44º CONAP debate os próximos desafios aos pós-graduandos e à soberania do país 

Confira como foi o conselho da ANPG que reuniu APG´s de todo o país

Com um olhar sobre o bicentenário da independência do Brasil, comemorado no ano que vem, dentro de um contexto de ameaças de desmonte da Ciência & Tecnologia e da soberania nacional, e necessária defesa da democracia, foi realizado o 44º CONAP (Conselho Nacional de Associações de Pós-Graduandos), entre os dias 10 e 12 de dezembro.

De forma remota, com transmissão on-line, por conta da pandemia da COVID-19, APG´s de todo o país se reuniram entre debates,atividades e grupos de trabalho, para definir os caminhos, as próximas lutas e da ANPG e dos pós-graduandos, ressaltando o importante papel da pesquisa brasileira como saída à crise sanitária,social e econômica.

No centro dos debates, a urgência do reajuste de bolsas de pesquisa, que tem seus valores defasados. A vice-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira do Progresso para a Ciência) e professora emérita da UnB (Universidade de Brasília), Fernanda Sobral, trouxe um dado alarmante.

“As bolsas de pós-graduação estão 60% abaixo do valor de 2003, data do último reajuste”, disse Sobral, que acrescentou que além da reposição do valor, é preciso pensar em melhores estruturas e condições para a pesquisa também.

Assim, na sexta-feira,  primeiro dia do CONAP, a ANPG realizou a entrega de um abaixo-assinado, com 51 mil assinaturas, pelo reajuste das bolsas ao Dr. Evaldo Vilela, presidente do CPNq.

“Me comprometo a levar a reivindicação aos espaços de decisão, entendendo a urgência. Além disso, iremos articular no Congresso para que o reajuste ocorra rapidamente“, afirmou Vilela.  

 

 Orçamento de 2022

Dentro de uma conjuntura de redução de orçamentos para a ciência a ameaça de mais cortes para a Ciência, tecnologia, educação e universidades federais em 2022, também foi tema de debate e alertas, convocando para uma grande mobilização dos pós-graduandos  nas redes e para pressionar parlamentares  contra o desmonte.

Por conta das emendas do chamado “Orçamento Secreto”, há uma previsão de redução de quase R$ 300 milhões nas universidades federais, R$ 126 milhões do MCTI(Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) e mais de R$ 90 milhões nas agências de fomento à ciência, sendo quase R$ 55 milhões referentes à bolsas. 

As informações foram trazidas pelo presidente da ABC (Academia Brasileira de Ciência), Luiz Davidovich.

Crise na CAPES e  VII PNPG 

Impossível falar sobre a Ciência no Brasil, sem citar a crise institucional da CAPES, a debandada de coordenadores e a falta de perspectivas para as avaliações dos cursos.

 Helena Nader, vice-presidenta da ABC (Academia Brasileira de Ciência), que ressaltou a importância da retomada das avaliações de cursos pela CAPES, e fez um apelo ao retorno desses técnicos às suas funções.

“Uma equipe nova, sem a experiência e qualificação desse grupo que já exercia as avaliações, não funcionará adequadamente”, ressaltou.

A professora Adelaide Faljoni Alário, coordenadora da CAPES,  também ressaltou a importância do retorno desses integrantes da comissão. “É preciso fazer um esforço coletivo, entre os coordenadores e a presidência da agência para que a gente possa dar continuidade no trabalho que já vinha sendo construído há quatro anos”.

Além disso, o vácuo entre o fim do VI Plano Nacional de Pós Graduação, que teve vigência em 2020, e a ausência do próximo PNPG, que nem tem sido discutido, foram tratados em um debate.

Para Jorge Audy, relator da Comissão de avaliação do VI PNPG, é preciso  recompor com urgência a comissão do próximo plano. “Esse é o momento que mais precisamos retomar o plano, uma vez que ele pensa o futuro da Ciência, dentro dos contextos que atravessamos e dos desafios exigidos, como a importância das ações afirmativas para equidade na pós graduação e frente a crise sanitária e social”.

Negacionismo

Soraia Smili, ex-reitora da Unifesp e coordenadora do Instituto Sou Ciência, avaliou os impactos negativos que a queda nos investimentos em ciência tem sob o Brasil 

Com os dados apresentados, ficou evidente que os países com mais mortes por Covid-19 são também aqueles que  tem a maior queda no PIB

“Esse é um dos efeitos devastadores do negacionismo à Ciência. O Brasil teve um PIB  negativo em 2021, diferente de outros países, que priorizaram a ciência, o desenvolvimento social e econômico com estímulos fiscais e de liquidez”, avalia.

“Nós não podemos tratar a situação como se estivéssemos em uma normalidade”, observou Pedro Hallal, epidemiologista e ex reitor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas)

Para Hallal existe a urgência em mobilizar para que mais pessoas abandonem a postura de neutralidade e ampliá-la pela defesa da democracia e contra o desmonte.

“4 em cada 5 mortes por Covid-19 poderiam ter sido evitadas. Veja a gravidade desse dado diante da péssima condução contra a pandemia e do negacionismo. O Brasil com o SUS e sua potência para vacinação poderia ter tido uma história muito diferente, senão fosse o projeto em curso. Além de fazer a pesquisa, escrever tese, pesquisadores precisam se posicionar ”, disse.

XXVII Congresso Nacional de Pós-Graduandos

O 44° CONAP  também convocou para  XXVIII Congresso Nacional de Pós-Graduandos, com possibilidade de ser realizado nos meses de junho ou julho de 2022. Conforme estatuto da ANPG, fica a cargo da Diretoria Executiva da ANPG a indicação da Comissão de Organização para viabilização do evento, que poderá ser realizado em São Paulo ou Minas Gerais, presencialmente ou on-line, de acordo com as condições sanitárias que o Brasil estiver atravessando.