BOLSISTAS PIBIC: SUCESSO PROFISSIONAL, REMUNERAÇÃO E NOVOS CIENTISTAS (2001 – 2013)

carteira de estudante

Texto: Ana Bueno
É notório o sucesso profissional e na remuneração dos egressos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), que ainda demonstra sua importância na formação de novos cientistas e no fortalecimento da Ciência brasileira. E constatou-se que os egressos mesmo com doutorado sendo mulheres e das áreas de humanas a remuneração ainda é menor que de homens e das áreas de exatas e saúde
Um importante programa de Iniciação Científica (IC) aos estudantes de graduação é o Programa Institucional de Iniciação Científica (Pibic) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que foi recentemente avaliado e lançado um estudo pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), intitulado “A Formação de Novos Quadros para CT&I: Avaliação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic)”. As publicações são de acordo com a agenda do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) e nesta edição em questão trouxe avaliações sobre o Pibic e Pibiti e a formação de futuros quadros de CT&I nas diversas áreas de pesquisa científica.
Os resultados apresentados no estudo discorrem sobre a necessidade de novas avaliações do ensino superior do Brasil, particularmente os de pós-graduação e pesquisa. E, ainda, destaca a trajetória e a inserção profissional dos egressos.
Muitos dos objetivos do Pibic foram alcançados e devem ser avançados até para se corrigir disparidades sociais encontradas nele tanto quanto em nossa sociedade. As disparidades de gênero, raça e classe social dentre os bolsistas do Pibic, percebidas nos estudos do CGEE, acontecem devido à falta de precisão do Programa em buscar um apoio especial àqueles que já sofrem com as desigualdades na sociedade. A subjetividade na distribuição das bolsas não deixa claras as distorções ocorridas com os apoios sociais e científicos a certas áreas de pesquisa e a estes ou aqueles grupos sociais, mas devem ser consideradas. Chama atenção aos dados apresentados sobre os egressos e o sucesso dos bolsistas que permaneceram por mais tempo com as bolsas e os que não tiveram a mesma oportunidade. Estas são questões que merecem atenção especial à espaços que propõem contribuir com o desenvolvimento científico e também nacional.
O Pibic é uma política de IC desenvolvida por Instituições de Ensino Superior e/ou Pesquisa com cotas de concessão de bolsas de até 12 meses e somente para estudantes de graduação, indicados pelas/os professoras/es orientadoras/es. O modelo atual é dos anos 1980, com interação entre o CNPq e as Instituições de Ensino Superior e/ou Pesquisa, deixando-as encarregadas pela seleção dos projetos, orientadores e bolsistas, visto que as bolsas passaram a ser distribuídas diretamente às Instituições e não mais aos indivíduos. E é o CNPq que estabelece os critérios de avaliação, juntamente com uma comissão de pesquisadores.
O Pibic expandiu-se para todos os Estados brasileiros nas mais diversas Instituições de Ensino e Pesquisa. E em 2007, foi criado o Programa de Bolsa de Iniciação Tecnológica (Pibiti) sob os mesmos moldes, mas voltado aos estudantes de Ensino Superior Tecnológico.
Distribuição de bolsas por Região do Brasil
No período de 2001 a 2013 o número de bolsas Pibic quase dobrou, passando de 14,5 mil para 24,3 mil, um aumento de +67% nos recursos. Já as Pibiti, implantadas em 2007, chegaram a 3.392 bolsas em 2013. No mesmo período o número de bolsas diretas do CNPq, as bolsas não institucionais, caiu em 46%. Conforme se observa no Gráfico 1:
gráfico 1_CGEE
O CGEE destaca que apesar de o Pibic, Pibiti e IC apresentarem tamanho crescimento as matrículas na graduação pública e na pós-graduação cresceram bem mais, com +104% e +116% respectivamente. No Gráfico 2 observa-se o crescimento das bolsas por região, no mesmo período de 2001 a 2013, com número de bolsas distribuídas (por mil alunos). Ao mesmo tempo o crescimento de matrículas no ensino superior foi de 103%, contra 92% de ofertas de bolsas institucionais.
gráfico 2_CGEE
Infelizmente houve perdas significativas na distribuição de bolsas institucionais, Pibic e Pibiti, em todos os Estados, mas principalmente na região Sudeste, Tabela 1. E na Tabela 2 tem-se os números de matrículas na graduação e distribuição de bolsas por região brasileira.
tabela 1_CGEE
tabela 2_CGEE
Distribuição de bolsas por área de pesquisa
Conforme os dados da Tabela 3, distribuição de bolsas institucionais por área de pesquisa – entre os anos de 2001 a 2012, observam-se grandes disparidades na distribuição dessas bolsas. Destacamos as últimas colunas (em amarelo e vermelho) que apresentam os dados totais e de Instituições de Ensino Superior (IES) públicas. Vejam que enquanto as Ciências Biológicas receberam 68,6 bolsas por 1000 matrículas as de Ciências Sociais Aplicadas receberam apenas 3,8 bolsas.
tabela 3_CGEE
Distribuição de bolsas por gênero
Sobre a distribuição de bolsas por gênero as pesquisas do CGEE apontam que as mulheres foram mais contempladas que os homens ao longo dos anos de 2001 a 2013 tanto Pibic quanto Pibiti. Todavia, o percentual de bolsas distribuídas às mulheres foi reduzida nos Pibiti, mesmo que ainda se mantenha um percentual baixo de diferença, em torno de 2%, conforme Gráfico 4. Apesar da expansão dos Programas de IC, não foi suficiente para acompanhar o crescimento das matrículas no ensino superior, que foi bem maior.
gráfico 4_CGEE
Interesse na continuidade da pesquisa Pibic na pós
O interesse em cursar a pós-graduação, a intenção em dar continuidade ao projeto de pesquisa foram analisados em relação ao tempo de bolsa, à frequência dos encontros com os orientadores, às características do projeto e à participação deles em redes de colaboração, dados no Gráfico 5.
gráfico 5_CGEE
Com avaliação positiva do Pibic pelos bolsistas, em suas experiências e aprendizados,  67% deles tiveram interesse em seguir para uma pós-graduação, dando seguimento em seus projetos de pesquisa sejam em outros projetos, conforme os Gráficos 9 e 10.
gráfico 9_CGEE
gráfico10_CGEE
Avaliação dos orientadores/as e CNPq
Os orientadores avaliam positivamente o Pibic com incentivador da continuidade em estudos de pós-graduação e no futuro científico. Já a habilidade com línguas estrangeiras é considerada insatisfatória pelos orientadores, visto que apenas 40% superaram essa deficiência, questão preocupante para o futuro da internacionalização da ciência brasileira.
Em suma o CNPq avalia que os Programas dão mais base aos seus bolsistas de modo que os levam a serem mais bem sucedidos no futuro enquanto pesquisadores científicos, devido ao desenvolvimento e incentivos dados a esses bolsistas.
 
Egressos e a pós-graduação
Como dar seguimento à pós-graduação é um dos objetivos do Pibic, o CNPq deu seguimentos às suas pesquisas até os egressos. E constatou-se que 28,8% dos egressos totais, 192.683, cujo último ano de bolsa ocorreu entre 2001 e 2013, deu seguimento na pós-graduação stricto sensu. Porém, 71,2% não concluíram um programa de pós, Tabela 4.
tabela 4_CGEE
Uma explicação sobre a participação de egressos na pós-graduação é sobre o número de bolsas, devido ao tempo recebido pelo estudante. Tal questão é primordial para que esse bolsista siga para desenvolvimento de uma carreira científica. Assim, o próprio relatório afirma: “os egressos que receberam bolsas por um período maior têm maiores chances de concluir o mestrado, para todos os anos-base”, já “As quedas apresentadas pelas curvas em anos mais recentes decorrem da diminuição do tempo para que se dê a titulação no mestrado” (CGEE, p. 25). Esses dados podem ser analisados no Gráfico 13.
gráficos 13_CGEE
Egressos empregados e remuneração
O número de egressos formalmente empregados no final de 2014 foi de 50,6% do total dos bolsistas até 2013. Desses egressos o percentual de mestres é de 55,8% e de doutores de 66,3%. Indicativos do sucesso na empregabilidade conforme a titulação.
Sobre a remuneração as análises estatísticas feitas deram uma mediana dos salários dos egressos e comprovaram que aqueles que não fizeram uma pós tiveram salários em torno de R$ 4.605, já os mestre com recebimentos de R$ 6.042 e doutores no país e exterior são de R$ 10.061 e R$ 10.216 respectivamente. Constatou-se ainda que os altos salários dos egressos de 2003 sendo superiores aos de 2008, se deram possivelmente devido a aumentos por tempo de serviço e impactos da titulação máxima – Gráfico 15.
gráfico 15_CGEE
Interessante destacar as disparidades na remuneração por áreas científicas, onde egressos das Engenharias e Ciências de Computação, seguidos dos das Ciências da Saúde, apresentam remuneração entre 70 e 50% mais elevada que os egressos das áreas de Linguística, Letras e Artes, Ciências Humanas e Biológicas.
Outra disparidade está na remuneração por gênero, sendo que os homens ainda recebem mais que as mulheres. Quanto maior a titulação da mulher menor a diferença salarial, todavia, ainda persistente. A maior diferença salarial está entre os mestres que é de 35% e a menor entre os doutorados no exterior com 15,3% em desfavor das mulheres, conforme dados na Tabela 7.
tabela 7_CGEE
Há uma forte contribuição para o seguimento da pós-graduação para os egressos do Pibic, de modo a levá-los a ter sucesso na carreira profissional e boa remuneração conforme a titulação.
O Relatório do CGEE ressaltou as disparidades regionais do país, apontando as chances de empregabilidade e sucesso acadêmico nas instituições mais tradicionais e das regiões mais privilegiadas do país, como Sul e Sudeste. Do mesmo modo, a existência de cursos de pós-graduações nessas instituições favorecem a continuidade dos egressos ao Mestrado e Doutorado.
Sobre o emprego dos egressos no Relatório CGEE afirma-se: “A chance dos egressos do Pibic trabalharem em instituições nas quais as atividades ‘Educação’ e ‘Profissionais, científicas e técnicas’ eram dominantes, comparada com a dos que não participaram do programa, não mostrou diferenças significativas. No entanto, para os que concluíram o mestrado e o doutorado a chance de estar empregado em instituições com tais atividades era significativamente maior (mestres 2,54 vezes e doutores 3,53 vezes) do que para aqueles que não fizeram pós-graduação. Assim, o efeito do Pibic na formação de pessoal para essas atividades, embora indireto, é importante e se dá por meio do estímulo para cursar a pós-graduação” (CGEE, p. 40).