Debatedores defendem: inovação real não se realiza em produtos, mas, na sociedade

carteira de estudante
Durante debate promovido pela ANPG, discute-se a importância de atentar para os processos de popularização do conhecimento
 
                          Professor Ildeu de Castro Moreira, Lenilton Silveira e Tamara Naiz, da ANPG, e Daniel Ferraz Chiozzini
 
Nesta quinta-feira (25), a Associação Nacional de Pós-Graduandos realizou o debate “Inovação social, popularização do conhecimento e desenvolvimento humano” na Universidade Federal de Pernambuco. O encontro foi parte do 3º Salão de Divulgação Científica da ANPG, paralelo à 65ª Reunião Anual da SBPC. Os convidados, o professor representante da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, o docente da PUC-SP, Daniel Ferraz Chiozzini, e os mediadores, Tamara Naiz e Lenilton Silveira, concordaram que a inovação não se limita à inovação de produtos no mercado, mas, muito mais expressiva que isso, baseia-se em processos de popularização do conhecimento e evolução da estrutura social.

O representante da SBPC, Ildeu  de Castro, elogiou a atuação da ANPG no que se refere ao debate sobre a educação no Brasil – que não se restringe apenas aos pós-graduandos, discutindo e defendendo o acesso à educação, no geral, junto aos outros movimentos sociais. Para ele, a inovação não se realiza apenas nas indústrias e empresas, mas, nos ministérios, secretarias e instrumentos de transformação social. 

 
“A tradição geral do empresariado é fazer o que sempre fizeram”, comentou o debatedor, “expropriar uma parte dos recursos públicos para o núcleo interno, em vez de inovar.” Ele critica o investimento público exorbitante para fins privados, como os estádios de futebol erguidos para a Copa. “Precisamos inovar radicalmente a nossa educação”, reforça, “isso é inovação social. O microscópio tem 300 anos e o telescópio 400. Ainda assim, há escolas que não têm essas coisas e professores que nunca as viram. São inovações fundamentais.”
 
Como exemplo de inovação social efetiva, ele citou a colaboração entre Brasil e Moçambique, durante a gestão do ex-presidente Lula, quando o país levou para lá um centro tecnológico para produzir vacinas, em vez de vendê-las ou doá-las, como é de praxe entre os países desenvolvidos.
 
Já o professor Daniel Chiozzini destacou a importância de se descentralizar instituições do saber. “Museus e centros de ciência devem estar na periferia”.  Ele disse, ainda, que seria interessante agregar as ciências humanas nos centros de ciências, e “descontruir a imagem da ciência redentora e salvacionista.”
 
Lenilton Silveira, mediador da ANPG, acrescentou a importância de se unificar as ciências exatas e biológicas às humanas, investir em ambas e torná-las acessíveis. Tamara Naiz, também mediadora, questionou: “Para que e para quem serve a inovação?” Professora de história da rede pública, emocionou-se ao contar que muitos de seus alunos começam a trabalhar e abandonam a escola definitivamente. “Hoje, a inovação serve para a manutenção desse estado de coisas. A ciência tem que ser popularizada. Ela tem que ser apropriada pela população.”
 
Ela concluiu sua fala citando o poema uruguaio Defesa da Alegria, de Mario Benedetti:
 
“Defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas
 
defender a alegria por princípio
defendê-la do pasmo e dos pesadelos
assim dos neutrais e dos neutrões
das infâmias doces
e dos graves diagnósticos (…)”