Na manhã desta quinta-feira (11), na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte (MG), teve início a programação do 29º Congresso Nacional da ANPG com a realização do 4º EME “Mulheres cientistas produzindo saberes por um Brasil soberano”.
A abertura da mesa foi feita por Amanda Mendes, diretora de Mulheres da ANPG, e teve participações de Ana Priscila, vice-presidenta da entidade; da professora Isabela Almeida Pordeus, pró-reitora de pós-graduação da UFMG; Thaís Oliveira, coordenadora-geral da APG-UFMG; Carolina Giovannetti, coordenadora-geral da APG-UFMG; Bárbara Ravenna, presidenta da União Brasileira de Mulheres-MG; Karina Morais, coordenadora estadual da Marcha Mundial das Mulheres; e professora Lucinha, da Faculdade de Educação da UFMG.
A pesquisadora Carol Giovannetti falou sobre as dificuldades impostas às mulheres para ascensão na vida acadêmica e exemplificou com a brusca redução da presença feminina nas carreiras da educação básica e do ensino superior. “As mulheres são 80% na educação básica, chegam a mais de 90% no ensino infantil, 97% nas creches, mas no ensino superior isso cai para 47%. Isso demonstra o desprestígio e a luta que as mulheres têm para subir na carreira acadêmica”, afirmou.
Para ela, tal fenômeno evidencia a construção social que localiza a mulher como responsável exclusiva pelos cuidados. “Esse quadro reforça a característica de ligar o trabalho das mulheres aos cuidados, como se vê no caso das creches”.
Segundo Karina Morais, é necessário discutir e modificar o sistema de produção, pois a divisão do trabalho é excludente e não reconhece o trabalho dos cuidados, que é visto como obrigação apenas das mulheres. “É preciso conseguir avançar em políticas públicas que respondam à diversidade das necessidades e especificidades das mulheres. O trabalho reprodutivo e de cuidados não compõe a lógica do modelo econômico atual. Por isso, defendemos que esse trabalho, que diz respeito à sustentabilidade da vida, seja partilhado por todos”, pontuou a dirigente da Marcha Mundial de Mulheres
Para Barbara Ravena, conselheira municipal de Betim e presidenta da UBM-MG, a sociedade reduz as mães a um lugar único e não as reconhece em outros espaços, inclusive na academia e na produção científica, realidade que precisa ser alterada. “A atual geração de meninas está arrombando as portas, porque estão produzindo ciência desde a escola. A divisão sexual do trabalho nos coloca numa caixinha. A violência de gênero com as mulheres mães é maior. Parece que quando você decide ser mãe, não é possível estar em nenhum espaço além de ser mãe”.
Em depoimento pessoal emocionante, a professora Lucinha lembrou as dificuldades de sua infância pobre em Colatina (ES), quando mesmos as escolas públicas não eram acessíveis para as crianças negras do local. “Nós não tínhamos escola. As escolas eram só para os estudantes brancos, filhos das famílias italianas. Com 7 anos eu só estava na escola porque uma comunidade espírita abriu uma salinha lá no morro para nós sermos alfabetizados”, contou, ilustrando o quão improvável era para uma mulher pobre e negra chegar à condição de professora universitária.
“Eu trabalhei 10 anos de empregada doméstica e babá, dos 8 aos 18 anos. A gente não tinha condição nenhuma de sair de lá. Então, quando cheguei na UFMG, por razões inimagináveis, improváveis, no concurso um professor perguntou: como pode alguém de Colatina chegar até aqui? Eu disse a ele: eu fui conduzida por muitas forças, muitas energias, que começaram lá com minha mãe e minha avó lavadeiras”, concluiu.
Concluindo a mesa de abertura do 4º EME, Amanda Mendes relatou que ANPG está participando de um grupo de trabalho, que envolve o governo federal e a sociedade civil, para debater políticas públicas sobre a permanência materna na universidade e na pós-graduação. A intenção é elencar propostas concretas, como acesso dos filhos aos Restaurantes Universitários, criação de centros de referência de combate às violências dentro das universidades, dentre outras políticas que combatam a evasão de mães em razão dos cuidados com os filhos.
O período da tarde deste primeiro dia é reservado a grupos de debates dos seguintes temas: Previdência e mundo do trabalho; Saúde; A história que a História não conta; Estudos Urbanos; Mulheres Cientistas na Política.