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*Carlos Eduardo Lins da Silva é livre-docente e doutor em Comunicação pela USP e mestre pela Universidade Estadual de Michigan. É presidente do Conselho Acadêmico do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da UNESP, editor da revista Política Externa e diretor do Espaço Educacional Educare. Artigo publicado na edição de maio da revista Unesp Ciência
A FAPESP realizou no dia 16 de abril em seu auditório debate sobre como as atividades científicas vêm sendo tratadas por veículos jornalísticos. Durante todo o dia, mesas compostas por um cientista e um jornalista trataram do tema.
A abertura foi feita por Clive Cookson, editor de ciência no Financial Times há mais de duas décadas e considerado como um dos principais especialistas nesse tema no mundo. A palestra de Cookson, assim como as de outros participantes, aponta uma melhora constante e progressiva no tratamento de temas de ciência pela mídia em geral e especificamente a brasileira, mas há ainda muitos problemas a serem enfrentados. Em geral, eles são os tradicionais: sensacionalismo, exagero, negatividade, engajamento político-partidário e, em particular, a inconciliável diferença sobre o tempo que há entre as atividades jornalística (em que sempre se busca por resultados rápidos) e científica (necessariamente mais lenta).
A enorme polêmica que cerca as atividades jornalísticas no Reino Unido desde o escândalo do jornal News of the World, pego em flagrante cometendo crimes para obter notícias, pode ter efeitos positivos para o jornalismo em geral, inclusive o científico, na medida em que ela está exigindo dos profissionais de imprensa uma intensa revisão de seus procedimentos éticos. Seria importante se as reflexões que vêm sendo realizadas coletivamente na Grã-Bretanha respingassem em outros países, inclusive no Brasil.
Entre os aspectos positivos realçados no seminário, um dos mais relevantes é a crescente disposição da comunidade científica em colaborar mais com os jornalistas na divulgação de seu trabalho, o que não era muito comum até pouco tempo atrás. Nesse sentido, é importante que as entidades públicas de financiamento e de controle da produção científica incentivem, na medida do possível, os cientistas a tornarem público para a sociedade o resultado de sua produção.
Embora haja otimismo mais ou menos consensual em relação ao futuro, a crise econômica e de modelo de negócios que a indústria do jornalismo vem enfrentando há pelo menos 20 anos tem causado dificuldades e elas tendem a crescer. Durante o seminário da FAPESP, por exemplo, foi anunciado que um dos poucos grandes jornais brasileiros que mantinham uma editoria específica para este assunto, a Folha de S. Paulo, resolveu fundi-la com a de saúde. Cookson relatou que, também no Reino Unido e na Europa Ocidental como um todo, a crise dos veículos de comunicação tem imposto sacrifícios materiais às editorias de ciência, o que causa grande preocupação quanto ao futuro.
O ecólogo Thomas Lewinsohn, da Unicamp, um dos palestrantes, ressaltou a importância do jornalismo científico na educação científica da sociedade e destacou algo que raramente é percebido nessas análises: essa educação também se aplica a cientistas, já que praticamente todos eles conhecem muito bem a sua especialidade, mas são quase tão leigos quanto a população em geral em relação às demais e também precisam de tradução para entendê-las. Lewinsohn instigou os jornalistas a exercerem o papel de “auditores” da ciência, para o qual – julga ele – não é necessário ser um especialista em nenhum campo do conhecimento: basta sempre verificar se o cientista a respeito de quem vão escrever tem um bom currículo Lattes, se ele é bem citado, o que os colegas pensam dele e de seu trabalho.
Em especial nesta segunda década do século 21, a importância da divulgação científica é indiscutível, pelos mais diversos motivos, inclusive pela crescente consciência coletiva de que se a sociedade paga pela pesquisa, ela tem o direito de saber o que resulta dela.