24º CNPG: Painel “Internacionalização e Mobilidade” divide opiniões acerca do CsF

carteira de estudante

CNPG Painel Internacionalização

A experiência acadêmica no exterior é algo que pode agregar muito, tanto no currículo do estudante de graduação e pós-graduação como em sua experiência pessoal. No entanto, faz-se necessário discutir sobre as políticas de fomento à mobilidade acadêmica, como o Ciência Sem Fronteiras, que tem dividido opiniões. O painel “Internacionalização e Mobilidade: CsF, sanduíches e PEC-PG”, realizado na última sexta-feira (2), segundo dia do 24º Congresso Nacional de Pós-Graduandos, teve exatamente esse objetivo.

O debate reuniu o Representante do CNPq/MCT Programa Ciência Sem Fronteiras, Jurandir Fermon Ribeiro Junior, e o reitor da UFPE e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Anísio Brasileiro, que opinaram sobre o assunto para uma plenária diversificada, composta por pessoas de várias regiões do Brasil e dos países Cabo Verde e Guiné-Bissao, do continente africano.

O painel teve início com a apresentação geral do programa Ciência Sem Fronteiras (CsF) pelo representante do CNPq. O programa de intercâmbio do governo federal foi criado em julho de 2011, e tem como objetivos: avançar na ciência, tecnologia, inovação e competitividade industrial através da expansão da mobilidade internacional; aumentar a presença de estudantes e pesquisadores brasileiros em instituições de excelência no exterior; promover maior internacionalização das universidades brasileiras; aumentar o conhecimento inovador do pessoal das indústrias brasileiras; e atrair jovens talentos e pesquisadores altamente
qualificados para trabalhar no Brasil.

Focado em ciências exatas e tecnologia, o CsF é alvo de diversas críticas, como a exclusão da área de humanas. Os pós-graduandos apontaram a questão da exigência da fluência em inglês para a seleção como um dos pontos negativos. Foi dito que este método de seleção acaba por ser um critério meritocrático e elitista que não dialoga com a pluralidade da composição dos estudantes nas universidades. Foi sugerida também a rediscussão das políticas com que são conduzidas as bolsas.

Em seguida, Anísio Brasileiro falou de sua experiência acadêmica, propôs uma conversa entre os pós-graduandos sobre o tema do painel e citou alguns desafios. “O que é internacionalização? Este é um conceito sem definição clara, mas podemos dizer que é um processo que acontece quando a universidade é forte em sua pesquisa e em sua formação da graduação e da pós-graduação”, disse o reitor da UFPE e presidente da Andifes.

Ele também criticou o fato da mobilidade acadêmica se dar majoritariamente em ambiente internacional, e raramente entre universidades do Brasil. “Encaminhamos nossos estudantes para as melhores universidades de outros países, nas áreas mais estratégicas para o país, mas não incentivamos a mobilidade nacional”, disse.

Brasileiro também desaprovou a prioridade que o CsF dá a países da América do Norte e Europa. “Eu acho que nós devíamos ter o Ciência Sem Fronteiras América Latina. Acho que o Brasil comete um grave erro por não cooperar mais institucionalmente com os seus países vizinhos”, opinou. Segundo o reitor, hoje, os principais países para onde os estudantes da Universidade Federal de Pernambuco são encaminhados pelo CsF são, na ordem: Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e França.

Os participantes também quiseram saber acerca do Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG), uma das modalidades de intercâmbio para os pós-graduandos. Administrado conjuntamente pelo Departamento Cultural (DC) do Ministério das Relações Exteriores (MRE), pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o PEC-PG constitui atividade de cooperação educacional exercida entre países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém Acordo de Cooperação Educacional, Cultural ou de Ciência e Tecnologia.

Anísio explicou que os objetivos do programa são: a Concessão de bolsas de doutorado visando o aumento da qualificação de professores universitários, pesquisadores, profissionais e graduados do ensino superior dos países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém Acordo de Cooperação Educacional, Cultural ou de Ciência e Tecnologia. Essas bolsas serão concedidas em todas as áreas de conhecimento nas quais existam cursos de doutorado recomendados ou reconhecidos pela CAPES com conceito igual ou superior a 3 (três) que emitam diplomas de validade nacional.

Ciência Sem Fronteiras

Sem dúvida o tema mais polêmico deste painel foi o programa Ciência Sem Fronteiras, que dividiu a opinião dos participantes. Se alguns achavam que a política do programa de se restringir às áreas de exatas e tecnologia estabelece um equilíbrio, ao impulsionar esses campos que carecem de mão de obra especializada, houve quem discordasse desta ideia.

De maneira geral, os pós-graduandos opostos a essa opinião defenderam que a disputa não pode ser entre as áreas de conhecimento, mas que é necessário olhar do ponto de vista da política nacional para a formação dos quadros de estudantes. Faltar engenheiros é conseqüência de algo que acontece na base da educação.

O reitor da UFPE endossou a ideia da não competição entre as áreas de conhecimento: “Precisamos muito de engenheiros, mas precisamos muito de formuladores de políticas públicas como um todo.”

O representante do CNPq concordou que existem questões no Ciência sem Fronteiras que precisam ser revisadas, mas lembrou que este foi o primeiro programa a propor esse tipo de subsídio para os estudantes de graduação.

“O Ciência sem Fronteiras, que completou quatro anos agora, tem muitos problemas, saiu bem mais caro do que se esperava… Mas, antes dele, nenhum estudante de graduação almejaria ir ao exterior a não ser para fazer curso de inglês por 3 meses. Quando começamos o primeiro processo de seleção dos estudantes, descobrimos o problema de que o brasileiro não sabe falar inglês, um problema de base. Depois, o que é uma instituição de excelência? É difícil definir isso no Brasil”, disse Jurandir.

“Há dois anos, não tínhamos números, agora nós já temos, e identificamos muitos problemas. Buscarmos outros mecanismos para equilibrar a questão”, acrescentou.

Por Natasha Ramos, do Rio de Janeiro