AMAZÔNIA, SOBERANIA, CIÊNCIA E BIODIVERSIDADE

 

Por Cristiano da Silva Paiva*
*Especialista em Desenvolvimento, Etinicidade e Políticas Públicas na Amazônia – IFAM,
Mestrando em geografia – UFAM e Presidente da APG UFAM

UMA PAUTA, DUAS CAUSAS – DEFENDER A AMAZÔNIA É RESGUARDAR A SOBERANIA NACIONAL

Cem dias de governo, pouca ação e muita preocupação. Assim avalio o início de mandato do atual presidente, Jair Bolsonaro (PSL). Para exemplificar, gostaria de falar sobre a Ciência e Tecnologia no país (que deve parar em meados deste ano, vide a falta de orçamento) e as declarações sobre a entrega da Amazônia para exploração pelos Estados Unidos. Como estes temas se correlacionam? Quais as variáveis deste tipo de política? A cobiça de potências estrangeiras pela Amazônia Legal não é nenhuma surpresa. Desde o século XVII seus exploradores e pesquisadores documentam os encantos e as potencialidades da imensidão amazônica que era até então, considerada o refúgio do El dourado. Além disso, sua extensão territorial é de grande valor e ocupa 61% do território brasileiro, o equivalente à metade do continente europeu. A região faz fronteira com Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. É evidente para todos a exorbitante importância de suas bacias hidrográficas não apenas para o mundo, mas para o Brasil de forma mais restrita, uma vez que 80% da água disponível no país está na Região Amazônica, e o restante distribui-se desigualmente para o consumo de 95% da população. Em sentido amplo 8% de toda a água doce do planeta está concentrada em nosso país. O rio Amazonas é o soberano da Terra em volume de água e possui um quinto da água doce do planeta. A região ainda possui o recém descoberto, aquífero de Guarani e ao que consta possui maior volume de água que o próprio rio Amazonas. Segundo avaliações da ONU, o século 21 será marcado por graves conflitos entre as nações, com origem numa única causa: a escassez de água potável.

O interesse pela Amazônia é tamanho ao ponto de os Estados Unidos institucionalizar um acordo de cooperação em ciência e tecnologia denominado LBA – Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia voltado especificamente para as geociências e, em especial, à ecologia, no qual o mesmo é executado em conjunto com a NASA! Apesar do projeto ser liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais; o envolvimento da NASA no projeto é suficiente para demonstrar o grande significado geopolítico e ambiental da Amazônia.

Entretanto, o recente rombo de 300 milhões nas contas da C&T, a desvalorização do papel do cientista e da educação no atual governo coloca em risco o desenvolvimento da região, de projetos e das agencias ministeriais. Fica evidente que a Amazônia, sem capacidade de absorver ou gerar tecnologias, colocará em risco a sua soberania, pois estará fadada a viver na pobreza, sem condições de promover o seu desenvolvimento.

Em 2005 o Senado Federal aprovou um relatório intitulado “A QUESTÃO
GEOPOLÍTICA DA AMAZÔNIA” o qual suas mais de quinhentas páginas certamente, nunca
foram lidas pelo presidente ou seus ministros. Este já apontava que “o apoio dos países ricos,
na qualidade de fornecedores de tecnologia e certamente de capitais, implicará, evidentemente,
que a região tenha de sofrer sérias restrições a sua soberania”, afinal esses países jamais
poderão maximizar seus investimentos na Amazônia sem disporem de ampla liberdade de
atuação, o que levará, necessariamente, à maximização das restrições à soberania nacional sobre
a Região.

A Amazônia deveria ser o encanto nacional. Nossa economia de vanguarda poderia ser
facilmente desenvolvida pela biotecnologia aperfeiçoando a tecnologia de energias alternativas
como a biomassa. É indispensável também, mencionar que não fossem as riquezas encontradas
na Amazônia a medicina moderna não seria a mesma. A tecnologia química e farmacêutica, via
conhecimento tradicional das populações que aqui vivem, são constantemente biopirateadas
para o estrangeiro pelos grupos fortes economicamente, detentores de tecnologias, que
ingressam na região das mais diversas maneiras à procura desses produtos. Depois
industrializam e revendem para nós mesmos com valores infinitamente altos.
A cidade de Manaus possui mais da metade da população do estado do Amazonas, já é
responsável por 8% da capacidade industrial do país e poderia ser potencializada como um
grande eixo desse desenvolvimento. Outra estratégia de ação indispensável para defesa da
soberania da Amazônia é o fortalecimento institucional dos órgãos de poder público que atuam
na Região. Preliminarmente, das agências federais, como SUDAM, BASA, Museu Goeldi,
INPA, EMBRAPA, FUNASA e as agências ministeriais.

Por fim, acredito que o grande problema destas questões no que tange ao atual governo,
está no fato que soberania e democracia são faces de uma mesma moeda. Isto meus caros, não
é nem de longe o forte destes que estão no poder!

 

*As opiniões aqui reproduzidas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, a opinião da entidade.

Fonte da imagem: http://agriculturaconsciente.com.br/amazonia-precisa-de-pesquisa-cientifica-para-sua-protecao-e-manejo-sustentavel/