A educação brasileira vive um momento de tensão. Após mais de uma década de transformações com a ampliação do acesso, a democratização da universidade por meio de ações afirmativas e programas sociais, a aprovação inédita de um Plano Nacional de Educação, a ruptura democrática causada pela tentativa de golpe no país está desenhando um cenário de grandes retrocessos.
“O ministério da Educação desse governo interino foi entregue, propositalmente, a um deputado reacionário e radical. Isso demonstra que há uma preocupação deles em desmontar, rapidamente, o início das conquistas e avanços que tivemos nesse setor”, declarou a deputada federal, professora e doutora pela universidade de Berkley (EUA) Margarida Salomão nesta sexta (10) no Congresso da ANPG em Belo Horizonte.
Ela participou de um debate sobre a democratização da educação e do conhecimento científico, junto à representante do Fórum Nacional de Educação (FNE) Analise da Silva e de Victor Mammana, diretor do CTI Renato Archer.
Os pós-graduandos demonstraram sua preocupação com as recentes medidas e posicionamentos do MEC sob o governo Temer. As metas do Plano Nacional de Educação foram defendidas pela professora Analise, do FNE, em sua apresentação. Ela também criticou veementemente, como todo os outros debatedores, o projeto Escola Sem Partido, que ganhou simpatia do atual ministro da Educação logo que assumiu o cargo.
“Nós, do FNE, repudiamos a proposta de uma escola sem pluralismos de ideias. Pensamos que as temáticas como a sexualidade, a religião e a política devem sim estar presentes no ambiente escolar porque, muitas vezes, a omissão da escola nessas questões traz consequências muito negativas”, afirmou a professora.
A deputada Margarida Salomão lembrou que a área da pesquisa também é alvo de ataque do governo golpista, ao representar um projeto de subordinação do país aos grandes centros de conhecimento dos chamados países desenvolvidos. “É uma perspectiva de colonização da nossa ciência”, explicou.
O Congresso da ANPG segue até o próximo domingo (12) na Universidade Federal de Minas Gerais. Além dos debates, também está sendo realizada uma mostra científica com trabalhos de pesquisadores de todo o país e será promovido um ato político em defesa da democracia, com participação dos movimentos sociais brasileiros. Ao final do evento, serão definidos os rumos do movimento de pós-graduandos no próximo período e eleita a nova direção da entidade.
Por Artênius Daniel, de Belo Horizonte