Mesa final do 4º EME debate os impactos das tarefas do cuidado e da reprodução na pesquisa das pós-graduandas

No final da manhã desta sexta-feira (12), no auditório da UFMG, ocorreu a mesa de encerramento do 4º Encontro de Mulheres Estudantes da ANPG. Participaram do debate “As tarefas do cuidado e da reprodução da vida na jornada das pós-graduandas” a ex-deputada federal Jô Moraes, a doutoranda em História e ex-vice presidenta da ANPG, Stella Gontijo, e a doula e jornalista Renata Regina.

Jô Moraes abordou as grandes e rápidas mudanças na sociedade atual, que refletem em agravamento das desigualdades sociais e impactam profundamente a vida cotidiana das mulheres. A ex-parlamentar destacou que hoje, mais do que nunca, é necessário buscar saídas coletivas para os dilemas que afligem a todos, especialmente as mulheres. “As pessoas não dependem somente de seu esforço pessoal. A convivência solidária assumiu nova dimensão na vida. A disputa que temos contra a ideologia hegemônica do neoliberalismo é que toda conquista depende do seu esforço pessoal e nós temos que combater essa visão, porque vivemos numa sociedade em que se não houver convivência solidária e políticas públicas do Estado, não teremos melhorias”, apontou

Para Renata Regina, a falta de políticas públicas estruturantes e a cultura meritocrática existente na academia é um dos maiores entraves para que as pesquisadoras tenham evolução na carreira após a maternidade. “Existem pesquisas que demonstram que as mulheres, após terem filhos, produzem menos artigos científicos e têm dificuldades para dar seguimento às pesquisas já em andamento. Elas não encontram suporte, seja pelo período ainda limitado de licença-maternidade, seja pelas cobranças desmedidas. Isso é determinante na carreira acadêmica dessas mulheres ao terem reduzidas suas publicações, porque a meritocracia é muito pulsante no meio acadêmico”, avaliou.

A ex-dirigente da ANPG Stella Gontijo demonstrou que as tarefas dos cuidados e da reprodução são preponderantes para o lugar ocupado pelas mulheres na produção de conhecimento, como se determinadas áreas do saber fossem as “reservadas” a elas. “Nós hoje somos 70% nas grandes áreas da Capes, da Saúde, Linguística, Letras, Artes e Ciências Humanas. Mas somos menos de 30% nas Exatas e nas Engenharias. Isso não é só questão de gosto pessoal, é uma forma como a divisão sexual do trabalho e a nossa responsabilização histórica e estrutural pelos cuidados vai se manifestar, como o lugar que a gente ocupa na produção de conhecimento e na academia”, caracterizou.

Ao final, foi apresentada uma carta produzida no Encontro com 16 pontos de reivindicação para basear as campanhas da ANPG por igualdade de gênero na pós-graduação.