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A II Reunião de Diretoria da ANPG, iniciada nesta sexta-feira (31), debateu a função social da pós-graduação através do seminário “O lugar do pós-graduando no mundo da formação e do trabalho”, com os convidados Laerte Ferreira, diretor de Programas e Bolsas da CAPES, e Flávia Calé, ex-presidente da ANPG e representante da entidade no Conselho Técnico e Científico da CAPES.

Na abertura da reunião, Vinicius Soares falou sobre o processo de construção da pós-graduação brasileira, que, naquele período, significava uma espécie de verticalização do ensino superior. “A regulamentação buscou uma forma de criar um ambiente elitizado na universidade com três objetivos principais: formar professores, ampliar a pesquisa e formar trabalhadores tecnicamente preparados. Por isso, devemos discutir a função social da pós-graduação numa conjuntura de reconstrução nacional, para que o povo brasileiro seja o beneficiário da produção científica”, disse.

O professor Laerte Ferreira exaltou a complexidade e a resiliência do sistema nacional de educação e de ciência e o corpo de funcionários, que mantiveram as agências e universidades mesmo sob os ataques permanentes do governo anterior. “Capes e CNPq são verdadeiras agências de Estado. Os servidores da Capes e do CNPq são um patrimônio. Esse corpo funcional fez com continuássemos funcionando mesmo que estivéssemos sofrendo ataques sistemáticos à educação, à ciência, às universidades e ao conhecimento”, disse.

Afirmando a obrigação e o compromisso da Capes em apoiar os jovens pesquisadores, Laerte disse que deixar de fazê-lo significaria “jogar fora o tão falado bônus demográfico” que o país viveu. “Se não fizermos isso, além de fuga de cérebros, teremos desalento de cérebros, porque quantos não são os pós-graduandos que estão sendo subtilizados?”, questionou.

Se temos pós-graduação no país é porque o Estado contribuiu para isso. Não cabe ficar apenas em pautas corporativistas. Precisamos debater todos os problemas que nossa nação tem enfrentado, porque esse é o papel dos pós-graduandos na reconstrução do país e na conquista da verdadeira independência.

Vice-presidenta da ANPG, Ana Priscila disse que certos avanços obtidos no ciclo progressista resistem e não retrocederão mesmo diante da destruição promovida pelo negacionismo. Tínhamos a maior defasagem da história e, por isso, tivemos o maior aumento da história. “Quando falamos em reconstrução é que algo que estava sendo construído foi interrompido e vai ser retomado. Mas o que estava sendo construído não retrocede mais. Tanto que em meio ao caos de Bolsonaro, em meio a um golpe, nós estamos aqui. A ampliação das universidades, da pós-graduação, não volta mais atrás”.

Robério Rodrigues, professor da UESB e presidente da Foprop, falou que é preciso lutar pela recomposição do orçamento da Capes mirando seu melhor período, quando teve mais de 8 bilhões de verba. “Saímos de um período obscurantista em que professor, estudante, universidade, instituto não eram recebidos, não era percebidos. Hoje essa realidade mudou. Mas há um sistema mais de 4500 cursos de pós-graduação que precisa se sustentar. Precisamos recuperar o orçamento da Capes, pois há uma defasagem de 3 bi do melhor orçamento histórico da Capes”.

O dirigente da Foprop se comprometeu a apoiar a luta da ANPG por direitos previdenciários aos jovens pesquisadores e a ampliação do aumento do número de bolsas e a recomposição integral dos valores. “Pedi reunião com os ministros da Educação e da Previdência para tratar da inclusão dos pós-graduandos no arcabouço da previdência social brasileira, deixando explícito que a ANPG precisa estar junto. Temos poucos alunos com bolsas, algo entre 35% e 40%. Ainda que o reajuste tenha sido o maior da história, a defasagem era superior a 70%, então ainda há uma perda”, apontou.

Flávia Calé abordou o papel social dos pós-graduandos como o de agentes fundamentais para debater e dar suporte a um projeto de desenvolvimento nacional baseado na ciência e tecnologia. “A discussão de perspectiva para o pós-graduando como trabalhador da ciência precisa necessariamente passar pelo desenvolvimento, porque sem desenvolvimento não há aumento de produtividade, geração de bons empregos e aumento dos salários”, disse.

Nesse sentido, segundo ela, existe a necessidade de travar uma disputa política acerca dos rumos de política econômica e da arquitetura do Estado, que padece dos entraves colocados pelo neoliberalismo para constranger os investimentos públicos. “Precisamos defender uma séria política industrial, porque sem ela não tem desenvolvimento científico. E por isso precisamos falar sobre o arcabouço fiscal. Se inibirmos a capacidade de investimento público, outros investimentos não vão acontecer”.

Ao finalizar sua participação, Flávia defendeu que o centro da luta por direitos dos pós-graduandos precisa ser o reconhecimento profissional do pesquisador, porque através dele virão os direitos trabalhistas, previdenciários, a valorização permanente das bolsas e outras conquistas.

Ao encerrar a mesa, Vinicius falou da importância de a ANPG intervir em todos os debates políticos do país e não apenas nas pautas da educação e da ciência. “Se temos pós-graduação no país é porque o Estado contribuiu para isso. Não nos cabe ficar apenas em pautas corporativistas. Precisamos debater todos os problemas que nossa nação tem enfrentado, porque esse é o papel dos pós-graduandos na reconstrução do país e na conquista da verdadeira independência”, finalizou.

 

Na tarde desta sexta-feira (31), em contraponto ao 59º aniversário do golpe militar, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) realizaram a palestra “Democratic Knowledge and Democratic Ignorance” (Conhecimento Democrático e Ignorância democrática), com Peter Burke, professor emérito da universidade de Cambridge.

O evento, que abriu a II Reunião da Diretoria da ANPG, aconteceu no salão nobre do Centro Universitário Maria Antônia (USP), antigo prédio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, fechado pelo regime militar. O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, afirmou que a decisão de realizar a palestra nessa data foi justamente para “exorcizar” o fantasma da ditadura e disse que a entidade irá propor uma data anual para que a população manifeste repúdio ao regime autoritário.

Vinicius Soares, presidente da ANPG, registrou o momento político vivido pelo Brasil, que, no último dia 8/1 passou por uma tentativa de golpe. “Essa atividade acontece em um local histórico para a luta em defesa da democracia. Conhecimento é poder e pode ser usado inclusive para destruir a democracia. A ANPG é filha da abertura democrática do nosso país, por isso, é simbólico e fundamental participar desse momento”.

O conferencista Peter Burke fez um panorama sobre características comuns a regimes antidemocráticos, como restrições à educação do povo e a falta de transparência nos temas de interesse público. “Podemos opor a ansiedade dos ditadores, que temem a disseminação do conhecimento, e a ansiedade dos democratas, que temem a ignorância. A democracia exige transparência, a ditadura precisa da opacidade”.

Citando exemplos históricos de como regimes podem usar a ignorância e restrição de informações para se manter no poder, falou do exemplo das sufragistas britânicas, que diziam que os machistas não possibilitavam a educação escolar das mulheres para impedir que conquistassem o direito ao voto. Mencionou também o acobertamento do acidente nuclear em Chernobil, na década de 1980, como exemplo da falta de transparência na antiga União Soviética.

Burke abordou o tema das fake news, fenômeno que tem desafiado as democracias mundo afora. Para o professor, as lacunas de informação acabam sendo preenchidas pelo imaginário coletivo através de teorias conspiratórias ou notícias falsas, problema que sempre existiu, mas que ganhou outra escala com a internet. “As fake news se tornaram um problema muito maior na era digital. As novas tecnologias permitem a falsificação de imagens, transmissões e textos”, afirmou.

Segundo Burke, essa nova dinâmica de disseminação instantânea da desinformação exige uma educação midiática cada vez mais precoce para conter os danos. “As atitudes críticas devem ser inculcadas muito mais cedo e a um público muito maior do que apenas os aspirantes a jornalistas. Deve começar pela escola, no ensino fundamental. Até crianças pequenas devem ser levadas a se perguntar, quando recebem uma notícia de alguém que não conhecem: de quem veio a mensagem e quem ganha com ela?”

Defendeu que esse processo de conscientização contra as notícias falsas deve responder a cinco perguntas-chave: quem enviou a mensagem, quais técnicas criativas são usadas para atrair a atenção, como as diferentes pessoas podem entender a mensagem, quais valores e pontos de vista são demonstrados ou omitidos na mensagem e quem ganhou algo com ela.

 

Há 55 anos, a violência politica da ditadura militar vitimava o estudante Edson Luiz, assassinado pelos tiranos por organizar a luta dos estudantes por melhores condições em sua escola. Foi um de muitos estudantes que pagaram com a vida e viraram mártires da defesa de nossa democracia.

Hoje, o país acompanhou estarrecido o ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, que resultou na morte da professora Elisabeth Tenreiro e em outros feridos. O promotor do atentado foi um aluno de apenas 13 anos, também ele produto de uma sociedade cada vez mais adoecida, individualista, preconceituosa, excludente e sem sentido.

Até quando nos calaremos diante de tanta violência e discurso de ódio? Até quando assistiremos o abandono e a insegurança como marcas da Educação pública no Brasil? Não é aceitável esse estado de coisas!

É preciso ressignificar o ensino público, valorizar os professores, assimilar que a saúde mental é um dos mais graves problemas que afligem crianças e jovens nos tempos atuais e dar o devido cuidado a essa questão desde cedo.

Ao mesmo tempo, a escola deve se preparar para debater os desafios da sociedade digital com os estudantes. Promover a educação midiática para que adolescentes e jovens não sejam presas fáceis da desinformação e do diacurao de ódio que contaminam as redes sociais, impulsionadas por algoritmos que alavancam o extremismo.

Ontem, hoje e sempre devemos festejar a vida e jamais naturalizar a morte. Chega de violência! A Educação pede paz!

Entre os dias 22 e 23 de março, na Universidade de Córdoba, na Argentina, a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) compôs a delegação brasileira que participou da reunião preparatória para a Conferência Regional de Educação Superior da América Latina (CRES + 5), evento promovido pela UNESCO (ONU).

A ANPG foi representada por Vinícius Soares, presidente da entidade, e pela diretora de Relações Internacionais, Amanda Harumi, que também é Secretária-Executiva da OCLAE para o Cone-Sul.

Durante os debates, os pós-graduandos defenderam a concepção de uma educação pública como direito universal e dever dos estados nacionais, repelindo as visões neoliberais que de mercantilização do ensino. “Os estudantes são o ponto central do debate e não consumidores ou estudantes que estão na universidade. Eles são o fator principal da educação, porque eles serão os responsáveis pelas transformações da sociedade”, enfatizou Amanda.

A delegação brasileira fez gestões para que a Conferência Regional do próximo ano aconteça no Brasil. “Isso seria muito importante devido a importância da educação para a reconstrução nacional que o país precisa e também por sua centralidade para a união dos povos latino-americanos”, apontou Vinícius.

Na sexta-feira, 24, quando se completam 40 anos da redemocratização da Argentina, os dirigentes estudantis brasileiros foram à Buenos Aires para participar de uma grande manifestação em memória dos mais de 30 mil argentinos mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura.

As mulheres sempre demonstraram a sua potência revolucionária em estar à frente da luta na garantia de seus direitos mínimos para o bem viver e para a participação social. Não se ausentaram de vários momentos difíceis da nossa história, mesmo quando os ataques aos seus corpos e vidas foram cada vez mais incentivados durante os últimos 06 anos. Fomos acometidas e acometidos pela pandemia da Covid-19 que ceifou a vida de milhares de brasileiras e brasileiros. A ciência e tecnologia foram sucateadas, o negacionismo virou pauta defendida nacionalmente e as pesquisadoras e pesquisadores deste país foram silenciadas/os.
As mulheres foram as principais afetadas com a redução do estado e do serviço público neste período pandêmico. A sobrecarga do SUS e o medo de ir ao hospital e contrair o vírus redobrou a tarefa de cuidado com os adoecidos, que tradicionalmente recai sobre as mulheres no interior dos lares. Da mesma forma, foram elas as responsabilizadas pelo cuidado e educação dos pequenos quando houve o fechamento das escolas. A responsabilidade pelo trabalho de cuidados nos vitimizou de diversas maneiras: jamais esqueceremos de Rosana Urbano, primeira vítima fatal da covid no país, uma empregada doméstica que foi obrigada a trabalhar mesmo com seus patrões infectados.
Segundo o Ministério do Trabalho, 95% das pessoas que perderam o emprego durante a pandemia eram mulheres. Com o recrudescimento da fome, foram as mulheres chefes de família as principais vítimas, foram também mulheres organizadas nos movimentos sociais as grandes responsáveis pelas ações de solidariedade de distribuição de alimentos e outros itens essenciais. As mulheres eram e são maioria de usuárias do sistema de saúde. Além disso, os índices de violência doméstica aumentaram exponencialmente neste período.
Para nós, mulheres cientistas, o desafio também foi maior. O isolamento social, que nos colocou por um longo momento dentro de casa, agudizou a sobrecarga do trabalho doméstico, fazendo com que a produção das mulheres caísse, enquanto a dos homens aumentou em meio à pandemia. Contudo, sempre estivemos em movimento para a quebra do padrão hegemônico da produção do conhecimento, partindo de outras vivências e narrativas que são essenciais para o nosso avanço enquanto sociedade.
Neste ano, no dia 8 de março, Dia Internacional – de Luta – das Mulheres, teremos a possibilidade de estar novamente nas ruas – ação importante no combate ao capitalismo neoliberal que coopta as nossas pautas e tenta manipular a narrativa sobre este dia. Nós, mulheres pós-graduandas, precisamos estar mobilizadas para ocupar as ruas com as pautas que são caras e urgentes para nós, demonstrando a potência e resistência da nossa luta.
Para começar o nosso projeto de radicalizar a esperança, é de suma importância destacar o papel primordial das mulheres no combate à pandemia, como a valorização da atuação da cientista Jaqueline Góes, mulher negra, biomédica e doutora, que sequenciou o coronavírus em apenas 48 horas após o primeiro caso de COVID-19 ser confirmado no Brasil, e termos políticas públicas para aumentar a presença de mulheres e meninas na Ciência, enfrentando as estruturas do capitalismo, do colonialismo, do heteropatriarcado, e do racismo.
É preciso garantir a nossa presença dentro dos espaços da Universidade e Institutos de Pesquisa, com a aplicação de políticas públicas e ações afirmativas de forma universal nos programas de pós-graduação. Além disso, garantir a permanência das pós-graduandas, com políticas de auxílios, licença-maternidade, creche, extensão de prazo e de bolsa para mulheres mães de crianças de até 06 anos, e outras estruturas que são essenciais para que possamos construir um ambiente mais inclusivo e democrático.
Por isto, convocamos todas as pós-graduandas a se somarem às ruas nos atos que aconteceram neste 8 de março pelo país. As pautas das mulheres trabalhadoras, em defesa do bem viver, da democracia e por uma vida sem violência são também nossas pautas! Convidamos também as pós-graduandas a compartilharem conosco suas pesquisas, a fim de valorizar o conhecimento produzido sob nossos olhares e experiências.
Nenhum passo atrás! Seguiremos semeando saberes pela reconstrução de um Brasil de esperança, soberano, justo, popular e democrático!

 

O dia 16 de fevereiro de 2023 será lembrado pelo movimento de pós-graduandos como data a celebrar uma conquista histórica: após muita mobilização, o governo federal concedeu o reajuste das bolsas de estudos, colocando fim a uma década de congelamento.

O anúncio do reajuste nas bolsas da Capes e do CNPq foi anunciado pelo presidente Lula, em cerimônia realizada no Palácio do Planalto, na companhia dos ministros Camilo Santana (Educação) e Luciana Santos (MCTI).

O percentual de correção foi de 40% para as bolsas de mestrado e doutorado e de 25% paras as de pós-doutorado. Dessa forma, os valores passam de R$ 1.500, R$ 2.200 e R$ 4.100 para R$ 2.100, R$ 3.100 e R$ 5.200, respectivamente.

Além de pós-graduandos, foram contemplados com reposições outras modalidades de bolsistas, como os de programas de iniciação científica, que passa de R$ 100 para R$ 300, e a bolsa permanência, que atualmente é de R$ 400 a R$ 900 e terá um acréscimo variável de 55% a 75%..

Durante o evento, o presidente Lula apontou que recuperar as áreas de Educação e Ciência é uma das prioridades de seu governo e fez duras críticas à gestão Bolsonaro. “Nunca pensei que um país pudesse retroceder em todas as áreas, da economia a educação, do trabalho ao investimento, esse país sofreu um retrocesso, que nunca antes na história do Brasil aconteceu isso”, afirmou.

Vinícius Soares, presidente da ANPG, comemorou a recuperação parcial no valor dos benefícios como resultado de anos de mobilização de pesquisadores. “Esse primeiro e importante passo foi possível porque temos lutado há uma década, especialmente resistindo aos cortes e ataques do governo negacionista de Bolsonaro. Agora é momento de avançar”, afirmou.

Na avaliação do dirigente estudantil, as bolsas se tornaram o ponto mais sensível e visível de um problema maior, que é ausência de uma carreira que atraia os jovens a serem cientistas. “É preciso uma política permanente de reajuste das bolsas, como o próprio presidente Lula criou para o salário-mínimo, para não ficarmos à mercê de governos. Precisamos valorizar a carreira científica com direitos trabalhistas e previdenciários para os jovens pesquisadores. Temos muita luta ainda. Isso foi só o começo”, frisou.

 

ANPG: linha de frente na luta pelo #ReajusteJa

Só longo dos últimos anos, a Associação Nacional de Pós-Graduandos teve a recomposição dos valores das bolsas como sua principal bandeira.

A entidade lançou a Campanha Nacional Reajuste Já! e passou a coordenar, junto a centenas de APGs, uma intensa agenda de mobilizações para pressionar o governo federal e governos estaduais pela recomposição.

Uma das principais ações foi a coleta de um abaixo-assinado com mais de 120mil assinaturas em prol do aumento imediato. Além disso, diversas mobilizações nas redes colocaram o reajuste entre os assuntos mais comentados da internet.

Na última semana, uma blitz realizada pelas lideranças da ANPG e de APGs foi aí Congresso Nacional e a órgãos do governo para pressionar e buscar apoio para o reajuste, que, enfim, foi anunciado.

 

foto: @murilofdeabreu

São Paulo, 06 de fevereiro de 2023

A Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG) e as Associações de Pós-Graduandos (APGs) vêm convocar todos os movimentos sociais, em especial o Movimento Nacional de Pós-Graduandos, a se somarem à Campanha Nacional pelo #ReajusteJá. Não é justo que nós, que produzimos 90% da ciência nacional, ainda estejamos sofrendo com a desvalorização de 10 anos das bolsas de estudos.
O poder de compra das bolsas de estudos foi reduzido a 25% do que era em 2013. As bolsas garantem a sobrevivência de milhares de pós-graduandos e, por ser única fonte de renda, têm colocado muitos em condições de vulnerabilidade social. Além disso, essa condição de precarização afeta a produção científica e a retomada do desenvolvimento nacional, pois o cenário que se coloca é de paralisação das pesquisas, abandono da pós-graduação e evasão carreira científica no país.
Portanto, é imperativo que o governo federal anuncie imediatamente o reajuste das bolsas, com um plano de recomposição dos valores em defasagem histórica, aumento do número de bolsas e um grupo de trabalho, com representação da ANPG, para elaborar um mecanismo de reajuste anual de seus valores.
Diante dessa emergência, chegou a hora de intensificarmos nossas mobilizações. Por isso, convocamos uma blitz em Brasília entre os dias 07 e 10 de fevereiro, com ações de rede para o dia 08 de fevereiro.
Os últimos anos foram tempos de muita luta e resistência. Não nos furtamos do embate em defesa da democracia, da educação, ciência e valorização dos pós-graduandos, seja nas redes, seja nas ruas. Cada passo dado até aqui foi importante para acumularmos forças na luta política pelo tão esperado reajuste das bolsas e garantir algumas conquistas significativas.
A primeira delas e mais importante foi a derrota de Jair Bolsonaro e do projeto negacionista de governo nas urnas. Sempre apontamos que, em um possível segundo mandato, não haveria possibilidade de reajuste das bolsas, afinal, seu governo perseguiu cientistas, atacou universidades e asfixiou a ciência nacional de modo a criar fenômenos sociais como a fuga de cérebros e o aprofundamento da evasão da carreira cientifica no país. Por isso, o 28° Congresso Nacional de Pós-Graduandos acertou ao associar a campanha do reajuste à luta pela derrota do inimigo n° 1 do povo brasileiro.
A segunda conquista foi ter colocado o #ReajusteJá como uma das principais pautas da educação para o novo governo federal.
A extensa formulação política sobre as bolsas, realizada pelas últimas e atual gestão da ANPG, abaixo-assinado com mais de 120 mil assinaturas, inúmeras reuniões, mobilizações de rua e de redes: foram intensas mobilizações e articulações política para convencer a todos do Grupo de Trabalho de transição, parlamentares, sociedade acadêmica, científica, da necessidade imediata do reajuste.
Essas mobilizações garantiram, inclusive, o pagamento das bolsas no mês de dezembro, a partir do movimento #PAGUEMINHABOLSA, a aprovação da Emenda Constitucional que garantiu a retirada do bolsa família do teto de gastos para abrir espaço no orçamento, a fim de complementar o orçamento da educação e da ciência, e uma intervenção no projeto de lei do orçamento enviado ao Congresso Nacional por Jair Bolsonaro, que impunha um déficit de recursos, ameaçando o pagamento de bolsas para 2023 – risco identificado e denunciado pela ANPG.
A terceira conquista da nossa campanha nacional pelo Reajuste Já foi o reajuste das bolsas de estudos em 12 Fundações de Amparo nos Estados. FAPESP, FAPERJ, FAPEMIG, FAPEAM, FACEPE, FAPEAL, FAPEMA, FAPERGS, FAPES, FAPESB foram algumas das que reajustaram a partir da pressão da ANPG e demais Associações de Pós-Graduandos.
Estamos diante de uma conquista histórica, que tem o DNA, suor e luta de diversas gerações de pós-graduandos, continuados pela atuação da atual geração do movimento nacional de pós-graduandos. Para isso, é importante continuarmos em unidade e coesão na ação política, o que requer estratégias e táticas a partir da visão de totalidade para alcançar mais rápido a vitória. Apenas assim garantiremos o fortalecimento da nossa campanha, permitindo que, nós, pós-graduandos, venhamos a dar o primeiro passo para pavimentar um caminho de valorização que inclua direitos trabalhistas e previdenciários, assistência estudantil, cotas nas pós-graduação, entre outros direitos e políticas públicas de acesso e permanência.
Reconhecemos e valorizamos o diálogo aberto com o advento da nova gestão do governo federal, em especial com a Ministra da Ciência e Tecnologia e o Ministro da Educação, que já sinalizaram o reajuste das bolsas. Entretanto, a ausência de informações concretas sobre quando e quanto as bolsas serão reajustadas nos traz preocupação sobre o cumprimento das promessas realizadas.
Por isso, nossa luta precisa se intensificar. Convocamos todos os pós-graduandos e as Associações de Pós-Graduandos a cumprirem seu papel decisivo de mobilização para as próximas agendas de luta e de cobrança por respostas firmes às nossas proposições. Nessa semana, convocamos a diretoria da ANPG e APGs para realização de uma blitz em Brasília pelo #ReajusteJá das bolsas para pressionar o Governo Federal. Convocamos ainda a continuidade das ações nas redes sociais com comentaço e tuitaço nos perfis do Governo Federal, nesta quarta-feira (08/02), a partir das 10hs.
Convocamos as APGs a realizarem plenárias presenciais ou virtuais para construir mobilizações pelo #ReajusteJá com a presença dos diretores da ANPG. A luta pelo reajuste é justa e não sairemos do combate! O reajuste é fundamental para valorizar o pesquisador brasileiro e reconstruirmos o Brasil. Vamos juntos mobilizar e garantir essa conquista que será a vitória da nossa geração!

Associação Nacional de Pós-Graduandos

Assinam esta nota as seguintes Associações de Pós-Graduandos e Comissões Pro-APG:

Associação de Pós-Graduandos CEFET MG
Associação de Pós-Graduandos Fiocruz Amazônia
Associação de Pós-Graduandos Fiocruz PE
Associação de Pós-Graduandos Fiocruz RJ
Associação de Pós-Graduandos INPA
Associação de Pós-Graduandos PUC RIO
Associação de Pós-Graduandos PUC SP
Associação de Pós-Graduandos UERN
Associação de Pós-Graduandos UESPI
Associação de Pós-Graduandos UFAM
Associação de Pós-Graduandos UFBA
Associação de Pós-Graduandos UFC
Associação de Pós-Graduandos UFES
Associação de Pós-Graduandos UFF
Associação de Pós-Graduandos UFGD
Associação de Pós-Graduandos UFJF
Associação de Pós-Graduandos UFLA
Associação de Pós-Graduandos UFMG
Associação de Pós-Graduandos UFOP
Associação de Pós-Graduandos UFPA
Associação de Pós-Graduandos UFPB
Associação de Pós-Graduandos UFPE
Associação de Pós-Graduandos UFPI
Associação de Pós-Graduandos UFPR
Associação de Pós-Graduandos UFRGS
Associação de Pós-Graduandos UFRJ
Associação de Pós-Graduandos UFSCAR
Associação de Pós-Graduandos UFU
Associação de Pós-Graduandos UFV
Associação de Pós-Graduandos UFVJM
Associação de Pós-Graduandos UNESP Botucatu
Associação de Pós-Graduandos UNESP RIO CLARO
Associação de Pós-Graduandos UNICAMP
Associação de Pós-Graduandos UNICAMP IMECC
Associação de Pós-Graduandos UNICAMP QUÍMICA
Associação de Pós-Graduandos UNIMONTES
Associação de Pós-Graduandos USP CAPITAL
Associação de Pós-Graduandos USP CENA
Associação de Pós-Graduandos USP ESALQ
Associação de Pós-Graduandos USP HRAC/Bauru
Associação de Pós-Graduandos USP ICB
Associação de Pós-Graduandos USP SÃO CARLOS
Associação de Pós-Graduandos USP PROLAM
Associação de Pós-Graduandos USP RP
Associação de Pós-Graduandos UTFPR
Comissão Pró-APG UFABC
Comissão Pró-APG UFPB
Comissão Pró-APG UFOP
Comissão Pró-APG UNESP Botucatu

Neste dia 04/02, a 13ª Bienal dos Estudantes voltou seus olhares para os temas relacionados à comunicação, educação e meio ambiente, no contexto do projeto de reconstrução do país.

No período da manhã, ocorreu a mesa “Os rios e as redes que conectam o povo: a comunicação como fundamento da consolidação das novas formas de resistência”, que contou com exposições do deputado André Janones, do historiador Jones Manoel, da jornalista Monyse Ravena, Renan Cadais, da secretaria de Direitos Humanos do Espírito Santo, e Renata Mielli, jornalista e representante do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.

Os palestrantes concordaram que enfrentar a indústria de distribuição de fakenews nas redes sociais é uma questão central para a manutenção das democracias, pois a extrema-direita tem usado esse expediente em escala global para dividir e polarizar as sociedades. “A gente precisa discutir um endurecimento das penas para quem ataca a democracia, as instituições, para quem espalha fakenews, e a gente precisa promover uma regulação da discussão acerca da utilização das redes sociais. Não dá para continuar sendo terra de ninguém”, apontou o deputado André Janones.

No debate “Educação: o rio que conduz ao novo Brasil”, que teve participação dos deputados Orlando Silva e Prof. Josemar e da secretária de Educação Superior, Denise Pires, o centro da discussão foi a necessidade de resgatar o papel do MEC na formulação de políticas públicas e reverter o desmonte a que foi submetido na gestão Bolsonaro.

Orlando destacou a importância de se combinar unidade e luta nesse novo período, defendendo a democracia e as instituições, mas lutando e pressionando o governo federal para a obtenção conquistas e sua garantia através de leis. “Quando fico observando o tratamento que os bolsistas tiveram no Brasil, o tratamento da política de assistência estudantil que o país teve, me levar a crer que o caminho que nós devemos perseguir é ter na lei o direito dos estudantes. Tem que ter uma política de valorização dos bolsistas que garanta regularmente a correção, o aumento, das bolsas. Para ter lei, não existe esperar pelo governo. Tem que fazer mobilização para conquistar a lei”, afirmou.

Vinicius Soares, presidente da ANPG, destacou que a situação a que estão submetidos os pós-graduandos, após 10 anos sem correção nos valores das bolsas, é tão alarmante que deveria ser também considerada como forma de combate à pobreza. “É imediato que o governo federal possa reajustas as bolsas. Não podemos esperar mais! Isso deveria entrar no pacote de combate à fome, porque essas bolsas sustentam famílias inteiras e milhares de pós-graduandas que são mães-solo nesse país”, alertou, convocando a união de todos os mestrandos e doutorandos na Campanha Nacional pelo Reajuste das Bolsas feita pela entidade.

No turno da tarde, a Bienal recebeu Marina Silva, ministra do Meio Ambiente do governo Lula, que participou do debate “Desses rios nasce um Brasil: perspectivas sustentáveis para o desenvolvimento nacional” junto com a ex-deputada Vivi Reis e outros convidados.

Marina chamou a atenção dos participantes para o atual modelo insustentável de desenvolvimento na atual fase do capitalismo, pois é baseado em consumo desenfreado e incompatível com a manutenção de um planeta saudável. “Eu costumo dizer que a sustentabilidade não é apenas uma maneira de fazer, não é apenas produzir energia limpa e agricultura sustentável ou distribuir melhor as riquezas. A sustentabilidade é também uma maneira de fazer, mas sobretudo uma maneira de ser, um ideal de vida, uma visão de mundo”.

A ministra relacionou o verdadeiro sentimento patriótico é ter respeito com os recursos naturais brasileiros, apontando que soberania nacional e meio ambiente são questões indissociáveis. “Passamos por uma fase em que as pessoas diziam que ser patriota era repetir chavões autoritários e fascistas. Nós estamos dizendo que ser patriota é ter senso de responsabilidade. A soberania da Amazônia não é ameaçada pelos indígenas e nem pela comunidade científica ou pelas ONGs corretas. Ela é ameaçada por quem destrói a floresta, agride os povos indígenas, tira ouro e deixa mercúrio. É uma ameaça à segurança do Brasil achar que pode destruir a maior floresta tropical do mundo”, concluiu.

O ato político deste segundo dia da 13ª Bienal dos Estudantes marcou a “refundação popular” do Ministério da Cultura, que havia sido extinto no governo obscurantista de Bolsonaro. A ministra Margareth Menezes foi recebida em clima de festa e se comprometeu a “refundar, estabilizar e eternizar o Minc”, fazendo da cultura política de Estado.

A presidenta da UNE, Bruna Brelaz, apontou que democracia e cultura estão intimamente ligadas, tanto que o atentado golpista, realizado em 8/1, teve como alvo da fúria dos bolsonaristas as obras e objetos históricos dos prédios dos três poderes. “Eles odeiam o Brasil e tentaram acabar até com obras de arte, mas nós vamos reconstruir o Brasil pelas mãos do povo”, disse.

Margareth Menezes fez um balanço do primeiro mês de gestão e listou uma série de propostas que estão em andamento para serem implementadas pelo ministério. “Vamos iniciar a implantação do novo marco da Cultura e a execução das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc. Também teremos um decreto com nova regulamentação da lei Rouanet, estamos em diálogo com as grandes investidoras da lei Rouanet e empresas incentivadoras para viabilizar a execução de ações culturais em territórios menos favorecidos e teremos agentes culturais nos lugares com mais dificuldades de acesso a esses recursos”, pontuou, entre outras iniciativas previstas.

Por fim, a ministra reafirmou que a refundação do Minc pressupõe abertura e disposição para o diálogo. “Pelos próximos 4 anos, o Minc será um espaço democrático”, garantiu.

“Marielle perguntou, eu também vou perguntar. Quantas mais têm que morrer para essa guerra acabar?” Esse grito, entoado por centenas de estudantes emocionados, finalizou a dilacerante exposição da ministra Anielle Franco, irmã de Marielle, ex-vereadora carioca brutalmente assassinada em 2018.

O episódio aconteceu durante o debate “Os rios que constroem nossa identidade: um Brasil de todos nós”, do qual participaram a própria ministra da Promoção da Igualdade Racial, Renê Silva, jornalista e criador do Voz da Comunidade, no Complexo do Alemão, e Lúcia Stumpf, professora de História da Arte na Universidade de São Paulo.

Lúcia, que foi presidenta da União Nacional dos Estudantes, fez um paralelo entre o tema dessa 13ª Bienal e o trabalhado no evento em 2007, “Um rio chamado Atlântico”, que fazia a metáfora do oceano como se fosse um rio cujas margens fossem de um lado o Brasil e do outro a África.

A professora fez um resgate do imaginário construído através de obras de arte do período colonial para representar o povo brasileiro como branco de matriz europeia, apagando as representações negras e indígenas que são seminais para a formação do Brasil. “A cena inaugural do país, [do quadro] da Proclamação da Independência, mostra um herói branco, espada falicamente erguida, sequestra e apaga a lutados brasileiros que lutaram anos pela Independência”, criticou.

Lúcia defendeu que esse imaginário colonial seja derrubado para que se possa projetar nos livros de História e nas obras de arte a verdadeira matriz do povo brasileiro. “Das cinzas desse imaginário que não nos representa, vai ser feito o adubo do novo que vai nascer”, completou.

Visibilidade às pessoas pretas e periféricas
O jornalista Renê Silva teve grande projeção durante o período eleitoral ao oferecer um boné com a sigla “CPX”, abreviação de Complexo, ao então candidato Lula, quando este visitou o Complexo do Alemão, no Rio. Na ocasião, a rede de ódio bolsonarista viralizou uma fakenews afirmando que o “CPX” seria símbolo de uma facção criminosa.

Lembrando que o bolsonarismo vive de exacerbar medos e preconceitos para dividir a sociedade, Renê apontou a necessidade de dar visibilidade a tantas iniciativas positivas que são realizadas diariamente nas comunidades. “A gente tem que fazer um trabalho para combater esse tipo de marginalização que acontece com as pessoas pretas e periféricas. Temos hoje a oportunidade, através da tecnologia e das redes sociais que estão disponíveis, para potencializar o que existe de trabalho sendo feito nas favelas e periferias do Brasil, da juventude preta e periférica, que tem muita gente fazendo coisas incríveis que não são mostradas”.

Uma história de resistência e superação
Anielle Franco emocionou o público ao relatar sua história de vida e os momentos posteriores ao assassinato de sua irmã, quando ao invés de receber solidariedade, foi demitida de seu trabalho e humilhada por pais de alunos. “Quando eu passava para dar aula, os pais dos meus alunos cuspiam no chão por eu ser irmã da Marielle”, relatou.

A resistência e a superação são marcas da trajetória de Anielle. Menina criada na Favela da Maré, estudou no exterior através de uma bolsa conquistada como atleta, fez três mestrados, é doutoranda e virou ministra de Estado, pois nunca aceitou que seu “lugar” fosse designado pelos outros.

“Eu podia ter desistido quando mataram a Marielle e cheguei para ver minha com 5 tiros na cabeça. Eu podia ter parado quando fui mandada embora da escola. Eu podia ter parado quando fui fazer uma entrevista para ser jornalista em uma emissora e me disseram “você não tem rostinho para ser âncora”, afirmou, estimulando que os jovens jamais desistirem e estudarem sempre, porque o conhecimento jamais será retirado de ninguém.

“A gente está aqui para resistir e ressignificar! A gente está em uma mesa falando de rio. Eu costumo de dizer que favelado e favelada são tipo água, a gente vai se adaptando onde vai chegando. Eu não posso chegar no lugar sem saber de onde eu vim, onde estou e onde quero chegar”, finalizou.