Aziz Ab’Saber: cientista, humanista e amigo do povo brasileiro

carteira de estudante

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por José Medeiros**

Registro aqui um pequeno testemunho, que revela bem a generosidade humana do Aziz e o esforço para a formação científica do povo brasileiro e a construção de um Brasil mais feliz.

Lembro-me de muitos encontros. O primeiro, na Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) de 1995, em São Luís do Maranhão, cujo homenageado foi o saudoso Darcy Ribeiro. Lembro-me bem de quando Darcy falou: “Aziz é o cientista mais querido do Brasil”.

 

Em 1996, a Reunião Anual da SBPC foi na PUC-SP. Como um dos dirigentes da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) organizei, com a revista Princípios, representada pelo também saudoso Edvar Bonotto, um debate na sala da reitoria sobre o desenvolvimento da ciência e tecnologia em Cuba. O professor Aziz honrou o encontro como um dos debatedores. Lembro-me que o representante cubano o presenteou com um atlas de proporção gigante e encadernação especial. O professor Aziz nos encarregou de cuidar do mapa por alguns dias. Gestos simples, mas de grande contentamento.

 

Na reunião da SBPC de Belo Horizonte, em 1998, fizemos uma homenagem ao professor Aziz Ab’Saber, lançando o NIPAS (Núcleo de Interatividade e Pesquisa Aziz Ab’Saber), um espaço para promover a aproximação entre pesquisadores e trabalhadores que moravam em áreas economicamente desfavorecidas e distantes do cotidiano dos espaços brasileiros produtores de conhecimentos. O empenho da Dra. Cecília de Almeida Salles (PUC-SP), de Edvar Bonotto (revista Princípios) e de Kerison Lopes (UBES) foi determinante.

Esse núcleo se desenvolveu até se transformar no Jardim-Ciência Aziz Ab`Saber. Aliás, tivemos a honra e a felicidade de estar em Natal na 62ªReunião Anual da SBPC de 2010 para comunicar pessoalmente essa homenagem. O Jardim-Ciência terá entre suas missões manter viva entre o nosso povo a memória do professor Aziz.

Foram muitos outros memoráveis encontros, alguns no Instituto de Estudos Avaçados da USP. Em um deles, ocorrido em 17 de junho de 1998, e do qual participaram Fábio Palácio (então diretor da ANPG), Ronaldo Carmona (estudante) e Fernando Garcia (estudante da PUC), Aziz aceitou o convite da ANPG para participar do 1º Encontro de Jovens Cientistas. A atividade seria realizada na 62ª RA da SBPC em Natal, no mês seguinte, em parceria com o Núcleo Temático da Seca e Semi-Árido da UFRN.

  Aziz Ab’Saber em reunião no Instituto de Estudos Avançados da USP com Fábio Palácio (então diretor da ANPG) e Ronaldo Carmona (estudante. Junho de 1998.

Na ocasião, Aziz demonstrou grande contentamento pelo convite e afirmou que, além de ser muito rica culturalmente, a Reunião de Natal propiciaria conhecimento sobre os ecossistemas do Sertão. Como sugestão de leitura para a Reunião, indicou Os Sertões, de Euclides da Cunha, ressaltando que a juventude deve estar preparada para discutir questões relativas ao Nordeste.

O debate em Natal seria coroado de sucesso. Aziz discorreu sobre o Nordeste seco em palestra intitulada “Aspectos sociais e físicos do Sertão”. O presidente de honra da SBPC afirmou, na ocasião, que a vitalidade da SBPC está na juventude, que vinha participando das reuniões anuais com muita vontade de discutir as questões da ciência e do país. “Vocês, jovens, é que são a SBPC de amanhã”, afirmava sempre.

 

Houve ainda diversos outros encontros, nos corredores da USP, na sua casa, palestras, conferências. Não escondo, enquanto muito jovens admiravam pessoas do mundo pop, eu admirava, lia e ouvia com atenção as reflexões e sugestões científicas do professor Aziz.

 Aziz Ab’Saber durante o 1º Encontro de Jovens Cientistas, atividade ocorrida no âmbito da 50ª RA da SBPC (Natal, 1998). À dir. de Aziz, de óculos, José Medeiros. À esq. a ex-diretora da ANPG, Ana Maria Prestes.

 

Aziz admirava os jovens, acreditava nos jovens e tinha plena consciência de que qualquer transformação profunda no Brasil só poderia ocorrer com a participação ativa de nossa juventude. Compreendo bem o porquê de sua dedicação ativa para divulgar conhecimentos científicos para nossa juventude. Ele nos amava e nos acolhia como um bom pai. Mesmo se éramos circunstancialmente ignorantes em alguns conhecimentos, Aziz nunca nos desprezava. Nos incentivava sempre. Olhava a juventude com um olhar paciente e generoso, pois bem sabia que “cada ser, em si, carrega o dom de ser capaz e ser feliz”.  Por tudo isso, estou com muitas saudades, muitas saudades. Mas aprendi, que “amigo é coisa pra se guardar… dentro do coração”. E, aqui da China, junto minhas lágrimas às de muitos brasileiros, especialmente seus familiares. Mas bem sei que sua memória continuará em nós.

**José Medeiros da Silva, ex-presidente da ANPG é professor de Língua Portuguesa no Instituto de Comunicação de Hebei, China.

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