Salvar a ciência e reconstruir o país

Dia 16 de Outubro é comemorado o Dia Mundial da Ciência e Tecnologia. Essa data deveria marcar a valorização de cientistas e pesquisadores que constroem o conhecimento e produzem avanços civilizatórios. No entanto, neste ano de 2020, a efeméride acontece em meio a uma contradição: por um lado, a necessidade objetiva de avanço científico para salvar vidas em meio à pandemia; de outro, o crescimento do negacionismo científico como forma de sustentação de governos autoritários.

Se nos países centrais do mundo a reação à pandemia foi ampliar os investimentos em ciência e tecnologia, dando curso inclusive a uma disputa não declarada pela descoberta da vacina, no Brasil o que se vê é a autofagia: o governo Bolsonaro opera, conscientemente, um processo de desmonte da ciência, tecnologia e dos instrumentos de planejamento do Estado.

Desde 2015, o Brasil vem em contínuo declínio nos investimentos em C&T. Os números falam por si: orçamento do ministério foi reduzido de 8,7 bilhões, em 2014, para apenas 2,7 bilhões em 2021, sendo que sob governo Bolsonaro há nítido viés autoritário e revanchista contra a comunidade científica.

Fosse um revés meramente conjuntural, já representaria um problema, mas sendo um desinvestimento continuado, passa a ser uma ameaça para o futuro do país e para a própria soberania nacional. A maior prova disso é a fuga de cérebros, triste realidade que faz do Brasil fornecedor de mão de obra qualificada – e paga com recursos públicos – para fomentar o desenvolvimento de outros países, notadamente aqueles que mais interpõem ao desenvolvimento autônomo da nação.

Portanto, o Brasil faz um movimento de sabotagem à ciência e tecnologia em um momento em que as grandes potências, além da busca pela vacina, já disputam lugar no novo contexto produtivo, marcado pela indústria 4.0, pela nanotecnologia, inteligência artificial e outras inovações. Perder esse passo significa ser relegado ao subdesenvolvimento – e, portanto, à pobreza e desigualdade – por novas décadas.

Diante dessa realidade, a ANPG apresenta à sociedade o Plano Emergencial Anísio Teixeira para a ciência brasileira, buscando recolocar os pesquisadores e ciência como vértices de um projeto reconstrução do país. É disso que se trata: reconstruir um país dilapidado pela crise econômica e divisão política vividas, pelo menos, nos últimos 5 anos.

O Brasil não conseguirá se reerguer de uma crise tão profunda sem a intervenção do Estado nacional na concepção e execução de um plano de médio e longo prazos, um projeto nacional que resgate a necessidade desenvolver de maneira soberana o país, maximizando suas potencialidades e reduzindo suas deficiências, no contexto produtivo atual.

O Plano Emergencial Anísio Teixeira é o instrumento que a ANPG traz para colaborar com o debate para a salvação do sistema de ciência e tecnologia e reconstrução do país.

Flávia Calé, presidenta da ANPG