Ainda dá tempo de tirar o ensino médio da UTI, artigo de Isaac Roitman

carteira de estudante

 

Na maioria dos países os sistemas educacionais estão passando por uma revisão. Espera-se que ele prepare os jovens para o trabalho, para a independência econômica, para que possam viver no ambiente familiar e comunitário respeitando a diversidade cultural de uma sociedade em constante transformação.

 

Por Isaac Roitmann*

 

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No Brasil, os governos proclamam que a educação é prioritária. Proclamação demagógica e enganosa. Os índices e pesquisas revelam a baixa qualidade na área.

 

Foquemos o ensino médio. Os jovens nessa fase vivem um dilema: Conquistar vaga na universidade ou lugar no mercado de trabalho? O ensino médio é constituído por uma overdose de disciplinas e tem alta taxa de evasão, talvez por não ser atrativo. Mas o ponto central é a figura do professor.

 

Um relatório recente do Conselho Nacional de Educação alerta para uma ameaça que paira sobre o ensino médio: a possibilidade de um "apagão" de professores, com um deficit de 245 mil profissionais, especialmente das disciplinas de química, física, matemática e biologia.

 

Para complicar o quadro, dados do Censo Escolar mostram que dos 461.542 professores do ensino médio brasileiro apenas 228.625 (49,5%) ministram uma só disciplina.

 

Talvez seja a hora de repensar o ensino médio não com um foco na informação mais sim na sistematização e utilização do conhecimento em um cenário de exercício permanente do pensamento.

 

A articulação entre o ensino médio e a formação técnica certamente deve fazer parte da revisão. Nenhum sucesso será alcançado se não valorizarmos o professor, o que implica em uma formação inicial de qualidade, uma formação continuada, salário digno, valorização da carreira e condições de trabalho.

 

Ainda há tempo, adotando as medidas corretas, de tirar o ensino médio da UTI.

 


*Isaac Roitman
é coordenador do Grupo de Trabalho de Educação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

 

Fonte: Jornal da Ciência

Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo, em 5/9/10