Nota em Solidariedade a Ricardo Galvão e ao INPE

Foi com profunda indignação que recebemos a notícia da exoneração do senhor Ricardo Galvão, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em represália do governo à divulgação de estudo sobre o crescimento do desmatamento na Amazônia. Galvão estava no exercício de seu mandato e, segundo o próprio, o motivo da demissão foi sua resposta às descabidas acusações feitas ao Instituto pelo presidente Jair Bolsonaro.

Esse lamentável desfecho não surpreende, uma vez que tem se tornado prática recorrente neste governo a postura sectária e anticientífica sempre que a realidade objetiva, revelada por estudos com embasamento técnico, desagradam as autoridades. No início do ano, Jair Bolsonaro já havia desqualificado dados do IBGE sobre o índice de desemprego no país.

No caso em tela, com o destempero e o despreparo que têm lhe marcado o mandato, o presidente buscou desqualificar estudo que demonstrou o crescimento de 88% no desmatamento da Amazônia no mês de junho ao acusar o diretor do instituto de “trabalhar para alguma ong”. De maneira altiva, Ricardo Galvão defendeu a qualidade da produção do Inpe e questionou a capacidade de Bolsonaro para desacreditar o levantamento. “Ele já disse que os dados do Inpe não estavam corretos segundo a avaliação dele, como se ele tivesse qualidade ou qualificação de fazer análise de dados”, afirmou.

Alertamos que a demissão arbitrária do diretor pode ser o início de uma escalada persecutória de agentes do governo no instituto. Fontes internas do Inpe ouvidas pela ANPG relatam que há apreensão entre os bolsistas que lá atuam em virtude de represálias prometidas pelo governo em recente coletiva de imprensa convocada por Bolsonaro e ministros para tentar rebater os números do estudo.

Ao tempo em que expressamos nossa total solidariedade ao senhor Ricardo Galvão, aos trabalhadores e a todos os cientistas, pesquisadores e estudantes que constroem o Inpe, conclamamos toda a comunidade acadêmica e científica a defender a universidade pública, os órgãos de fomento à ciência e os institutos de planejamento e pesquisa do Estado brasileiro, que são pilares da produção do conhecimento e do desenvolvimento nacional, mas se encontram ameaçados pelos cortes orçamentários e ataques obscurantistas do governo.

Associação Nacional de Pós-Graduandos – ANPG