Aluno do ensino médio em uma escola técnica de São Paulo, o estudante Felipe Massuia, de 16 anos, já iniciou seu contato com o ensino superior em grande estilo. Ele ocupa parte dos seus dias fazendo análises de dados enviados diretamente do Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), o gigantesco acelerador de partículas na fronteira da França com a Suíça que é o maior e mais caro experimento científico de todos os tempos.
Mesmo estando na educação básica, ele faz iniciação científica na Universidade Estadual Paulista (Unesp), mais precisamente no Instituto de Física Teórica (IFT), na Barra Funda, zona oeste da capital. “Meu sonho é ser um cientista.”
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, mantém um programa de bolsas para isso. Ano passado, 17,7 mil alunos ganharam bolsas (de R$ 100) do programa chamado Iniciação Científica Júnior – ao qual Massuia é ligado. O número é mais do que o dobro do registrado em 2010.
O contato com a pesquisa e a universidade é o foco dessa modalidade. Os alunos mantêm seus estudos na escola normal e, no contraturno, realizam iniciação científica na universidade, com orientação de um professor. Fã da série de filmes Star Wars, Massuia sempre se interessou por ciência, Física e o espaço. Mandou mais de 20 mensagens para professores até que o pesquisador Sergio Novaes, do IFT, o aceitou. “Fiquei interessado ao saber que lá se desenvolvia Física contemporânea, que a ciência realmente estava sendo feita e eu podia ter acesso”, diz Massuia.
O IFT da Unesp é uma das instituições conveniadas para receber dados do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), que construiu e gerencia o LHC. Foi no LHC que se comprovou a existência do bóson de Higgs, a partícula que confere massa a todas as outras partículas (elétrons, prótons), considerada uma das maiores descobertas da ciência. Para a pesquisadora Sandra Padula, do IFT, o contato cedo com a ciência é muito importante. “A ciência ensinada nas escolas ainda é retrógrada e muito antiga”, diz.
Apesar de ter avançado nas últimas décadas no volume de produção científica, o Brasil ainda enfrenta dificuldades em conseguir relevância internacional dessas pesquisas. Há dificuldade em conseguir até professores nas áreas de Ciências e Matemática, por exemplo.
O educador Alexandre Le Voci Sayad diz que experiências internacionais mostram como o contato precoce com a ciência tem resultados. “Nas principais feiras internacionais de pesquisa, os trabalhos mais interessantes são de alunos que tiveram o contato cedo com a universidade”, diz. “Isso planta a curiosidade de cientista.”
A estudante Giovanna Santos, de 17 anos, já percebeu isso. Aluna de escola pública de Planaltina, cidade piloto de Brasília, ela participa desde o ano passado como bolsista do CNPq de um projeto na Universidade de Brasília (UnB). Chamado de Escola nas Estrelas, é focado em astronomia. “Na minha escola nem tem laboratório. Realmente é um privilégio ter acesso a esse conhecimento.”
Outros três estudantes do ensino médio participam desse projeto na UnB, que conta com a colaboração dos alunos da graduação. “Essas oportunidades têm um papel construtivo para eles incrível. A gente percebe que eles conseguem coisas que nem a gente ainda avançou”, diz a estudante do 3.º ano de Ciências Naturais Ágatha de Sousa, de 20 anos, que faz monitoria no projeto.
Fonte: O Estado de S. Paulo