13ª Bienal: Debate com ministras e cobrança pelo reajuste das bolsas marcam primeiro dia do Encontro

A 13ª edição da Bienal de Arte e Cultura, realizada pela UNE em conjunto com a ANPG e a UBES, teve início na manhã desta quinta-feira (02/02), nas instalações da Fundição Progresso, na região da Lapa, centro do Rio de Janeiro (RJ).

Com o lema “Um rio chamado Brasil”, o evento reúne milhares de estudantes, de todas as regiões do país, com mostras culturais, científicas e apresentações artísticas. O tema propõe um olhar sobre a diversidade da formação do Brasil e a capacidade de resistência e adaptação de seu povo, que tal como os rios se nutrem dos afluentes e tornam-se fortes e caudalosos.

A mesa de abertura reuniu Vinicius Soares, presidente da ANPG, Bruna Brelaz, presidenta da UNE, Jadi Beatriz, da UBES, e convidados, como a professora Denise Pires, ex-reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e atual Secretária de Educação Superior do Ministério da Educação, e Salvino Oliveira, Secretário de Juventude da cidade do Rio de Janeiro, representando o prefeito Eduardo Paes, entre outros.

Representando o MEC no ato, Denise Pires reafirmou o compromisso do governo federal em reajustar todas as bolsas de estudos fornecidas pelas agências Capes e CNPq, desde as de iniciação científica e as de permanência até as de vinculadas a programas de pós-graduação. Além disso, a ex-reitora afirmou que o ministério já trabalha em uma proposta de REUNI II, um novo impulso ao programa de expansão de vagas nas universidades federais editado no primeiro governo Lula.

O presidente da ANPG, Vinicius Soares, cobrou que o novo governo acelere o atendimento às pautas apresentadas pelos pós-graduandos. “É inadmissível que o Estado brasileiro trate seus estudantes e pesquisadores do jeito que está. No mês que vem a gente completa 10 anos sem reajuste das bolsas. Precisamos dar esse primeiro passo para valorizar nossa juventude pesquisadora”, afirmou.

 

Mulheres na Ciência e na Saúde: a diversidade contra o negacionismo

A mesa mais concorrida deste primeiro dia de Bienal teve como tema “Os afluentes da ciência na reconstrução nacional” e contou com a participação das ministras de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, e Saúde, Nísia Trindade, além das professores Sofia Manzano (UFSB) e Letícia Oliveira (UFF), representando o movimento Parent in Science; a pesquisadora Jaqueline Goés, responsável pelo sequenciamento do genoma do coronavírus no Brasil, e Fernando Pigatto, representante do Conselho Nacional de Saúde.

A grande participação de mulheres foi saudada como uma demonstração da importância da diversidade para a construção dos saberes e para derrotar o negacionismo científico imposto pelo governo anterior.

 

Reajuste das bolsas: pós-graduandos cobram urgência

Luciana Santos denunciou a situação de terra-arrasada deixada pelos períodos de Temer e Bolsonaro na C&T, afirmando que os recursos destinados ao setor caíram de 11 bilhões para apenas 2,7 bilhões desde o impeachment que tirou Dilma Roussef da presidência, em 2016.

Para reverter tal quadro, a ministra afirmou que trabalha para recuperar as verbas do FNDCT. “Um dos primeiros compromissos, que já está sendo praticado, é a recomposição do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Nosso governo vai mandar um projeto de lei para garantir a recomposição completa do fundo”, disse.

A ministra também confirmou que o reajuste das bolsas de estudo, principal luta da ANPG nos últimos anos será atendida o quanto antes, mas disse que os percentuais serão revelados pelo próprio presidente Lula. “Eu quero assumir com vocês esse compromisso, de que vão contar com aquilo que foi negado nesses quatro anos. O tempo de negação da ciência passou. A ciência volta a ser prioridade no nosso país e vocês podem contar a com a ministra de Ciência e Tecnologia para isso aconteça”, concluiu.

As sinalizações positivas do governo foram bem recebidas, mas os pós-graduandos têm deixado explícito que, após quase uma década de congelamento, não estão dispostos a esperar mais e esperam medidas concretas. “Nesse período de reconstrução nacional, vamos cobrar do governo federal as iniciativas que possam trazer a educação e ciência e tecnologia como elementos fundamentais. E o primeiro passo é o reajuste das bolsas, o primeiro passo é garantir direitos trabalhistas e previdenciários para os pós-graduandos”, cobrou Vinicius Soares.

 

Saúde é integralidade

Nísia Trindade falou da situação de calamidade vivida pelo povo yanomami, tragédia humanitária que levará autoridades do governo anterior a serem investigadas por eventual crime de genocídio.

Para a ministra, a saúde precisa ser pensada em sua integralidade, observando as especificidades de cada um. “Estamos enfrentando a grave crise yanomami e buscando avançar na saúde indígena. Vamos lutar para que apolítica nacional de saúde para a população negra, aprovada ainda no primeiro governo Lula, venha a ser implementada. A luta na saúde é a luta pela integralidade. A agenda da saúde é a agenda da educação, da ciência, dos direitos humanos”, disse.

Representando o Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto, frisou que saúde é bem-estar e não apenas “ausência de doença”. “Quando a gente trata de saúde, ciência, educação, tem quem falar de combate à fome, de saneamento básico, porque saúde é integralidade, é viver plenamente”.

 

A diversidade produz ciência

Representando o movimento Parent in Science, a professora da Universidade Federal Fluminense Letícia Oliveira apresentou um panorama sobre o quão desiguais ainda são os ambientes acadêmicos.

“A ciência é inclusiva e diversa? Não! As mulheres são maioria na graduação e na pós-graduação, mas são minoria nos espaços de poder. Apenas 3% das professoras da pós são negras. É um verdadeiro apartheid”, pontuou, revelando que a pandemia pode ter agravado a situação, pois afetou de maneira mais contundente as pós-graduandas grávidas e as pós-graduandas negras.

A pesquisadora Jaqueline Goés, mulher negra e oriunda do ensino público, foi a primeira pesquisadora brasileira a sequenciar o genoma do coronavírus, em tempo recorde de 48 horas.

Ela incentivou os estudantes presentes a jamais desistirem da carreira científica, por mais difícil que possa parecer. “O meu sonho era ser cientista por causa de muitas que vieram antes. Independente da área, continuem. A democracia não pode ser apenas na política, deve ser em todas as áreas, inclusive na ciência e educação”.

Sofia Manzano, professora da Universidade do Sul da Bahia, defendeu que a juventude se mobilize por três pontos no próximo período: a revogação do ensino médio que, em sua opinião, visa fazer da juventude mera mão-de-obra barata para o mercado; do marco legal de C&T, que permite avanço do capital privado no setor; além da luta contra a PEC 206, que abre caminho para cobrança de mensalidade nas universidades públicas.

As entidades homenagearam os participantes com placas pelo empenho em defesa da ciência. A mais emblemática foi entregue à Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), através da pesquisadora Cristiane Vieira, em razão da atuação da Instituição no desenvolvimento de vacinas para combater a Covid-19.

 

Ciência em debate
Em paralelo aos debates e painéis da 13ª Bienal, permaneceram em funcionamento os espaços coordenados pela ANPG para apresentação de trabalhos científicos e desafios propostos aos pesquisadores inscritos na Mostra Científica da ANPG e na Maratona da Ciência.