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No decorrer dos dias 12 a 15 de junho de 2023, em Belém-Pará, a Associação Nacional de Pós-Graduandos-ANPG esteve presente na reunião ordinária do Conselho Nacional de Educação-CNE. Participaram da mesa de discussão os/as conselheiros/as do CNE, o Governador do Estado do Pará, Sr. Helder Barbalho e o Secretário de Educação, Sr. Rossieli Soares, Senador Federal, Sr. Flávio Arns, Secretaria Executiva do Ministério de Educação (MEC), Reitorias da Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Estadual do Pará (UEPA) e Universidade da Amazônia (UNAMA), Direção Geral do SENAI e SESI, entre outras autoridades. 

As discussões foram enriquecedoras e abarcaramtemas urgentes como: i) o impacto do Ensino Médio no futuro da juventude brasileira; ii) juventude e empregabilidade; iii) os impactos da Inteligência Artificial na Educação – pós GPT e iv) Demandas e desafios do Ensino Superior da Região Norte.

Relatos de experiências dos/as profissionais da Educação, do poder público e sociedade civil do estado do Pará e dos demais estados da região norte do Brasil, foram impactantes e desvelaram histórias das experiências educacionais amazônicas, para além do que uma fotografia possa expressar e de um olhar desapropriado que a especificidade amazônica possui, contidas de histórias aguerridas, valorosas e únicas.

Despedir-se com a perspectiva de que a Educação pode mudar o Estado Brasileiro em um projeto de cidadania, a partir do território em que as pessoas vivem e que a diversidade seja tratada como um tema de Estado e não de governo.

Cabe elucidar que as discussões sobre às etapas finais da Educação Básica brasileira, o Ensino Médio, continua interpretado como um “território de disputa”. Vislumbra-se como o único projeto de educação com duas facetas: i) educação para os/as filhos/as da burguesia; e ii) outro tipo de educação para filhos/as do proletariado – quando conseguem acessar a escola, uma vez que são orientados/as continuadamente ao trabalho para ajudar no sustenta da família. 

Historicamente, o Ensino Médio no Brasil tem suas mazelas e isso não se pode negar, possuí dualismos nos objetivos de formação dos/as educandos/as, propostas curriculares inexequíveis em sua maioria, pois desconsideram a diversidade dos estados e cidades brasileiras, promete a juventude autonomia nas escolhas, em especial, no seu percurso formativo, mas não se cumpre e, por fim, as políticas públicas para a juventude é ineficiente, negligência direitos, que todas os/as adolescentes necessitam como os fundamentais e inerentes à pessoa humana, como a proteção integral, desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, condições de liberdade e de dignidade, oportunidade de trabalho e acesso a arte e cultura.

As narrativas acerca da Reforma do Ensino Médio, desprendida pela Lei n° 13.415/2017 são calorosas e desafiadoras, devido a existência de um projeto de educação em trânsito, que afetará a juventude de hoje e o futuro da nação brasileira. Ao acompanhar às consultas públicas, discussões e movimentos à despeito do novo Ensino Médio, tudo caminha para a “não revogação” da Lei por motivo de não se ter uma proposta a que se substituir a vigente e necessitaria da revogação da BNCC. Logo, a previsão é de ajustes nos itinerários formativos e ampliação da carga horária da formação básica. É impreterível avançar na melhoria dos materiais didáticos, formação inicial e continuada de professores/as. 

O desafio não é novo, mas perene a “igualdade de direitos” nos processos de ensino e de aprendizagem, com acesso integral (não parcial) aos recursos humanos, financeiros, materiais e tecnológico. Assim, o projeto do “novo” Ensino Médio teria maior sucesso em sua execução, de maneira mais justa e igualitária. Deve-se ficar de sentinela, porque as etapas finais da Educação Básica poderá ser ainda mais prejudicada, em especial, por possuir um viés de interesse da iniciativa privada em detrimento ao poder público.

Rafael Garcia Campos – Doutorando em Educação:

História, Política, Sociedade da PUC de São Paulo.

 

 

Por: Ingred Merllin Batista de Souza – Fisioterapeuta pela Universidade Federal do Amazonas, Doutoranda e Mestra em Ciencias, Programa de Ciências da Reabilitação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Co-Fundadora do Núcleo Ayé, primeiro coletivo negro da FMUSP.
Priscila Duarte de Lira – Licenciada em Quimica pela universidade Federal do Amazonas, Mestra e Doutoranda em Ensino de Química- Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ) Vice-presidente regional norte da ANPG, membro da União de Negros e Negras pela igualdade (UNEGRO), Vice- presidente estadual da UJS Amazonas.

 

 

A Lei nº12.711 de 2012, conhecida como lei de cotas representa um grande avanço para eliminação da desigualdade racial, democratização e diversificação do acesso ao ensino superior no Brasil e o combate ao racismo acadêmico, dados mais recentes da pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil” (IBGE, 2019) mostra que o número de matrículas de estudantes pretos e pardos nas universidades e faculdades públicas no Brasil em 2018 era maior que de brancos somando 50,3%, no entanto considerando o ensino superior como todo público e privado, o número de estudantes brancos ainda é superior, conforme os dados do Censo da Educação Superior de 2019, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, sendo brancos 42,6%; Pardos 31,1%; pretos, 7,1%; amarelos, 1,7%; e indígenas, 0,7%, raça/cor de 16% era desconhecida; o que ainda configura a desigualdade racial no Brasil, principalmente porque os negros representam 55,8% da população brasileira.
O que demostra a necessidade de fortalecimento das políticas de ações afirmativas dentro da universidade não só de acesso, mas permanência e pós-permanência que tem sido uma das principais dificuldades relatadas na implementação da lei de cotas, detectam-se problemas decorrentes da falta de assistência estudantil aos estudantes cotistas, ausência de monitoramento e avaliação o que reflete em fraudes e falta de dados que possam balizar, por exemplo, a revisão da lei de cotas prevista para este ano.
O contexto apresentando mostra a necessidade da defesa da permanência da lei de cotas na graduação, bem como o seu melhoramento e avanço para pós-graduação. A implementação das cotas na pós-graduação que atualmente é instituída pela portaria Normativa nº 13/2016 que solicita as universidades propostas de inclusão de pretos, pardos, indígenas e estudantes com deficiência em seus cursos de mestrado, doutorado e mestrado profissional. A portaria tem contribuído com o aumento no número de programas com vagas regulares ou suplementares reservadas, no entanto a falta de uma legislação nacional que o oriente a implementação, monitoramenro tem dificultado a adoção de cotas na pós-graduação. Em 2018 as cotas eram adotas por apenas 26,4% e na maior parte dos casos não houve mudança nos critérios tradicionais de admissão e os optantes pelas ações afirmativas são submetidos às mesmas etapas e regras dos demais candidatos (VENTURINE, 2018).
A regulamentação por lei das cotas na pós-graduação contribuirá para o melhoramento da atual política de cotas instituída na graduação, considerando que a desigualdade instrucional entre brancos e negros é grande em todos os níveis de educação (IBGE,2019). E essa desigualdade no nível instrucional é uma das responsáveis pela desigualdade no mercado de trabalho entre brancos e pretos, por exemplo, os dados do (IBGE,2019), mostram 68,6% dos cargos gerenciais com melhores remunerações eram ocupados por brancos.
As cotas na pós-graduação podem ajudar na elevação no nível formativo da população brasileira e na eliminação da desigualdade educacional e profissional. E neste sentido cabe trazer para a discussão a importância de defender no novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG) que integra o Plano Nacional de Educação (PNE) o cumprimento das metas 13, 14 e 16 do PNE 2014-2021, referentes ao aumento de titulações de mestrado e doutores, elevação da titulação de professores efetivos do ensino superior e da educação básica, precisa ser pautada também na promoção da igualdade racial, de gênero e acessibilidade aos discentes deficientes.
O perfil dos discentes de pós-graduação mostra que a proporção de brancos entre mestres e doutores é da ordem de 80% (CORDEIRO, 2017), evidenciando a desigualdade étnico-raciais na pós-graduação.
Fazendo-se necessários também o fortalecimento da política de inclusão e de assistência estudantil na pós-graduação, dados da pesquisa do Parent in Science (2020) sobre produtividade acadêmica, aponta que as pós-graduandas mulheres, principalmente as mulheres negras mães foram as mais afetadas pela pandemia. Apenas 25,7% das mulheres negras conseguiram trabalhar na pandemia porcentagem que é ainda menor considerando as mães negras 9,9%. Porcentagem essas que contribuem para a desigualdade considerando os fatores de gênero e raça, principalmente para a sub-representação de mulheres na ciência. Desvelando a falta de uma política de assistência estudantil, atualmente o único benefício que os pós-graduandos possuem é a bolsa de pesquisa defasada há quase uma década e sem direito nenhum à assistência estudantil ou trabalhista.
As metas 13 e 16 dizem respeito ao aumento do nível de titulação dos professores da educação superior e básica. Especificamente, sobre a diversidade do trabalho docente no ensino superior os dados do Observatório da Inclusão e Diversidade na Educação Brasileira – DIVERSIFICA/UFRB (COSTA, 2019), mostrou que nas instituições federais a maioria dos docentes era do sexo masculino (54,6%), autodeclarados/as brancos/as (75,0%) – os/as docentes negros/as representavam 23,4% do total de docentes no Ensino Superior no Brasil.
Esses dados evidenciam a necessidade de fomentar políticas afirmativas na pós-graduação, por meio da regulamentação da política de cotas na pós-graduação e de assistência estudantil que assegure às mais vulneráveis condições de acesso e permanência na pós-graduação, contribuindo assim para diminuir a desigualdade social e racial e do racismo acadêmico.
Por: Ingred Merllin Batista de Souza – Fisioterapeuta pela Universidade Federal do Amazonas, Doutoranda e Mestra em Ciencias, Programa de Ciências da Reabilitação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Co-Fundadora do Núcleo Ayé, primeiro coletivo negro da FMUSP.
Priscila Duarte de Lira – Licenciada em Quimica pela universidade Federal do Amazonas, Mestra e Doutoranda em Ensino de Química- Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ) Vice-presidente regional norte da ANPG, membro da União de Negros e Negras pela igualdade (UNEGRO), Vice- presidente estadual da UJS Amazonas.

 

Referências
Anna Carolina Venturini. 42º ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS. GT 25: Políticas Públicas. AÇÕES AFIRMATIVAS PARA PÓS-GRADUAÇÃO E PADRÕES DE MUDANÇA INSTITUCIONAL. 2018
BRASIL, Censo da Educação Superior 2019: Divulgação dos resultados. Disponível em: https://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2020/Apresentacao_Censo_da_Educacao_Superior_2019.pdf. Acesso em 19 mar. 2022.
COSTA, Fabíola Marinho; OLIVEIRA, Roberval Passos; MEIRELES, Everson Cristiano de Abreu; SANTANA, Luciana Alves Alaíde. Diversidade entre docentes das instituições de educação superior brasileiras. Revista Educação, Psicologia e Interfaces. Dossiê Inclusão e Diversidade. Volume 3, p. 67-82, 2019. doi: https://doi.org/10.37444/issn2594-5343.v3i4.150. Acesso em: 22 de mar. 2022.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Informativo n. 41. Disponível em https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101681_informativo.pdf. Acessado em 22/03/2022.
PARENT IN SCIENCE. Produtividade Acadêmica durante a pandemia: Efeitos de gênero, raça e parentalidade, 2020. Disponível em:https://327b604e-5cf4-492b-910b-e35e2bc67511.filesusr.com/ugd/0b341b_81cd8390d0f94bfd8fcd17ee6f29bc0e.pdf?index=true. Acesso em: 22 de março, 2022.

TCC: A terminologia que pode incomodar a maioria das pessoas que querem se formar parece ser mais difícil na teoria do que na prática. Então, se ele se assustar com você e tiver algumas dúvidas, não se preocupe! Ao final deste artigo, você saberá

Para entender completamente este tópico, vamos começar com o conceito básico: o que significa TCC na faculdade.

O que significa TCC

TCC, que significa Trabalho de Conclusão de Curso, é uma avaliação feita no final da graduação. Sua finalidade é que o aluno escreva no papel tudo o que aprendeu desde o início de seus estudos. Portanto, é possível saber se tudo está devidamente absorvido e compreendido.

O TCC é uma parte muito importante de qualquer curso, pois pode ser muito importante que os alunos que se esforçam para fazê-lo da maneira certa testem seus conhecimentos e vejam de outra perspectiva como evoluíram ao longo de seu aprendizado. Recompensas e incentivo!

TCC é obrigatório?

O MEC (Ministério da Educação) não considera o TCC como uma etapa obrigatória para a obtenção do diploma, por isso nem todas as instituições exigem esse trabalho. No entanto, especialmente nas universidades, é muito comum.

Como tal, os requisitos do TCC variam muito: o MEC não o considera necessário, mas sua universidade pode exigir e considerar um fator muito importante para a conclusão do programa.

Existem diferentes tipos de TCC?

sim! Aliás, uma das dúvidas na cabeça de quase todos os egressos é: A monografia é igual ao TCC?

Como mencionado acima, o TCC não é um padrão obrigatório para o Ministério da Educação, ele permite que cada instituição escolha livremente quais padrões seguir. Portanto, nem todos os TCCs são iguais – e essa monografia é apenas um tipo de trabalho realizado pelo curso.

Além disso, é interessante saber que existem três tipos mais comuns de TCC. eles estão:

TCC de Projeto Prático

Como o nome sugere, as tarefas de conclusão de curso que exigem projetos práticos incluem demonstrações do mundo real de tudo o que foi aprendido no curso.

Muitas faculdades usam essa abordagem para cursos onde a prática é tão importante quanto a teoria, como fotografia e jornalismo. Nesses casos, uma investigação escrita complementar pode ou não ser necessária.

Artigo Acadêmico

Dissertação acadêmica é um tipo de TCC baseado em pesquisas mais profundas e pesquisas aprofundadas. Nesses casos, é bom analisar se o aluno realmente sabe do que está falando e tem propriedade sobre isso.

Embora baseado em extensa pesquisa, o TCC em formato de artigo acadêmico não exige textos excessivamente longos e exaustivos.

Monografia

Semelhante a um artigo acadêmico, uma monografia é um tipo de TCC baseado em muita pesquisa – muito.

Ao contrário dos métodos mencionados acima, as monografias exigem uma redação mais técnica, detalhada e bem estruturada. Os detalhes são fundamentais para bons resultados com o TCC neste formato, o que pode ser um pouco cansativo. Recomendamos começar a ler a monografia com antecedência para que os alunos possam prestar atenção em todos os detalhes.

 

Helena Augusta Lisboa de Oliveira

Diretora de Juventude da ANPG

 

Observa-se crescente número de casos de ideação suicida, depressão e automutilação, além de suicídios entre jovens nas instituições de ensino. É uma triste constatação do fracasso social em fornecer uma educação que nossa Constituição Federal propõe, de desenvolvimento pleno da pessoa como primeiro objetivo. O suicídio, apesar de não ter uma causa única, mas ter um conjunto complexo de fatores, tem entre esses fatores o isolamento social psíquico, o senso de pertencimento em falta, e o não reconhecimento da identidade e dos valores da pessoa, além dos outros fatores como os resultantes das desigualdades sociais. Todos esses fatores estiveram presentes em falas de pós-graduandos que participaram das dinâmicas promovidas pelo Evento Saúde Mental para Agir. A educação em instituição própria, deveria então, voltar seus esforços para atender a essa demanda urgentemente, pois estamos perdendo nossos jovens. 

Além de falar do que não queremos, é de suma importância falar também do que queremos. Abaixo, é apresentado o texto de abertura do Evento Saúde Mental para Agir, que trata exatamente da educação que queremos, contrastante com o quadro vivido. A abertura do evento contou a presença da Presidente da ANPG Flávia Calé. Estavam também presentes a Diretora de Juventude da ANPG Helena Augusta Lisboa de Oliveira e Bruno Goulart de Oliveira, do CNV em Rede, organizadores do evento. O evento contou com o suporte artístico, técnico e de comunicação do Diretor de Comunicação da ANPG Vinícius Soares e de Patrícia Pereira dos Santos.

 

Texto de abertura do evento Saúde Mental para Agir – A Educação que Queremos

“Queremos formar cidadãos onde a motivação dele para agir seja a da segurança de estar fazendo o melhor que ele poderia para benefício dele e dos outros. 

Que a sua vida, o seu existir e o seu trabalho tenham sentido para ele. 

Que ele desabroche todo o potencial que ele tem, que ele possa se realizar na profissão que escolher. Que dinheiro não seja a motivação de viver. Que ele faça suas escolhas pensando no bem de todos, em colaborar para a vida como um todo, com o planeta, e não em se proteger, vivendo o medo. 

Que ele possa se realizar plenamente como pessoa, e cumprir o objetivo da educação previsto na Constituição Federal de 1988: o desenvolvimento pleno da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e para o trabalho. Isso não se dará se não garantirmos o subsídio material, para que ele não ocupe a sua mente com o medo sobre o que irá comer amanhã, o medo da dúvida se terá saneamento, se terá respeito, se terá abrigo. Mas possa se ocupar com o pensamento de escolher qual é a coisa mais maravilhosa que ele pode fazer por ele e pela sua comunidade hoje, como tornar a vida mais maravilhosa agora. 

Para isso, deve ser garantido também o suporte afetivo e acolhedor de uma rede social, um grupo que ele tenha com quem contar, que forneça carinho, atenção, na própria comunidade ou aonde der, a começar por cada um de nós. 

Finalmente, outro suporte imprescindível é o de uma educação científica crítica, ética e humanizada, com espaço para o autoconhecimento, a reflexão crítica e o protagonismo humanizado do estudante desde cedo, para que ele seja imbatível contra fake News ou qualquer mentira ou tentativa de manipulação que usarem contra ele. 

Que seja promovida a ética no ensino-aprendizagem. Que seja promovido o estudo das violências, sejam diretas, culturais ou estruturais, das desigualdades, e estudos de cultura de paz, da construção de relações mais saudáveis, de valorização da saúde mental e do bem-estar do povo. Não adianta apenas “dar” esse conteúdo. Mas propiciar que ele nasça, cresça e se desenvolva como valor social, com participação popular e integração da comunidade com as instituições de ensino. 

Assim, propiciaremos a autonomia e a criticidade, para um povo unido que busque o bem-estar de todos, de forma solidária, acolhedora e empoderada, resultando naturalmente numa verdadeira democracia com justiça social intrínseca.”

 

Helena Augusta Lisboa de Oliveira

Diretora de Juventude da ANPG

 

O evento Saúde Mental para Agir aconteceu na semana de aniversário de 100 anos do patrono da educação brasileira Paulo Freire. Aconteceu também no setembro amarelo,  mês dedicado à conscientização da prevenção ao suicídio. Essas datas foram de um símbolo muito grande, pois o evento buscou, justamente, trabalhar a questão do sofrimento mental, que leva muitos estudantes ao suicídio, relacionada ao modelo, aos relacionamentos e às práticas educacionais (ainda) vigentes em 2021. 

As atividades síncronas aconteceram do dia 23 ao dia 26 de setembro de 2021. Foram 530 pós-graduandos inscritos, de 25 estados brasileiros e do Distrito Federal, de aproximadamente 400 Instituições de Ensino Superior (IES).

O evento trouxe a temática da saúde mental, relacionada nesse contexto ao convívio acadêmico sadio necessário ao desenvolvimento da pessoa, como propriedade primordial para que se consiga agir com sustentabilidade na sua formação cidadã e preparação para o trabalho, na busca da defesa dos direitos humanos e estudantis, na construção de uma sociedade com mais justiça e equidade. Porém, essas são também condições que contribuem para a saúde e bem-estar coletivos. De onde sairá então o passo inicial? Uma das potenciais alternativas é trabalhar com o que já se tem condições nas IES, para começar a transformação, estabelecendo formas de se relacionar mais sadias, que possibilitem o mínimo de compreensão mútua para a formação de uma rede de apoio, tornando possível a realização de ações de transformação social coletivas. 

Eventos de saúde mental convencionais, que não levam em conta a crise de valores humanos presente na cultura e os obstáculos atuais do sistema educacional, apresentam certas dificuldades para lidar com esse tema, pois:

  • Enfocam na importância de melhorar a qualidade de vida dos estudantes indicando exercício físico, alimentação saudável, práticas meditativas e cuidado do sono, mas não questionam a desigualdade social, a falta de recursos do estudante, as pressões para tirar boas notas e prazos para entrega dos trabalhos, em um ambiente de competitividade, onde dedicar tempo ao autocuidado implica obrigatoriamente em ser “menos produtivo” e “ficar para trás”.
  • Dão dicas sobre como se medicalizar e aumentar a tranquilidade e o foco com auxílio de medicamentos, o que pode induzir o estudante a ser passivo, ignorando  que seu “vazio” pode estar sendo causado por uma vida sem sentido e sem conexão humana; seu “déficit de atenção” pode ser consequência da falta de interesse do meio acadêmico em entender seus sonhos e motivações; e seu “estresse” pode estar relacionado à competitividade e exigência de perfeição à qual o estudante é submetido.
  • Apresentam dados estatísticos de correlações entre drogas e doença mental, violências e suicídio, mas não promovem ações de integração e cooperação efetivas e não dão espaço satisfatório para o estudante falar sobre o que lhe preocupa, lhe tira o sono e lhe faz querer afastar-se da realidade.

Por isso, esse foi um evento diferente dos eventos tradicionais de saúde mental, pois reconhece que a comunidade universitária é corresponsável pelo bem-estar coletivo. Neste evento, quisemos valorizar a participação dos jovens, acolhendo sua presença da forma mais integrativa possível, desde a inscrição (que contou com um questionário reflexivo, usado posteriormente nas etapas do evento) até as dinâmicas, que foram o carro chefe do evento.  Elas ocorreram em turnos e dias diferentes, para propiciar que cada um se expressasse e tivesse seu espaço de construção conjunta e protagonismo. 

Voz dos estudantes

A inscrição do evento contou com um formulário de sondagem opcional que examinou os valores e aspirações dos estudantes, suas estratégias para chegarem lá e as dificuldades encontradas, além de como se sentem em relação a isso. Também foram coletadas estratégias a serem aplicadas para se alcançar os valores sociais desejados por eles. Durante as dinâmicas, alguns dos resultados foram discutidos e amadurecidos, e proposições foram levadas ao 44º Conselho Nacional de Associações de Pós-Graduandos (CONAP). Mais informações sobre os diagnósticos, demandas e estratégias dos estudantes serão publicadas em breve.

Dinâmicas

Nas dinâmicas, convidamos a todos a uma corresponsabilização para oferecimento de propostas de ações práticas para melhoria do quadro atual de sofrimento mental e da educação como um todo. 

 O estudante que participou do evento Saúde Mental para Agir, especialmente das dinâmicas, não encontrou dicas sobre como se medicalizar e ser passivo, como se enquadrar num sistema que adoece, se desconectando de si mesmo; como dar manutenção a esse sistema; como ignorar os sinais que seu corpo e mente dão sobre sua saúde; como criar estratégias de se destacar competindo com os estudantes “mais fracos”

Mas, ao contrário disso, constatou-se o quanto a competitividade, a alienação, o isolamento, a submissão impensada ou a irresponsabilidade são prejudiciais à vida de todos. Buscou-se sim, evidenciar nas dinâmicas o potencial de cada um, os tesouros que as experiências individuais podem ser para a coletividade e oportunizou-se que as pessoas pudessem ser elas mesmas, valorizando sua individualidade e o poder do conjunto, do apoio mútuo e da rede de suporte, mostrando na prática aquele jargão de que a união faz a força. Buscou-se oferecer espaço para o protagonismo, reconhecimento e legitimação dos potenciais, sonhos e realizações dos participantes, uma iniciativa que contempla a Educação que Queremos (link da matéria).

 

Palestras

Buscou-se, também, trazer nas palestras conhecimento e experiências de práticas de sucesso que contribuem para a convivência humanizada e desenvolvimento sadio dos cidadãos e profissionais, em harmonia com sua comunidade, tais como a justiça restaurativa, as práticas circulares e mediação social, princípios de cultura de paz da Comunicação Não Violenta (CNV) e um modelo educacional que agrega várias dessas práticas, que são as Comunidades de Aprendizagem.

A palestra de abertura do evento contou com a presença de Flávia Calé, Presidenta da ANPG, reiterando a importância do evento e do assunto aos pós-graduandos e à sociedade. A Diretora de Juventude Helena Augusta Lisboa de Oliveira deu prosseguimento iniciando o evento, trazendo dados importantes sobre o sofrimento psíquico dos pós-graduandos. Concluiu-se que as principais causas de desmotivação relacionadas diretamente à vida acadêmica, originadas e alimentadas nela, estão a competitividade em detrimento da colaboração; o desincentivo ou mesmo a desvalorização da criatividade e potencialidade dos estudantes, com o foco no consumo de conteúdos escolhidos por terceiros, de forma quase passiva; e a falta de percepção da relação entre o fazer acadêmico e a contribuição social efetiva, que beneficie o povo e o planeta.

José Pacheco trouxe relatos e reflexões sobre sua experiência em escolas pelo Brasil e na Escola da Ponte. Afirmou que fatores como sala de aula, turma, horário padrão, aplicação de prova, solidão em sala de aula, contribuem para o adoecimento, e são “privações terríveis que fazem do aprendiz um ser solitário competindo contra os outros”. Falou da solidão do professor, que é a mesma solidão do aluno: “Estamos todos sozinhos no tempo em que dispomos do máximo de instrumentos de comunicação.”. Em um de seus relatos, descreveu a situação em que se encontrava dando aula em uma turma de pós-graduação. Ele perguntou aos estudantes quem eram, e após várias apresentações, perguntou “O que querem saber?”, e a turma se assustou com a pergunta, afirmando que nunca havia recebido essa pergunta. Essa história serviu de ponte para reflexão do papel do professor, que deveria, num modelo de Escola Nova, não construir projetos para o outro, mas construir com o outro; não deve fazer plano de aula, mas ensinar o outro a planejar-se, a saber construir projetos de vida autênticos; deve enfim,  ensinar o outro a planejar sua vida, e não planejar a vida do outro. Completa comentando sobre a inutilidade de aulas, e afirma que o professor “não ensina aquilo que diz, mas transmite aquilo que é”. Comparou os modelos tradicionais  de ensino com o modelo de Comunidade de Aprendizagem, concluindo que aqueles que participam do primeiro, adoecem, e os que participam do segundo, não. E aqueles que reagem estão menos doentes do que aqueles que não reagem, pois mais cedo ou mais tarde vão refletir a violência naturalizada que sofrem ou sofreram em atos violentos, para os outros ou para si mesmos. Ilustra a situação com os casos na Índia onde suicídios de estudantes aconteceram ao serem reprovados em seleção na faculdade.

 Cléo Lima falou sobre suicídios nas universidades e a indissociabilidade do ser humano em diferentes papéis na vida. Trouxe também reflexões sobre a incoerência de um sistema onde se realiza atividades de aprendizagem com desgosto, sem envolver prazer, ou no mínimo, a curiosidade. Falou ainda sobre a ressignificação do papel do professor e pesquisador, que é enriquecido quando “in-mundo”, que significa que ele se lança no mundo, que não vê o outro como um objeto, mas que o vê, que se intera, que se faz junto no processo.

Bruno Goulart de Oliveira trouxe as bases da Comunicação Não Violenta em sua palestra, identificando os prejuízos da educação que adestra e não educa realmente, formando massas de manobra. Esse tipo de educação utiliza chantagens, punições e recompensas. São estratégias de dominação do outro que contam com a promoção de sua alienação, seu isolamento tanto de sua rede de apoio (ou colegas), quanto de si mesmo, o distanciando de seus próprios valores. Essa “educação” ainda tem como estratégia complementar o desincentivo de práticas que o conectem consigo ou com os outros.

Deisi Oliveira falou sobre a importância de não se conformar com a discriminação e a falta de inclusão, apresentou sua experiência de vida usando a Comunicação Não Violenta para mudar as estruturas sociais a partir da conexão com seus próprios valores e princípios, mesmo em cenários de violência cultural. Junto com Thailane Souza Silva Brito, ambas trouxeram a importância da empatia para a inclusão.

Flávia Beleza trouxe sua experiência com a mediação social transformadora, que busca acabar com as violências no contexto escolar, usando conflitos como chaves de transformação social. Os projetos contam com a formação de integrantes da comunidade escolar de todas as idades e funções, que irão identificar e mediar conflitos, para que sejam reveladas as raízes dos problemas e assim buscarem juntos melhorias para a vida conjunta.

Cléo Garcia apresentou a justiça restaurativa como uma forma de enfrentamento das violências que humaniza as partes envolvidas em um conflito e pode ser aplicada no meio acadêmico. Ela se diferencia da justiça tradicional retributiva e punitiva, pois, ao invés de considerar o crime como uma violação do estado, considera os conflitos e suas perdas como violação de pessoas, que pode vir de qualquer desconforto. Não usa a punição, mas tem em vista a reparação dos danos e a segurança. A vítima tem um papel central e é ouvida, e possui espaço de suporte, ao contrário da retributiva-punitiva onde a interpelação acontece entre o estado e o ofensor, e os danos da vítima servem no máximo como provas, mas não recebem atenção.

Lucy Duró Matos Andrade Silva trouxe reflexões sobre a medicalização de jovens e a educação. Criticou a lógica mercantilista, reproduzida pela educação tradicional, que dirige a responsabilidade do problema social e da educação para o indivíduo, o levando a um entendimento de que ele é culpado por ser inadequado e a medicalizar-se. Apresentou dados do crescimento assustador do consumo de antidepressivos e ansiolíticos, como Rivotril, no Brasil nos últimos anos, e a Ritalina, relacionada ao TDAH. Sua experiência de pesquisa apontou que jovens que passaram pela metodologia diferenciada de Comunidade de Aprendizagem, no Projeto Âncora, onde não há classes ou aulas, não apresentavam quadros de medicalização em massa.

 

Pesquisa Nacional

O evento contou também com a apreciação de um questionário, instrumento que faz parte de um projeto de pesquisa colaborativo que busca fazer um mapeamento a nível nacional das violências e sofrimento mental que os pós-graduandos passam. Como último nível da educação, o estudo da condição psíquica desse público relacionada à academia pode revelar falhas e acertos da educação brasileira. Ele esteve aberto à apreciação e a sugestões, permitindo sua construção plural e participativa.

 

Rede para Humanização das IES

Por fim, o evento inaugurou a Rede para Humanização das IES (RHIES), uma plataforma que tem por fim promover transformações culturais nos espaços acadêmicos, combatendo as violências e promovendo a saúde mental e a Cultura de Paz nas Instituições de Ensino Superior (IES). Serão disponibilizadas e compartilhadas sugestões de ferramentas e práticas para construção de uma vida acadêmica que faça mais sentido, mais alinhada aos valores e direitos humanos. O participante poderá compartilhar suas experiências, fazer amigos, trazer materiais e construir conjuntamente a plataforma. Poderá também pedir ajuda, encontrar ideias, materiais, cursos e profissionais que auxiliem a fazer a transformação no seu espaço, seja para melhorar sua vivência específica, local, ou em grande escala, em toda a instituição.

 

As ações do evento não se concluíram com ele, pois ele é parte de um movimento de transformação que perdurará até que a educação alcance o seu objetivo de promover de fato o desenvolvimento pleno da pessoa.

Victoria Negri, residente de Saúde da Família e conselheira estadual de Saúde do ES pela ANPG.

UMA LINHA HISTÓRICA SOBRE A REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA PARA ENTENDER A GRAVIDADE DO DESMONTE DA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

Quando falamos da rede de atenção à saúde mental é impossível não fundamentar historicamente sua luta sem citar a Reforma Psiquiátrica Brasileira, seguindo as correntes sobre a desinstitucionalização no que condiz a deslocar a atenção central da instituição majoritariamente os hospitais psiquiátricos para a comunidade, resguardando então os direitos humanos e a inclusão social.
Esse movimento se desenvolveu no Brasil a partir do final dos anos setenta, apontando várias inconveniências de um modelo manicomial que baseou os paradigmas na psiquiatria clássica e colocou o hospital psiquiátrico como única forma de tratamento, trazendo como consequência a exclusão social e discriminação das pessoas com transtornos mentais no país.
O SUS só originou-se em 1986 pela 8ª Conferência Nacional de Saúde como uma conquista popular e se legitimou com a lei 8080/90, ao contrário de como se instalava anteriormente de forma meritocrática aos trabalhadores, agora a saúde é considerada um direito de cidadania integral, equitativo e universal garantindo a participação popular em um sistema descentralizado, hierárquico e regionalizado.
Mesmo com esse grande passo, porém, a saúde mental continuava discriminada ou “sem um lugar” para seu tratamento, caindo como consequência, novamente, na armadilha da restrição do sujeito a sua patologia onde descarta-se seu contexto social, ou seja, a exclusão social como única forma de tratamento para as doenças até hoje pouco conhecidas e tratadas como tabus cheios de senso comum.
Foi preciso, então, fortalecer em todo o território brasileiro, junto a América Latina, a Reforma Psiquiátrica sendo um movimento histórico de caráter social, político e econômico no qual visa a desinstitucionalização como a desconstrução dos manicômios assim como todos os paradigmas que os sustentam (GONÇALVES, SENA, 2001).
Emergiu, após muita resistência, um dos seus primeiros marcos em 1990 durante a Conferência Regional para a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica, em Caracas resultando na promulgação da “Declaração de Caracas”, onde todos os países Latino Americanos se comprometeram a reestruturar a assistência psiquiátrica, a salvaguardar os direitos civis, os direitos humanos, a permanência do usuário na comunidade e a rever criticamente o papel centralizador e, até então, hegemônico do hospital psiquiátrico (HIRDES, 2009).
Foi a partir daí, depois de ratificar a importância da visibilidade ao tratamento da pessoa com transtorno mental que começamos a ver resultados. Foi promulgada a Lei 10.216 de 2001, depois de 13 anos de espera do Senado Brasileiro, na qual protege os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial à saúde mental, visando sua recuperação dentro do contexto familiar e comunitário.
Entre outras portarias, após essa lei, não menos importantes, que regularizam a verba da atenção psicossocial, tivemos a de Nº 3088, de 23 de dezembro de 2011 em que se:

 

“Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).”

 

Assim como coloca a humanização, respeito aos direitos humanos, autonomia e individualidade, cidadania, tratamento na territorialização, a quebra de estigmas e preconceitos como algumas das diretrizes da atenção psicossocial do SUS. Desta forma, o SUS do Brasil passa a cobrir o tratamento de saúde mental do Brasil.
E tivemos também a portaria Nº 3089, de 23 de dezembro de 2011 onde implementa e regulamenta o Centro de Atenção Psicossocial como atenção integral e tratamento em meio a comunidade:

 

“Dispõe, no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial, sobre o financiamento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso das atribuições que lhe conferem os incisos I e II do parágrafo único do art. 87 da Constituição”

 

Compreendendo todo esse progresso de anos, foi com a Reforma Psiquiátrica brasileira que criou-se novos dispositivos em saúde mental no qual possibilita novas abordagens de tratamento, princípios, olhares às pessoas com sofrimento mental, valores e, principalmente, a inserção da saúde mental na rede pública no qual impulsiona formas mais adequadas a “loucura” em seu âmbito social, cultural e familiar (HIRDES, 2009).
É importante ressaltar, contudo, que esse modelo também trouxe bastante resistência das famílias que não são preparadas para o cuidado ao doente mental e precisam de uma formação para tal. Esse modelo muitas vezes é entendido como uma desospitalização sem condições necessárias para viabilizar a reabilitação do usuário e isso influencia na realidade cotidiana da família, na maioria das vezes, incapacitada (GONÇALVES; SENA, 2001).
Seguindo essa dificuldade, também percebemos decisões tomadas pelo governo em 2016, pelo presidente Michel Temer com a Emenda Constitucional 95/2016 congelando os investimentos na Seguridade Social por 20 anos, além de várias normativas específicas para a rede de saúde mental no qual também se inclui uso de álcool de outras drogas.
Somente no final de 2020 no Governo Bolsonaro que a ameaça a atenção psicossocial ficou mais real com o projeto apresentado pelo Ministério da Saúde de revogação de cerca de 100 portarias publicadas entre 1991 e 2014, duas delas citadas neste artigo, atingindo diretamente as estratégias, conquistadas pela Reforma Psiquiátrica e a Luta Antimanicomial, de cuidado a pessoas em sofrimento psíquico resguardadas pelos seus direitos humanos e promovendo a volta do cuidado em redes de internação em hospitais psiquiátricos.
As portarias que estão na mira da revogação estabelecem procedimentos ambulatoriais e o financiamento do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). CAPS colocado como uma das maiores vitórias do movimento político social antimanicomial porque é nele que se fortalece o vínculo comunitário do usuário da saúde mental como uma alternativa às internações em manicômios, ampliando uma recuperação junto a interação sócio-familiar, oficinas terapêuticas e afetos.
Além disso, nessa proposta também, coloca-se a criação de ambulatórios gerais de psiquiatria e de unidades especializadas em atendimento psiquiátrico, bem como, aumento das comunidades terapêuticas, nas quais são alvos de muito denuncias por tortura, conversão religiosa compulsória e trabalho escravo.
É importante frisar que os hospitais psiquiátricos, hoje ilegais, também eram leitos de longa duração especializados apenas em atendimento psiquiátrico. Atualmente só é permitida a internação de curta duração em casos de urgência e emergência em leitos de hospitais gerais, porque a partir de 3 meses, o resultado terapêutico da internação é perdido.
Lamentável ver o Governo retrocedendo uma luta de anos por cidadania e humanização porque, para que haja realmente o deslocamento da ações envolvendo a saúde mental para um contexto comunitário, é crucial a vontade política do estado de direito para a implementação dessas estruturas que, não só, substituem o modelo hospitalocêntrico, mas também educam uma nova visão de saúde. Só assim, com a criação de uma nova cultura de saúde/doença e suas relações em meio ao contexto social (HIRDES, 2009).
O Brasil possui um movimento de Luta Antimanicomial muito forte e atuante reforçado, principalmente, pelo Conselho Federal de Psicologia, um dos principais órgãos fiscalizadores de infração aos direitos humanos de pessoas em sofrimento psíquico. Temos história da luta pela saúde mental e precisamos mantê-la.
Manter a ciência como grande embasamento para o tratamento da saúde mental, a humanização como o grande acolhimento e persistência no caminho a ser seguido com o usuário da rede psicossocial. A arte como a grande base terapêutica para a expressão dos desejos como uma linguagem e a interação para com outros usuários, os profissionais e a comunidade. A promoção a saúde como quebra de estigma sobre saúde mental e discriminações.
Segundo o livro “Holocaustro Brasileiro”, só no manicômio Hospital Colônia de Barbacena, 60 mil pessoas perderam a vida. Pessoas em sofrimento psíquico como também mendigos, comunistas pegos pela ditadura, “mãe solteiras”, pessoas com Síndrome de Down, porém todas atestadas como loucas. A loucura como tudo de errado que existia na sociedade. O manicômio como abraço invisível a negligência. Essas pessoas morreram no anonimato, abandonadas muitas vezes pela família por preconceito e estigma. Não podemos dar nenhum espaço sequer para a volta de um tragédia até hoje, por muitas pessoas, ainda desconhecida.
Trancar não é tratar e nunca foi. É discriminação e higienização social repleta de infração aos direitos humanos distanciando o transtorno mental como objeto de estudo da equipe de saúde multiprofissional. A Luta Antimanicomial resiste porque a Saúde de qualidade como direito de cidadania resiste.

REFERÊNCIAS:

BRASIL, 2016. Emenda Constitucional Nº 95, De 15 De Dezembro De 2016. Planalto, 2016. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc95.htm> Acesso em 01 de agosto de 2021.

BRASIL, 2011. Portaria Nº 3.089, De 23 De Dezembro De 2011. Bvsms, 2011. Disponível em <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3089_23_12_2011_rep.html> Acesso em 01 de Agosto de 2021.

BRASIL, 2011. Portaria Nº 3.088, De 23 De Dezembro De 2011. Bvsms, 2011. Disponível em <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3089_23_12_2011_rep.html> Acesso em 01 de Agosto de 2021.

BRASIL, 2001. Lei No 10.216, De 6 De Abril De 2001. Planalto, 2001. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm> Acesso em 01 de agosto de 2021.

GOLÇALVES, Alda Martins e SENA, Roseni Rosângela de. A Reforma Psiquiátrica no Brasil: Contextualização e Reflexos Sobre o Cuidado com o Doente Mental na Família. Revista Latino-Ameriana de Enfermagem [online]. 2001, v. 9, n. 2.

HIRDES, Alice. A Reforma Psiquiátrica no Brasil: Uma (re)visão. Ciência & Saúde Coletiva. 2009, v. 14, n. 1.

ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro. 1ª ed. São Paulo: Geração Editorial, 2013, 255 p. ISBN 978–85–8130–157–0

Josiel Rodrigues, Diretor de políticas de emprego da ANPG

Na última segunda-feira, assistimos ao início da 22ª edição do Big Brother Brasil, um dos maiores programas de entretenimento da televisão brasileira. É um programa que mobiliza milhões de reais em prêmios, comercialização de anúncios e ações publicitárias e, ainda, milhões de pessoas a acompanhar a rotina de participantes em uma casa vigiada por dezenas de câmeras. Essa “convivência” gera conversas, assuntos e temas que por muitas vezes se tornam pauta nos mais diversos espaços de socialização: sejam as rodas de conversas informais, sejam ainda opiniões disseminadas em plataformas de mídias digitais, de rádio e televisão.
Como é de praxe, o BBB acaba por desvelar e mobilizar a discussão de diversos temas na nossa sociedade – seja por atores de forma individual ou ainda por redes de sujeitos organizados. Seu potencial de alcance é muito potente em determinar o que é assunto nos diversos ambientes sociais – tanto físicos como digitais. E foi assim quando vimos, mais uma vez, reacender a discussão sobre racismo, a partir das participantes Naiara Azevedo (“nunca me ensinaram o que era loiro, ruivo, preto, pra mim é tudo igual sabe, eu não enxergo tons de pele diferente) e Natália Deodato (“sou preta e, realmente, tem a história que viemos como escravos sim, porque a gente era eficiente…), em uma conversa sobre esse tema.
São frases que não raramente ouvimos nos mais diversos espaços onde vivemos e convivemos. Mas a dimensão pública desse tema exige que não naturalizemos a ideia de que “somos todos iguais” e que o dia 20 de novembro deveria ser o “dia da consciência humana”. São ideias que invisibilizam a verdadeira problemática do racismo no nosso país, que é real e tem suas raízes fundadas no período da escravidão. Primeiramente, os negros africanos não “vieram” para o Brasil. Foram raptados, violentados e traficados para cá. Sobre isso, a literatura sobre a escravidão trata esse processo como “tráfico negreiro”. Segundo: esse tráfico negreiro foi fruto e consequência de uma necessidade econômica e ideológica da garantia de uma força de trabalho que pudesse ser facilmente explorada. E é aí que os negros africanos são traficados não só para o Brasil, mas para toda a América.
Não à toa, autores como Clóvis Moura e Sílvio Almeida identificam na escravidão a raíz da desigualdade racial que até hoje determina o lugar social das pessoas negras no nosso país. Lugar social que hoje é a violência, a pobreza e a morte. Clóvis Moura é extremamente certeiro ao explicar esse período como um modo de produção próprio (assim como foram o feudalismo e como é o capitalismo). Seu entendimento do “escravismo” é fundamental para o reconhecimento do “Racismo Estrutural”, tão brilhantemente pontuado por Sílvio Almeida. É essa estrutura racista que determina o “perfil” de quem morre pela mão do Estado e de quem não tem acesso a políticas públicas.
Essa contextualização sobre as raízes da discriminação racial no Brasil são necessárias pois é a partir desse entendimento que podemos perceber o quão público e necessário é essa discussão. E é nessa dimensão que mora, inclusive, a forma como a postura de ambas as participantes são tratadas de formas diferentes. Esse racismo faz com que o peso dado às falas de Natália (uma mulher negra, dissociada de consciência sobre a questão racial) seja muito maior do que a forma como a fala de Naiara é encarada, enquanto mulher branca.
Os meios de comunicação produzem enquadramentos relevantes para o debate público, condicionado aos procedimentos comunicacionais e o acesso às plataformas de mídias sociais e outros instrumentos de difusão de conhecimento. Mas enquanto seres e sujeitos que compreendem o racismo enquanto um problema é que nos cabe não apenas participar da discussão, mas ampliar o debate. Já obtivemos conquistas importantes fruto da discussão racial – e cita-se aqui dois exemplos: a Lei de Cotas (que permitiu a diversos grupos, como pessoas negras, o acesso ao ensino superior e a reserva de vagas em concursos públicos) e as Leis 10.639/03 e 11.645/08, que criam mecanismos para o ensino da história, cultura e das relações raciais no Brasil.
Precisamos fazer valer essas políticas públicas. Mas tão importante quanto isso, é preciso denunciar o racismo que ainda mata jovens negros em todo o país, que ainda encerra sonhos e ainda determina quem vive e quem morre pelas mãos do Estado. É preciso, também, que lutemos contra toda e qualquer forma de desinformação – seja ela por meio de notícias falas ou enquadramentos “convenientes” para o desinteresse em temas tão urgentes como o racismo!

REFERÊNCIAS E SUGESTÕES DE LEITURAS:

ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? São Paulo: Letramento, 2018.

MOURA, Clóvis. Rebeliões da Senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas. 5ª ed. São Paulo: Editora Anita Garibaldi, 2014.

WEBER, Maria Helena. Balizas do campo comunicação e política. Tríade: Sorocaba, v. 8, n. 18, p. 6-48, set 2020

Helena Augusta Lisboa de Oliveira
Diretora de Juventude

Recebi um e-mail de uma famosa Sociedade Química estrangeira. No e-mail, havia um convite para um evento online sobre a participação de mulheres na ciência, em tempos de pandemia. Atraída pela temática, corri para me inscrever. Estava com boas expectativas sobre o evento nessa Sociedade de tanto renome. Imaginei que eles trariam oportunidades para mulheres, trariam empatia para o que passamos, falando da competitividade cruel a que somos submetidas desde crianças, trariam propostas de caminhos para uma sociedade mais igualitária, com mais justiça social. Não imaginei que eles iriam me surpreender tanto.
Para começar, o único homem da seção era quem estava liderando as falas. Até aí tudo bem, nenhuma novidade, mas, puxa, num evento sobre empoderamento de mulheres! Mas “beleza”…
No decorrer do evento, mulheres falavam sobre como alcançar posições elevadas. As “dicas” eram sobre como se comportar, como se vestir, qual maquiagem usar, como falar. Foi me dando uma angústia… Até que as dicas começaram a chegar no sentido de “acolher” e “apoiar” as concorrentes à uma vaga. De uma maneira nitidamente falsa, mas que deixasse transparecer que você é uma pessoa de “bom coração”.
Nada foi falado sobre as estruturas machistas, racistas e preconceituosas a que somos submetidas, e que alimentamos com esse tipo de pensamento, que coaduna com a competição e inequidade social. Nesse ponto, constatei que realmente precisava intervir, por uma questão ética ao ver o quão limitado era aquele debate, de um assunto de dimensão imensamente maior do que aquilo que era trazido. A participação do público era exclusivamente por um chat, com moderação. As perguntas no chat eram ingênuas, dentro daquela mentalidade de que, se a mulher quisesse um espaço, ela que rale, pois a sociedade e aquele grupo, não iriam defendê-la. Eu estava chocada.
Pois bem, escrevi meu comentário checando se eles não iriam questionar as crenças preconceituosas racistas e xenofóbicas, sobre a estrutura que coloca as mulheres nessa condição, de terem que fazer um trabalho multiplicado, se quiserem alcançar iguais posições de homens. De que é papel exclusivo da mulher exercer atividades subservientes. Crenças essas que se reflete também no mundo da ciência, pois o nosso caminho para sermos cientistas sofre impactos dessa cultura doente em todo o seu percurso. Queria verificar se eles não achavam que essa cultura deveria ser atualizada.
Enfim, a moderação não aceitou meu comentário. Não aceitou mais nada que eu falasse. E constatei o tipo de defesa que eles estavam fazendo. Não era à mulher. O interesse era a manutenção dessa estrutura. Provavelmente porque quem se beneficia dela tem desconhecimento genuíno dos seus profundos danos humanos.
Aliviada, porém, percebo um movimento no ar inverso a esse, aqui no Brasil. Aqui há espaço para as sementes florescerem, ainda que tenha muita gente pisando sobre elas, por não compreender. Há mais espaço de fala, ainda que insuficiente, mas em crescimento e em luta constante. Há o surgimento de políticas de equidade, humildes e ineficientes, ainda. Tudo graças a muito sangue, muitas lutas, e muitas vidas. Aí a importância de permanecermos mobilizados e investirmos numa educação humanizada, para construção de um cultura de paz e humanitária, para não perdermos os direitos alcançados, e sermos exemplos a esse outro país que, apesar do destaque na ciência, perde tanto no quesito humanidade.
A temática dessa revista confirma que estamos indo na direção certa, da busca de uma equidade mais genuína. Com muito ânimo e esperança, celebro esse movimento. Sei que ainda teremos batalhas, mas sei que venceremos, pois o que nos move não é o medo, mas o suor e o amor pela humanidade.

 

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Marcos Johari Provezani Silva
Diretor de Relações Institucionais da ANPG

Helena Augusta Lisboa de Oliveira
Diretora de Juventude da ANPG

A ciência tem papel fundamental para a soberania e desenvolvimento do país, e deve ser orientada para atender aos interesses do povo, promovendo a dignidade das pessoas e a paz. Assim orientadas, a ciência, a tecnologia e a inovação permitem que sejam encontradas soluções para os diversos problemas que assolam o país, de forma sistemática, fundamentada pela metodologia científica.
Sem a orientação para o bem social, a ciência, a tecnologia e a inovação cometem atrocidades e injustiças. São diversos os casos em que elas são utilizadas para beneficiar pequenos grupos empresariais (pois elas custam muito dinheiro) à custa de prejuízos dos recursos naturais e de populações.
Cada experiência desastrosa dessas reforça a importância do investimento público nessas áreas visando benefício do povo, com apreço ao bem comum, com a valorização da vida e do equilíbrio da humanidade com o planeta. Diante de situações de calamidade como a pandemia, torna-se evidente a importância da ciência e das relações sociais para benefício do povo.
Longe de negar o papel da sabedoria e da cultura popular, a ciência pode auxiliar a compreender e sistematizar conhecimentos humanos que foram adquiridos por meio de diferentes metodologias. Ao contrário dos dogmas que são absolutos, irredutíveis e inquestionáveis, a metodologia científica prevê, na sua essência, a investigação do contraditório, o debate, o questionamento das ideias, a fim de se obter resultados mais robustos e sustentáveis possíveis. Para que isso ocorra é essencial que as pessoas que irão interagir para construir um desenvolvimento científico juntas, de forma saudável, saibam se comunicar de maneira assertiva, avaliadora e respeitosa, prezando pela união de todos pelo cuidado à vida.
Porém, em tempo de fake News, diversas notícias falsas são produzidas com o intuito de convencer leitores a aderirem a determinados posicionamentos, conforme o interesse de quem as produz, que muitas vezes não beneficiam diretamente o povo. Essas notícias se espalham rapidamente e entram no imaginário popular, que as interpreta como verdades inquestionáveis. Seja que o Corona não passa de uma gripezinha, que se faz uma doutrinação nas universidades e escolas ou que a vacina transforma pessoas em jacaré.
O tipo de educação que não estimula a autonomia do pensar, em outras palavras, que perpetua o comportamento do povo como passivo, o eximindo de sua responsabilidade de analisar informações, torna esse povo propício a ser uma grande massa de manobra, que recebe todas as informações sem as questionar.
Nesse contexto, constata-se a importância de se estimular o pensamento crítico na sociedade, que questione, pondere e avalie hipóteses antes de aceita-las como a Verdade.
A divulgação científica é uma forma de se divulgar os conhecimentos produzidos sem o grande rebuscamento de linguagem que é utilizado em contextos adequados, entre pessoas que pesquisam temáticas específicas. Ela é inclusiva, pois facilita o acesso e entendimento dos conceitos para pessoas leigas no assunto. Essa aproximação dos resultados obtidos pela metodologia científica e do próprio método com o povo, estimula uma cultura crítica e o empoderamento do povo, tendo papel social importante para a consolidação e ampliação do saber científico.
Nesse contexto, a Associação Nacional de Pós Graduandos reativa a sua revista e abre chamada para as pesquisadoras do país submeterem artigos de divulgação científica, compartilhando os resultados de suas pesquisas, em linguagem acessível às pessoas sem prévio conhecimento da área. O tema dessa edição é “Mulheres e mães pesquisadoras em tempos de COVID19”. A revista aceita artigos de todas áreas de conhecimento. Para mais informações, acesse www.anpg.org.br

 

 

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O 8 de março é uma data que marca a história de luta das mulheres por todo o mundo. Há 111
anos esta data é uma referência para as mulheres em movimento, mulheres que ousam fazer ecoar
suas vozes, resistindo para garantir condições dignas de trabalho, de sustentabilidade da vida e
denunciar violências. É fundamental resgatar nossas origens, para lembrar que somos parte de um
projeto em movimento para mudar a vida das mulheres.
O Brasil hoje enfrenta uma série de crises: humanitária, social, econômica, sanitária e
política. Na nossa diversidade, compreendemos que para construirmos uma pauta unificada e sermos
em defesa da vida da população mais pobre, é preciso exigir o Fora Bolsonaro! Esse governo
genocida e negacionista não nos apresenta soluções válidas e eficientes para atravessarmos todas as
crises. A pandemia mundial do Coronavírus já matou mais de 260 mil brasileiros1, e também causou
um agravamento das desigualdades sociais. Nós mulheres temos a cada dia que passa nos reinventado
nesta sociedade patriarcal, machista, racista e misógina para garantir a nossa sobrevivência.
O Ministério da Educação foi incapaz de garantir a realização do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) com segurança, a marca do enem deste ano foi abstenção. Dados revelam que houve
55,3% de abstenções2 no exame presencial e 71,3%3 no formato digital. Trazendo o debate da
exclusão digital e da sobrecarga de trabalho doméstico que afeta principalmente as meninas, que
muitas vezes largam a escola para ajudar nas tarefas de cuidado em casa. O governo não debateu
como alcançar essa juventude que não conseguiu acompanhar de forma remota as atividades escolares
e abandonaram esse espaço que é tão importante para a transformação das vidas.
Precisamos pensar no futuro da juventude brasileira, garantir internet, material e merenda
escolar é necessário para que os estudantes não sofram ainda mais com a desigualdade educacional e a
desnutrição, Bolsonaro precisa sancionar urgente a PEC da Conectividade. Nós mulheres estudantes
exigimos Vacina para todas e todos, Auxílio Emergencial já e o fim de todas as formas de violência.
Organizadas nas escolas e universidades de norte a sul do Brasil, pautadas na solidariedade
construímos alternativas a esse modelo. Todas as conquistas só foram alcançadas com muita
organização. Somos mulheres de todos os povos, de diferentes culturas e realidades, e
denunciamos a violência e a opressão que as crises deste modelo capitalista,
heteropatriarcal, racista e destruidor da natureza provoca em nossas vidas.

 

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  1. https://news.google.com/covid19/map?hl=pt-BR mid=%2Fm%2F015fr&gl=BR&ceid=BR%3Apt-419
  2. https://g1.globo.com/educacao/enem/2020/noticia/2021/01/24/abstencao-do-enem-2020-e-de-553percent-24-milhoes-foram-aos-locais-de-prova-neste-domingo.ghtml
  3. https://g1.globo.com/educacao/enem/2020/noticia/2021/02/07/enem-digital-teve-abstencao-de-713percent.ghtml

O dia 8 de março faz parte dos nossos processos coletivos de resistência que enfrentam a
lógica neoliberal de destruição do Estado, privatização, competitividade e individualismo. A urgência
em defender a vida trouxe à tona o que há muito tempo exigimos: a ruptura com este
sistema é urgente! É nos movimentando que mudamos as estruturas, então vem conhecer e construir
essa resistência.

Pâmela Layla – Diretora de mulheres da UBES
Elaine Monteiro – Diretora de mulheres da UNE
Thais Florencio – Diretora de mulheres da ANPG

 

 

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