso deverá se debruçar. De forma politizada, qualificada e fraterna. Todos ao 23º. Congresso Nacional de Pós Graduandos!

 

*Theófilo Rodrigues é mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF).