Sobre a Crise no Iuperj

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O Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) vive uma grave crise financeira, estando ameaçado de extinção. Leia artigo de Maro Lara Martins, Doutorando em Sociologia pelo Iuperj, a respeito do tema.

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Sobre a Crise no Iuperj

  

Maro Lara Martins

Doutorando em Sociologia/Iuperj

 

Infelizmente não é só o Iuperj que está em crise. A educação brasileira de um modo geral balanga desde tempos imemoriais. Talvez seja necessário mais uma vez ampliarmos o debate, subirmos a uma análise macro da situação. Não só do Iuperj, sem perder o foco nesse Instituto, até porque é nele que nos encontramos e é a partir dele que falamos. Mas creio que uma investida maior tornará o debate mais salutar, afinal de contas as soluções apresentadas passam por pontos fundamentais do modelo de educação superior no Brasil. Seja pelo esgotamento de seu projeto inicial, herdeiro do Iseb e fruto de um mecenato à La Cândido Mendes, esse Instituto não pode ser pensado deslocado de uma análise da educação de nosso tempo. Afinal, o marco fundador desse Instituto, inclusive com seus parceiros, como a Fundação Ford, e mais recentemente a FINEP, está colocada em xeque- mate a partir de sua "má nascença". Não somos mais o Iseb, reunião de intelectuais com forte apego a uma missão nacional, uma espécie de conselho de intelectuais, agregação que soaria ridícula aos olhos de hoje. Também não sobrevivemos mais a partir da mão generosa e ilustrada de um membro da antiga aristocracia brasileira, com seus sonhos e desilusões, que vê sua universidade indo à bancarrota. O fato é que nos demos conta de que essa invenção, como está, atingiu seus limites. Acredito que esse limite extrapola a questão orçamentária. É o limite de uma instituição como o Iuperj. Nascida como foi. O que se tornou claro, no quadro atual é que uma instituição privada com caráter público, hoje, está se tornando inviável. Mas alguém poderia enumerar os motivos porque uma instituição como essa não pode ser mais aquilo que é, aquilo que sempre foi?

Não há dúvida do papel preponderante do Iuperj na cena pública brasileira ao longo de sua existência. Fato esse, sempre lembrado por todos aqueles que escreveram sobre o Iuperj. Também não há dúvidas sobre a sua liderança no cenário das ciências sociais brasileiras, desde sua fundação. E o que dizer do impacto e da formação de gerações inteiras de intelectuais, acadêmicos e pesquisadores, que recheiam os mais diversos estabelecimentos Brasil a fora. Associado a tudo isso, outro ponto importante, é que o Iuperj conseguiu estabelecer, apesar da enorme diferença e mesmo divergência interna, uma tradição de pensamento. E uma tradição de pensamento pulsante, tornando-se ela própria uma intérprete do Brasil. Hoje, precisará o Brasil de seus intérpretes? De seus intelectuais?

Será que essa tradição de pensamento, sua inserção na agenda pública, seus feitos e desfeitos ainda encontram espaço para uma redenção? A grande questão é que não podemos encarnar teatralmente a Geni da Ópera do Malandro, mas quem poderá nos salvar? Quem poderá nos redimir? Fomos feitos para apanhar? Somos bons de cuspir?

Por mais criatividade existente, todas as alternativas tem um endereço certo: o Estado. O bom, velho e moderno Estado. Aliás, o Estado e suas benesses, seu financiamento. Afinal, como a situação exige e o quadro parece irreversível, a educação superior brasileira, nível de pós-graduação, parece não encontrar caminhos alternativos fora do eixo estatal, excetuando-se uma ou duas instituições, do calibre das Pucs e da Fundação Getúlio Vargas.

Agora, o que nos resta é uma bomba-relógio, com data e hora pra explodir. Poderá o Estado nos salvar?