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por Waldir Antonio Bizzo e Fernando Filgueira da Silva
Recentemente, o Ministério da Ciência e Tecnologia inseriu a palavra "Inovação" em sua denominação. O tema tem sido recorrente nas falas de representantes da indústria, da academia e até mesmo da nossa presidente.
No entanto, a distância entre discurso e execução ainda é longa. A indústria brasileira investe pouco em pesquisa, desenvolvimento e inovação, e não contrata pesquisadores para atuarem como tal. A academia tem limitações naturais à execução de inovação tecnológica, pois não são as universidades e os institutos de pesquisa que produzem produtos. Estas instituições produzem conhecimento e formam pesquisadores, ingredientes básicos ao desenvolvimento de produtos.
O governo demora na adoção efetiva de mecanismos que apoiem e incentivem pesquisa, desenvolvimento e inovação. A burocracia imposta ao financiamento e à prestação de contas de projetos de pesquisa é uma trava certeira. A desvalorização dos recursos humanos que atuam na área de pesquisa, desenvolvimento e inovação é outra. Este é um problema crônico de nossa sociedade patrimonialista que sobrevaloriza bens materiais e despreza o capital humano.
O vetor impulsionador da inovação é o pesquisador em ciência e tecnologia, não o clássico inventor das histórias em quadrinhos. É o doutor proveniente dos melhores programas de pós-graduação que, já atuando como profissional, aprendeu e praticou a metodologia científica, executou pesquisa original e defendeu seus resultados perante seus pares. Trata-se de atividade análoga à lapidação de uma pedra preciosa e radicalmente diferente da mineração de pessoas para produzir bens de consumo de baixo valor agregado.
Para que a inovação tome impulso no Brasil, precisamos que os melhores talentos ingressem nos programas de mestrado e doutorado. Seja como candidato a doutor ou como docente. A excelência do material humano é a única base indiscutível para se produzir um pesquisador.
Como convencer jovens talentosos, já formados, a retardar em 4 ou 5 anos sua entrada no mercado "formal" de trabalho, com o valor das bolsas de mestrado e doutorado praticado há anos pelas agências de fomento? O salário inicial médio de um engenheiro recém-formado, egresso das melhores escolas em São Paulo ou Rio de Janeiro, está por volta de R$ 4.500. Quase 4 vezes mais do que a bolsa de mestrado e 2,5 vezes a bolsa de doutorado, que não dão direito a qualquer proteção social e fazem destes alunos uma força de trabalho de "intocáveis" na universidade brasileira.
Países que têm a inovação e o desenvolvimento tecnológico como força motriz de sua economia, como Alemanha e França, atraem os jovens com pagamento de bolsas de pós-graduação de valores competitivos com o salário inicial de engenheiros, químicos e outras profissões tecnológicas.
Os valores das bolsas de pós-graduação indicam claramente quão pouco a sociedade brasileira valoriza o conhecimento e aqueles que o produzem. Se isso não mudar, não há discurso, programa, intenção ou ação que leve o Brasil a fazer parte do grupo de países que têm a inovação como ferramenta transformadora do desenvolvimento econômico e social.
Artigo originalmente publicado na edição de 23 de abril de 2012 do jornal O Globo.