28º Congresso da ANPG: Brasil muito além da “fazenda” do mundo

Convidados de peso trouxeram luz para a crise brasileira e para enfrentar os desafios futuros

Neste segundo dia do 28º Congresso da ANPG, o debate “O papel da ciência, tecnologia e inovação para retomada da economia e reindustrialização nacional” apresentou as incoerências no modelo econômico vigente no Brasil e o projeto – a ausência de estratégias – que cria pobreza e trava o desenvolvimento.

A presidente da entidade, Flávia Calé, abriu o debate levantando questões sobre desenvolvimento e redução de desigualdades no país e após graduação.

“Como gerar riqueza no Brasil por meio da ciência, emprego de qualidade para “abraçar” essa mão de obra e como a universidade, esse lugar de produção de conhecimento, pode estar vinculado ao desenvolvimento nacional. São esses questionamentos que queremos trocar aqui para buscar repostas e caminhos dentro no nosso Congresso”, afirmou.

O agrônomo Gabriel Colombo, atual candidato ao governo de São Paulo pelo PCB e ex -diretor da ANPG, relembrou que os últimos anos, marcados pelo “lavajatismo,”desmontou as possibilidades de avanços tecnológico em empresas nacionais, como a Petrobras e a Embraer.

“Não devemos ter qualquer ingenuidade que a burguesia retome essa produção de conhecimento e um ciclo de investimento pela soberania. É preciso que as universidades se fortaleçam para responder e melhorar a vida da população”,  alertou.

Elias Jabbour, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ (Universidades Estadual do Rio de Janeiro) , avalia que o enfrentamento  à hegemonia do pensamento neoliberal é o mais  importante caminho para a retomada de desenvolvimento e alertou para o processo destrutivo em curso, em que o Brasil pratica dumping sobre o próprio estado.

“Devemos esquecer a burguesia para o investimento em ciência e acumular forças para um sistema empresarial e financeiro brasileiro, pensando na soberania monetária. Os recursos não devem sair apenas da União, mas desse outro modelo”.

Jabbour ainda acrescentou um caminho para um futuro próximo. ”A partir de 1º de janeiro, com a eleição de um governo progressista, é preciso destravar as 40 mil obras paradas para criar e retomar o desenvolvimento e fazer a economia crescer”.

 Aprofundando os questionamentos sobre a incoerência no sistema financeiro brasileiro, Fernando Peregrino , presidente do Confies (Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológico), alertou sobre o mito do déficit primário, como justificativa para bloqueio de orçamentos e cortes de recursos para educação, ciência e tecnologia.

“ Esse modelo econômico foi criado como uma forma de dominação. Não há qualquer relação entre endividamento do estado por dispender mais recursos para investir.”

Peregrino ainda trouxe dados alarmantes sobre a situação da pesquisa no Brasil atualmente: apenas 1% do PIB é investido em ciência; são 880/milhão de pesquisadores  no país, enquanto o México, como exemplo, tem 6 mil/milhão, além da baixa interação da universidade com a indústria e ainda a baixa qualidade no ensino básico, impacta totalmente a continuidade da formação (hoje o Brasil está na 64º posição no PISA)

 

No pós-pandemia, a saída pela saúde

 

Dalmare Anderson, da Comissão Intersetorial de Ciência, Tecnologia e Assistência Farmacêutica do Conselho Nacional de Saúde – CICTAF/CNS e atual presidente do Sindicato dos Farmacêuticos de Sergipe, trouxe perspectivas da retomada de desenvolvimento pelo viès da saúde, uma vez que atravessamos um período pós crise pandêmica e foram expostas muitas carências brasileiras.

 “O Brasil precisa investir na indústria farmacêutica;. Hoje importamos 90% dos insumos para vacinas, no auge da crise da pandemia, não tínhamos disponível máscaras e luvas  suficientes para proteger profissionais da saúde e população, porque não temos indústria que as produza. Hoje despendemos R$ 20 bilhões em importação de medicamentos, sem gerar um emprego” .

Anderson ainda acrescentou a importância de usar os dados gerados pelo SUS para fortalecer e a indústria farmacêutica; a partir do atendimento de saúde básica é possível planejar a fabricação de medicamentos e a distribuição adequada.