Fotos: Natasha Ramos/ANPG
O simpósio promovido pela Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) e Fundação Maurício Grabois (FMG) durante a 66ª Reunião Anual da SBPC, em Rio Branco (Acre), debateu o tema “Soberania e Desenvolvimento Sustentável na Amazônia Brasileira” sob diferentes pontos de vista.
Participaram do simpósio Luciano Resende Moreira, diretor de temas ecológicos e ambientais da FMG, que coordenou o debate; Aldo Arantes, presidente do Instituto de Pesquisas e Defesa do Meio Ambiente (INMA); Ênio Candotti, diretor do Museu da Amazônia, presidente de honra da SBPC; e Otávio Alves Velho, antropólogo (UFRJ) e ex-vice-presidente da SBPC.
Extrativismo colonialista
Ênio Candotti foi crítico em relação aos megaprojetos de desenvolvimento na Amazônia. Para o cientista, a falta de pesquisa compromete o resultado. Citando mineração e hidrelétricas, Candotti questionou o fato de que estes projetos geram energia e riqueza para uma parte do país, sem que isso, contudo, se reflita em uma significativa melhora no IDH das populações regionais da Amazônia.
“Além da discussão sobre a real necessidade das hidrelétricas, existe uma relação entre poder central e periferia que são típicas de uma relação colonial. A Amazônia é tratada como fonte de matéria-prima para o desenvolvimento do resto do país.”
Defesa e soberania
Aldo Arantes tratou do tema da cobiça internacional sobre a Amazônia e da necessidade de um projeto integrado de desenvolvimento que servisse como um elemento de defesa e permita aos brasileiros se apropriarem da riqueza. Aldo citou a carência em pesquisa como um dos obstáculos a serem vencidos. Outro obstáculo seria o capitalismo regional predatório do agronegócio, a quem, segundo Aldo, não interessaria este desenvolvimento integrado.
Aldo defendeu a retomada do Programa Amazônia Sustentável, do Governo Lula, mas com metas mais claras. Para ele, o novo banco dos BRICS poderia financiar um projeto integrado de desenvolvimento na Amazônia, não apenas no Brasil, mas nos oito países que fazem parte da região.
“A SBPC poderia tomar a frente às negociações com o governo federal para isto”, sugeriu Aldo.
Pensamento peruano sobre a Amazônia
O cientista político e antropólogo Otávio Guilherme Alves Velho, chamou a atenção para o fato de que a esquerda brasileira ainda não formulou uma base de pensamento consistente em que as questões indígena e ambiental estejam contempladas. Segundo o antropólogo, nos países vizinhos da América do Sul, há pensadores de esquerda que já avançaram mais nesta discussão e citou o sociólogo peruano Aníbal Quijano. Quijano é um crítico daquilo que chama de visão eurocêntrica da esquerda latino-americana.
“A existência do índio e da questão ambiental podem ter um caráter revolucionário nas bases do nosso pensamento. É um valor que nos obriga a mexer com a nossa visão e a nossa mentalidade.”
Em sua fala, Otávio ampliou o conceito tradicional de soberania, dizendo que o mesmo aplica-se aos direitos dos povos indígenas e tradicionais, em questões como a soberania alimentar, por exemplo.
O antropólogo chamou ainda atenção para a necessidade de empresas sediadas no Brasil não reproduzirem uma relação imperialista com países e povos da América Latina e da África.
“É preciso ter uma solidariedade com estes povos. Uma noção de solidariedade além da nacional.”
Tanto Aldo Arantes, quanto Ênio Candotti e Otávio Alves Velho, foram unânimes quanto a necessidade de realização de uma Conferência Nacional sobre a Amazônia, sediada em um dos estados da Amazônia. Essa proposta será encaminhada em forma de moção à Assembleia Geral da 66ª reunião anual da SBPC, para posteriormente ser remetida ao Governo do Brasil.
Da redação com informações da FMG
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